terça-feira, 18 de abril de 2017

05.11.1969 ─ VJX DA VARIG TOMOU O RUMO DE HAVANA

1.º Caderno                              CORREIO DA MANHÃ, quarta-feira, 5 de novembro de 1969                              5




VJX DA VARIG TOMOU O RUMO DE HAVANA
PREOCUPADA


Armado de revólveres, um grupo de jovens, com idades oscilando entre 18 e 20 anos, seqüestrou, na tarde de ontem, o Boeing 707, prefixo PP-VJX, da Varig, que voava de Buenos Aires para Santiago, com 89 passageiros e 13 tripulantes a bordo.

Sob ameaça das armas, o pilôto foi obrigado a descer no Aeroporto de Pudahuel, na Capital chilena, onde o aparelho foi reabastecido para seguir viagem rumo a Cuba, onde chegou às primeiras horas de hoje. No aeroporto chileno, os seqüestradores permitiram que o casal brasileiro Maurílio Ragnier Menichelli e sua esposa, Maria de Lourdes, descessem do avião, porque a mulher ─ grávida de sete meses ─ precisou de socorros médicos imediatos.

MULHER

Segundo relato de um oficial da Fôrça Aérea chilena, que se encontrava de serviço no Aeroporto de Pudahuel, no momento em que desceu o avião, foi ouvida pela tôrre de comando uma conversa entre o comandante do aparelho seqüestrado e os jovens. Da conversa, depreende-se que são sete os seqüestradores, e que entre eles existe uma mulher, aparentemente chefiando as ações.

Pablo Hamilton, gerente da Varig no Chile, informou aos jornalistas que os seqüestradores dominaram o avião 30 minutos depois que este decolou do Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, rumo a Santiago. A aeronave estava em sua última etapa do vôo entre Frankfurt e Santiago, tendo feito escalas em Lisboa, no Rio e na Capital argentina.

Segundo o depoimento de Hamilton, "os seqüestradores são cinco, quatro homens e uma mulher. Quando se apoderaram do avião o pilôto deu ordens para que o almôço fôsse servido imediatamente. Os jovens procuraram ser cordiais com os passageiros, pedindo desculpas pelos transtornos que causavam."

Quanto à mulher, Hamilton afirmou que "segundo uma notícia de bordo, ela aparenta ter entre 17 e 18 anos, é bonita, e de vez em quando cantava e brincava com os passageiros".

"Pelo que pude saber ─ concluiu Pablo Hamilton ─, os seqüestradores eram argentinos, pois falavam com sotaque argentino."

ESCALA

Depois de se apoderarem do avião, os seqüestradores fizeram-no descer em Pudahuel, às 15h40m. Já avisado pelo comandante, o operador da tôrre de comando anunciou: "Por ora, temos poucos detalhes. A única coisa de que sabemos é que os seqüestradores não permitem que os passageiros desçam do avião e que é possível que façam nova escala em Lima, antes de desembarcar em Havana."

Em seguida, pelo rádio, os jovens obrigaram as autoridades ao aeroporto a reabastecer o avião, sob ameaça de matar o pilôto e o co-pilôto. Pouco depois, um casal desceu do aparelho sob a mira das armas, e a porta logo se fechou novamente. O casal foi cercado pelos policiais e impedido de falar. Mais tarde, verificou-se que a permissão fôra dada aos brasileiros Maurílio Ragnier Menichelli e à esposa, Maria de Lourdes, que espera um filho para os próximos dias e, passando muito mal dentro do aparelho, teve de ser levada a um hospital. O avião ainda permanecei no aeroporto durante quase duas horas, estacionado junto à tôrre de contrôle, com as portas hermeticamente fechadas. Depois de abastecidos os tanques com quase 60 toneladas de combustível, o pilôto começou as manobras para a decolagem, anunciando que uma nova escala para reabastecimento poderia ser feita em Lima, no Peru. Em seguida, às 17h20m., levantou vôo, sem ser molestado. Mais tarde, às 20h35m, hora de Brasília, o aeroporto de Lima anunciou que o Boeing sobrevoou a cidade às 20h35m, voando a 10.500 metros de altitude, com destino a Havana.

