GAZETA DO POVO
Gazeta do Povo - 40.ª página Curitiba, terça-feira, 23 de agosto de 1994
Brasil pode importar o agente laranja
O desfolhante que ficou conhecido como "agente laranja" e foi utilizado como arma química pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã, poderá ser importado da Bolívia pelo governo brasileiro para servir de pesticida. A denúncia foi feita ontem pelo engenheiro agrônomo Reinaldo Skalisz, presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária (Amar), que já encaminhou ofício ao presidente Itamar Franco sugerindo a revogação do ato, diante dos perigos oferecidos pelo produto. Ele lembrou que há cerca de dez anos foi desautorizada a comercialização do "agente laranja" internamente.
A nova liberação para a importação da fórmula faz parte do Decreto 1.244, item 14, das preferências outorgadas ao Brasil, publicada no Diário Oficial da União de 16 de agosto de 1.994. Por conter uma impureza altamente tóxica denominada dioxina, segundo Reinaldo Skalisz, o pesticida à base do "agente laranja" pode provocar sérios danos ao meio ambiente, com conseqüências à qualidade dos alimentos e acabando por produzir riscos graves à saúde. No Vietnã, alertou, ainda existem pessoas com seqüelas de doenças genéticas cuja causa principal foi o agente.
Todos estes pontos são citados pelo engenheiro no documento que enviou ao presidente Itamar Franco. Ele reconhece que pela Portaria 326 o governo se compromete em programas especiais a estabelecer um limite de liberação da dioxina, admitindo até 0,1 miligrama por quilograma do produto técnico. Mas duvida que exista laboratório no país capaz de análise sobre o controle de liberação em formulações de agrotóxicos, alimentos e solo.
Reinaldo Skalisz questiona ainda quem garantirá que os alimentos produzidos nas áreas onde for utilizado o poderoso agrotóxico não estarão contaminados; e quem assumirá a responsabilidade pelo eventual nascimento de uma criança com má formação genética. Por estes motivos ele sugere a revogação do ato presidencial, dando vez à uma sindicância no Ministério da Agricultura, Saúde e Ibama para descobrir os fatos que geraram a medida.
HISTÓRICO
O Engenheiro lembrou que após terminada a guerra do Vietnã estoques do "agente laranja" (denominação herdada pelo fato dos tambores que continham a fórmula possuírem uma tarja laranja) foram armazenados em países do Terceiro Mundo e chegaram a ser utilizados como pesticidas, até que se descobriu seus efeitos. Por esta razão aconteceu a proibição no Brasil.
Em nível interno o agente laranja chegou a ser comercializado com as seguintes denominações: Tordon 155; U-46; Bruskiller; entre outras. Como agora, a maior aplicação sempre foi em pastagens.
No documento, além de resumir tais pontos, o presidente da Amar historiou o que chama de descaso na área dos agrotóxicos, por pressão dos grupos multinacionais que atuam no setor. Como exemplo citou produtos proibidos em seu país de origem mas concorrentes com nossos produtos agrícolas no mercado internacional, tornando vulnerável o segmento.
Gazeta do Povo, Curitiba, terça-feira, 23 de agosto de 1994
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