PASSAGEIROS

Entre os 89 passageiros que viajavam a bordo do PP-VJX, figuravam Mario Caraciolli, diretor do jornal chileno El Mercurio, e o adido naval da Embaixada do Chile na Argentina, comandante Hugo Oyarzun. Este último pediu aos seqüestradores que o deixassem descer também em Santiago, pois viajava de Buenos Aires para assistir aos funerais de sua mãe, falecida anteontem. A autorização foi negada. Também entre os que viajavam estava o cantor popular uruguais Gervasio. Muitas jovens que o esperavam no aeroporto, protestaram ruidosamente contra o seqüestro do seu ídolo.

À noite, a Varig divulgou a lista completa de passageiros e tripulantes que estavam a bordo do Boeing. Entre os que embarcaram no Rio figuravam sete brasileiros, nove chilenos, quatro norte-americanos, dois suíços, um colombiano e um italiano. São os seguintes os passageiros embarcados no Rio: Silvia Magrit Burni, Alfred Burni, Luiz Gonzaga Xavier Pittas, Rosa Maria Isabel Corbett Huddobro, James Anthony Shannon, Isabel Marie Shanon, Maria Isabel Riera Martinez, Lilia dos Santos, Giovanni di Napoli, Uldarícia Constancia Canobra Corbet, Arno Mathias Pesch, Alberto Adilio Alicera Pena, Ruben Clodomiro Soto Cespedes, Helio Edwal de Salles Lopes, Nelson José Olave Pena, José Ernanne Pinheiro, Pamela K. Kappmeyer, Erivan Alves de Araújo, Wilem Antonius Neefjes, Irene Posada Morales, Francisco Javier Munizaga Villavicenci, Duane Ellis Welch, Patricio Cox Urrejola e Margarita Vital Castillo.

Entre os 55 passageiros que embarcaram em Buenos Aires figuram  16 chilenos, 11 brasileiros, nove argentinos, dois peruanos e dois colombianos.

Uma lista fornecida pela Varig em Buenos Aires indica além disso que no aparelho se encontravam quatro norte-americanos, três espanhóis, um britânico, um mexicano, um uruguaio e um venezuelano.

Passageiros embarcados em Buenos Aires: M. Costa, Santacruz, S. Klen, Dujour, J. Casteleiro, Fachette, R. Junqueira Prado, L. Junqueira Prado, M. Menegal, M. Menegal, M. Alanis, H. Ollarsun, M. Duchols, M. Cifuentes, J. Gallay, B. Dubinousky, E. Kleimens, R. Torrealba, N. Rincon, L. Perez, T. Vivanco, P. Iglesias, M. Lewyshon, J. Motles, V. Rallo, E. Aruena, O. Barria, J. Crottogini, R. Burns, D. Burns, M. Kaplan, J. Schteinger, Schteinger, Robertson, V. Elorrieta, V. Constantines, J. Edwards, J. Lamarque, R. Murillo, A. Pizza, F. Samarone, DeSouza, J. Motta, D. Papo, S. Costabal, M. Caraciol, F. Gimenez, C. Campos, P. Pizzoli, L. Sartoriz, K. Zales S. Montes, Valbuj, J. Dimitru, H. Romero, M. de Feltman.

É a seguinte a tripulação do Boeing seqüestrado: comandante ─ Geraldo Werner Knippling; 2.º comandante ─ Abel Flores; co-pilôto ─ Alfredo Sampaio; engenheiro de vôo ─ Eiji Tookuni; 1.º comissário ─ Eduardo Enfato; comissários: Valmor Boock Eliezer de Oliveira, Raya Paulo Pereira, Aldo Rodrigues Neto, Antônio Eduardo de Souza; aeromoças: Shirley Wisse e Arlete Marylene Annequim.

Espôsa de Flôres apreensiva

SÃO PAULO (Sucursal) ─ Nervosa, preocupadíssima, pois somente às 20h30min de ontem teve notícias do marido, d. Márcia Miranco Flôres, espôsa do co-piloto Abel Flôres, disse que êste saíra de sua residência, na Av. Ceci, 1.318, no Bairro de Indianápolis, nesta capital, às 22h, de domingo último, para dirigir-se diretamente ao Rio de Janeiro, onde permaneceu na reserva até anteontem, quando surgiu o vôo para Santiago do Chile, no qual se deu o seqüestro. Depois dêsse vôo, o comandante Flôres deveria seguir para Los Angeles.

BOM PILÔTO

O comandante Abel Flôres, nascido em Passo Fundo, R. Grande do Sul, tem atualmente 43 anos de idade e 21 de aviação, estando na VARIG há 14 anos. Serviu como instrutor de pilôtos, foi pilôto da Aerovias e atualmente é comandante. Possui quatro filhos: Jairo Miranco Flôres, de 5 anos, Cláudio e Cláudia Miranco Flôres, gêmeos. 3 anos e Rubem Miranco Flôres, de 2 anos de idade.

BOA NOTÍCIA

Eram exatamente 0h38min quando um colega do comandante Flôres bateu à porta de d. Marcia Miranco Flôres a espôsa. Cumprimenta-a e diz "tudo bem com o Flôres, faleo com êle há poucos minutos, e dentro de 1h30min estará em Cuba". Esta notícia mudou totalmente o semblante de dona Márcia, que até aquela hora se mostrava nervosa e respondendo as perguntas com certa dificuldade.

Reserva viajou de última hora

Um dos tripulantes que não foi citado na lista fornecida pela VARIG é o comissário José Elias Chade, de 27 anos, casado com a sra. Vany Castanheira Cruz Chade, residente em Niterói.

O comissário José Elias, segundo declarou o seu sogro, Walner Gomes Cruz, funcionário da Prefeitura Municipal de Niterói, "embarcou inesperadamente, pois estava na condição de reserva. José Elias deixou a espôsa meio adoentada, mas não confirmou a sua viagem, só embarcando na hora em virtude da ausência de um companheiro de tripulação."

A reportagem do CORREIO DA MANHÃ localizou num subúrbio carioca a irmã do comissário José Elias, que disse:

─ Estamos todos aqui aflitos. Minha cunhada está doente e ainda não sabe que o marido viajou. Estamos realmente traumatizados com tudo o que aconteceu ao meu mano. Só peço a Deus que êle volte são e salvo.

O comissário José Elias é funcionário da VARIG há mais de cinco anos e tem uma filha, de nove Vina Carla, de apenas oito meses.

Aeronáutica divulga nota oficial

O Ministério da Aeronáutica divulgou ontem a seguinte nota oficial sobre o seqüestro:

"O Serviço de Relações Públicas do Ministério da Aeronáutica comunica que, hoje, a aeronave (Boeing 707) da VARIG, de prefixo PP VJX, vôo 863, quando voava de Buenos Aires para Santiago, foi seqüestrada por elementos desconhecidos, que obrigaram seus 89 passageiros, inclusive uma criança de colo, a permanecer a bordo, durante o tempo em que estêve em Santiago para reabastecimento, decolando em vôo direto para Cuba. Foi permitido apenas o desembarque nesta Capital do sr. Maurício Menichelli e sua espôsa grávida. A tripulação é constituída de 13 tripulantes. (Ass.) Tenente-Coronel Aviador Isberty Collis Garcia, Chefe de Relações Públicas".

A VARIG divulgou a seguinte nota oficial:

"A VARIG comunica que o seu Boeing 707, prefixo PP-VJX, quando realizava a etapa Buenos Aires-Santiago do Chile, do vôo 863, segundo informações recebidas de bordo, foi forçado a desviar sua rota, a partir de Santiago, tomando o rumo de Cuba. Encontravam-se a bordo 101 pessoas, sendo 12 tripulantes e 89 passageiros, dos quais 36 embarcados em Buenos Aires, e os demais no Rio de Janeiro, Europa e Estados Unidos. A Diretoria da VARIG está em contato com as autoridades brasileiras para que seja dada tôda a assistência aos passageiros e tripulantes."


1 No início da tarde, as emissoras de rádio de Santiago do Chile suspendiam seus programas habituais para informar que um avião de passageiros da Varig fôra seqüestrado entre Buenos Aires e aquela cidade.


2 No aeroporto de Podahuel e nos escritórios da companhia, funcionários informaram que às 14h30min (hora local) chegaria um avião da Varig a Santiago, mas que não possuíam informações sôbre o seqüestro.

3 Confirmado o seqüestro, logo depois, funcionários da emprêsa disseram que, de acôrdo com comunicação do comandante, o avião aterrisaria para abastecimento em Santiago e continuaria até Havana.

4 O avião pousou em Santiago às 15h30min locais. Antes do pouso, o comandante confirmou que um dos seqüestradores lhe dissera que deviam dirigir-se para Havana após o abastecimento.

5 Durante quase duas horas, o avião permaneceu estacionado ao lado da tôrre de contrôle do aeroporto, com suas portas fechadas. Segundo as informações do comandante, cinco jovens, inclusive uma mulher, mantinham passageiros e tripulantes sob guarda, armados com pistolas calibre 45.

6 Abastecido, o avião levantou vôo para Havana às 17h30min.

7 Às 23h35min (20h35 de Brasília), e o Boeing sobrevoava Lima. O comandante informou à tôrre de contrôle que estavam a 10.500 metros de altitude e que "tudo era normal" a bordo.

PROJETO CONTRA OS
SEQÜESTRADORES DE
AVIÕES ESTÀ NA ONU

O ministro interino das Relações Exteriores, sr. Mozart Gurgel, está em Brasília, em conferência com o Presidente da República, enquanto o sr. Mário Gibson Barbosa, recém-empossado, está em Washington, presente à XXIV Assembléia da ONU, cuja agenda prevê a discussão do problema dos seqüestros aéreos, projeto patrocinado pelo Brasil, e por mais dez outros países: Argentina, Bélgica, Canadá, Equador, Luxemburgo, Madagascar, Lesoto, Nova Zelândia, Países Baixos e República Dominicana.

JURISTA AFIRMA QUE
PAÍSES DEVEM DECIDIR

O professor Haroldo Valadão, precursor dos estudos sôbre pirataria aérea no Brasil, está convencido de que sómente uma convenção internacional poderá acabar com os numerosos casos de seqüestro de aeronaves.

─ Os piratas iriam sendo processados pelos países em cujos aeroportos fôssem poucos, de acôrdo com as leis vigentes, inclusive prevendo-se a extradição dos seqüestradores.

O professor Haroldo Valadão, consultor-jurídico do Iramarati e autor do projeto sobre pirataria aérea que o Brasil assinou juntamente a outros dez países, disse ainda que todos os países deveriam revisar seus códigos penais prevendo os casos de seqüestro, tal como fêz a Argentina, em 1968, e os Estados Unidos, há oito anos.


CONVENÇÃO

O professor Celso de Albuquerque Lelo observou, por sua vez, que não há nenhuma regulamentação internacional que realmente reprima a chamada pirataria aérea. Na realidade, a denominação de pirataria aérea para êsses crimes é usada por extensão, uma vez que não constitui um ato de pirataria propriamente dita. A chamada pirataria aérea é um crime de direito comum, tendo em vista que cada Estado tem o direito de qualificar o delito e seus autores acabam por gozar de asilo territorial.

Uma convenção em Tóquio discute a repressão de crimes a bordo de aeronaves, mas deixou para cada Estado a punição dos delitos dessa natureza.

O professor José Teixeira de Souza disse que o problema da responsabilidade civil no caso de seqüestro de aeronave é nôvo no campo do Direito. "Alguns entendem que a emprêsa seja responsável ─ disse o jurista ─ mas na minha opinião a emprêsa não pode ter inteira responsabilidade, de vez que o problema resulta de um ato criminoso e independente da sus vontade."


D. Márcia, espôsa do pilôto Flôres, está apreensiva

Pilôto é "homem duro"

─ É um homem duro. Não gosta de ceder nunca.

Assim, todos que o conhecem definem o comandante do Boeing seqüestrado, Gerald Werner Knippling. Alguns pilotos da Varig estavam até mesmo apreensivos, pensando na possibilidade de êle reagir aos que o atacaram e, desta maneira, sofrer represália. "Se êle cedeu foi porque não havia mesmo outra alternativa" ─ comentou outro.

Os serviços de Propaganda e Relações Públicas da Varig continuam numa agitação muito grande, recebendo telefonemas até do estrangeiro, de familiares dos passageiros do aparelho seqüestrado. "Continuando assim teremos de inaugurar em breve uma assessoria de seqüestros" ─ brincou uma funcionária.


PREJUÍZOS

O preço total do Boeing seqüestrado é de 8 milhões e 300 mil dólares, estando segurado em sua totalidade. O prejuízo da companhia é de 2.100 dólares para cada hora de vôo depois de Santiago do Chile, sem contar os gastos extras com os passageiros, tripulantes e o tempo em que o aparelho fica fora do serviço normal. O tempo de vôo de Santiago a Havana é de 7h30min, e capital cubana até o Rio ..... 6h30min, perfazendo um total de 14 horas extras voadas, que equivalem a um prejuízo de 29.400 dólares.

A direção da Varig pretende trazer o aparelho para o Rio tão logo seja liberado pelo govêrno cubano. O regresso deverá ser direto porque o Boeing tem uma autonomia de vôo de 13 horas e o percurso pode ser coberto em pouco mais de 6 horas.


"Melhor seqüestro que desastre"

PÔRTO ALEGRE (Sucursal) ─ A porta da casa de n.º 949, da Rua dos Mostardeiros, residência do comandante Geraldo Werner, seus filhos Guilherme, de treze anos, e Marjorie, de seis, aguardam a chegada de sua mãe, dona Aymar. Às 19h25min, ela aparece na calçada fronteiriça e, ao ver os fotógrafos e repórteres, uma forte preocupação transparece em seu rosto. Dona Aymar apressa-se e logo pergunta, aflita, o que havia acontecido. Imediatamente, sua filhinha Marjorie salta-lhe nos braços e exclama: "Mamãe nem sabe o que houve com o avião do papai." Ao ouvir aquilo, dona Aymar olha para todos, interrogativamente, enquanto a filha volta a exclamar: "Seqüestraram o avião do papai." A espôsa do comandante Werner abre um sorriso e diz: "Ainda bem que foi isto. Pensei que se tratasse de algo mais grave. A única coisa que desejo é que êle volte para minha companhia e de meus filhos, são e salvo."

O comandante Geraldo Werner Knippling, nasceu em Pôrto Alegre no ano de 1922. Aos 16 anos iniciou suas atividades na aviação, brevetando-se em 1939. No ano seguinte tornou-se instrutor de pilotagem na VAE (Varig Aero Esporte). Em 1941 venceu o Circuito Aéreo de Pôrto Alegre, disputando por ocasião da Semana da Asa. Em 1943 foi aos Estados Unidos, onde fêz o curso de pilôto comercial por instrumentos, ingressando no ano seguinte no quadro de comandantes da Varig. Estava na época, com 21 anos de idade, e era o comandante mais jovem do Brasil.

Em 1949 foi nomeado pilôto-chefe, cargo que exerceu até 1954, tendo ocupado, interinamente, o pôsto de diretor de operações da companhia. Em 1953 fêz nôvo curso nos Estados Unidos, o que lhe permitiu trazer, dois anos depois, o primeiro Super-Constellation para o Brasil. Em 1959 fêz na França o curso de Caravelle, ocasião em que trouxe o primeiro dêles para o nosso país.

Em 1960, após curso nos Estados Unidos, pilotou o primeiro Boeing-707, realizando o vôo direto Nova York ─ Pôrto Alegre em 9h33min, recorde até hoje entre as duas cidades. Fêz também várias viagens presidenciais ao estrangeiro, e é possuidor da Medalha do Mérito Aeronáutico. O comandante Werner voa, ininterruptamente, desde 1944, tendo acumulado, até hoje, 24 mil horas, equivalente a 16.800.000 quilômetros, que correspondem a 450 voltas ao redor do mundo ou 22 viagens de ida e volta à Lua.

Recentemente, durante a Semana da Asa, o comandante Werner, que acaba de completar 25 anos como comandante da Varig, foi homenageado pela emprêsa com uma placa (um brevet de comando em ouro e prata) alusiva ao acontecimento. A cerimônia contou com a presença do sr. Erik de Carvalho, presidente da companhia, além de diversas autoridades. O comandante Geraldo Werner Knippling inclui-se entre os pilotos mais experimentados do mundo, revelando em tôda sua carreira uma extraordinária vocação aviatória.


128 brasileiros
já seqüestrados

Com o seqüestro de 89 pessoas que viajavam a bordo do Boeing-707 da Varig, eleva-se a 128 o número de passageiros de aviões brasileiros levados para Cuba, . já que o Caravelle, da Cruzeiro do Sul, seqüestrado a 8 de outubro passado, viajava com 39 passageiros. O seqüestro de ontem fêz subir a nove o total de aviões sul-americanos desviados em suas rotas nos últimos meses.

Sessenta e sete aviões já foram seqüestrados êste ano. Dêles 49 foram levados para Cuba. No ano passado, a lista iniciou-se com um DC-8 norte-americano, levado para Havana com 109 passageiros. Em seguida, o noticiário sôbre seqüestros registrou, dentre outras, as seguintes ocorrências:

29 de fevereiro: um táxi aéreo norte-americano.
5 de março: um DC-4 da Avianca.
12 de março: um DC-8 norte-americano. Voava de Miami para São Francisco.
29 de julho: um aparelho da Southeast Airlines. Ia para Miami.
7 de outubro: um avião mexicano com 13 passageiros.
23 de outubro: mais um táxi aéreo norte-americano.
7 de novembro: piratas aéreos apoderaram-se de um bimotor das Linhas Aéreas Filipinas. A intenção era o roubo aos passageiros.
3 de dezembro: um Boeing norte-americano. Fazia a rota de Miami.

Êste ano, a primeira operação levada a efeito ocorreu a 2 de janeiro, e o aparelho não foi levado para Cuba. Era um DC-6 da Olimpic Airway, de propriedade de Aristóteles Onassis, que pousou no Cairo. Outros registros de 1969:

8 de janeiro: um DC-4 da Companhia Aérea Colombiana Avianca. Vinha de Bogotá.
20 de janeiro: um DC-8 da Airlines e também um jato da Liñas Equatorianas, ambos levados para Cuba.
31 de janeiro: um DC-8 da National Airlines. O avião ia para a Flórida.
11 de fevereiro: um jato da Companhia Aeroposta Venezuelana.
25 de fevereiro: um avião da Eastern Line, quando voava de Atlanta para San Juan de Pôrto Rico.
5 de março: um Boeing-707, com 26 pessoas a bordo.
5 de maio: um aparelho da National Airlines, com 75 passageiros. Ia com destino a Miami.
27 de maio: um avião da Northeast Airlines. Também ia para Miami.
25 de junho: um aparelho da Eastern Airlines, com 104 passageiros.
28 de junho: um avião da United Airlines. Voava de Los Angeles para Nova York.
4 de agôsto: um avião comercial colombiano é levado para Havana.
14 de agôsto: foi a vez de um jato da Comercial Northeast, quando voava de Boston para Miami.
16 de agôsto: mais um aparelho da companhia Aérea de Aristóteles Onassis é seqüestrado em pleno vôo. Desta vez, o avião foi forçado a pousar na Albânia.
17 de agôsto: um avião da Northeast, com 52 passageiros, foi levado para Cuba. Fazia a rota Boston─Miami.
23 de agôsto: um avião da Aerolineas Colombianas foi desviado para Havana.
29 de agôsto: um avião norte-americano é seqüestrado quando voava entre Roma e Atenas. No mesmo dia, um aparelho da National Airlines foi obrigado a pousar em Cuba.
6 de setembro: 13 homens armados de metralhadoras seqüestraram um DC-3 da Fôrça Aérea do Equador.
8 de outubro: é seqüestrado o Caravelle da Cruzeiro do SUl, quando fazia a rota Belém─Manaus. No mesmo dia, ocorreu o seqüestro do Boeing-707 da Aerolineas Argentinas, quando voava entre Buenos Aires e Miami. Ambos foram levados para Cuba.
9 de outubro: um DC-8 da linha Los Angeles─Miami também é levado para Cuba, com 70 pessoas a bordo.
1 de novembro: um fuzileiro naval norte-americano seqüestrou um avião quanto êste voava entre São Francisco e Los Angeles, levando-o para Roma.


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Correio da Manhã, quarta-feira, 5 de novembro de 1969

sábado, 8 de outubro de 2016

31.08.1977 ─ Morre um herói



CIDADE COMOVIDA COM A HISTÓRIA DE UM GESTO FATAL

Morre um herói

Morreu, ontem, no Hospital das Forças Armadas, o Sargento do Exército Sílvio Delmar Hollembach, que o sentimento da população de Brasília logo identificou como 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

20.08.1977 ─ Tragédia no Zoológico



Tragédia no Zoológico

Seis ariranhas do Jardim Zoológico de Brasília quase devoraram no último fim de semana, uma criança de 13 anos de idade, ─ e um sargento do Exército. O menor Adilson Florêncio da Costa, residente na QE-7, bloco L, apartamento 205, passa bem no Hospital Santa Lúcia, enquanto o Sargento Sílvio Delmar Holenbach, SQS 112, A, 302, internado no Hospital das Forças Armadas, encontra-se em estado grave.

Ontem, ainda no S.O.S. do Hospital Santa Lúcia, Adilson recebeu a reportagem do "Correio Braziliense" e narrou o acontecido: "Eu estava brincando no alambrado que protege o público dos animais, quando fui puxado por uma ariranha. Quando caí, os outros animais correram todos para onde eu estava e começaram a me devorar. Depois não me lembro bem, mais sei que entrou uma pessoa e atraiu a atenção das ariranhas e elas me deixaram em paz.

O Sargento Sílvio Holenbach, que, segundo os médicos do Hospital das Forças Armadas, recebeu mais de 100 mordidas, também falou à reportagem, lamentando apenas as dezenas de pessoas que assistiam à tragédia não tenham ajudado. Silvio explicou tudo desde o início: "Eu passava, de carro, com minha família: a esposa e quatro filhos menores quando oviu os gritos do garoto. Parei o carro e sem atender aos apelos da minha esposa que pedia para eu ficar, entrei no tanque das ariranhas".

Somente após algums minutos que o Sargento Silvio Holenbach estava sendo devorado pelas ariranhas é que chegou o pessoal da segurança do Zoo, segundo informações de seus familiares, e o tirou do meio das feras. Perguntado sobre o que o levou a entrar no tanque das ariranhas, o sargento respondeu: "Eu não podia deixar uma criança ser devorada sem fazer nada".

PLÁSTICA

O doutor José Carlos Daher, chefe do Serviço de Cirurgia Plástica, informou que só depois de dois dias é que poderá dizer se o estado do paciente é grave ou se sua recuperação será rápida. Para José Daher, o que mais preocupa, no momento, é o perigo das infecções nas feridas.

No Hospital Santa Lúcia, onde o garoto Adilson Florêncio deve receber alta hoje, a preocupação é a mesma, agravando-se, ainda mais, pelo fato do veterinário do Zoo ter informado ao pai do menor, Ademar Florêncio da Costa, que não há nada que possa identificar o tipo de infecção provocda pela mordida de uma ariranha.

PESQUISA "CB"

ARIRANHA: carnívoro da família dos Mustelídeos, Pterinura brasiliensis, semelhante à lontra, porém maior, alcançando alguns espécimes 2,40 m de comprimento total [a cauda mede quase um metro]. A cor é igual à da lontra, porém a barriga é menos clara e o focinho não é nu, mas coberto de pelos e a cauda achatada em toda extensão, quando na lontra ela só é na ponta.

A ariranha habita os grandes rios de todo o país, inclusive os da Amazônia, ao passo que a lontra vive no Brasil meridional. A ariranha difere também da lontra por levar vida diurna, enquanto a lontra é animal noturno. A pele da ariranha é como a da lontra, muito apreciada como tapete ou agasalho, principalmente quando caçada no inverno, porque então lhe cresce um reforço de pelos curtos e densos, que torna macia, e, ao ser beneficiada, ainda se lhe arrancam os pelos mais grossos. As ariranhas gostam de viver em bandos e nadam pelo rio, não raro fazendo uma grande barulheira, semelhantes à dos gatos, cuja voz imitam.

As ariranhas nadam otimamente e, mergulhando, caçam peixes que vão devorar em terra. Os peixes menores são devorados inteiros, ao passo que dos maiores rejeitam a cabeça e a espinha. É preciso ser bom atirador para poder com algum sucesso ir à caça das ariranhas. De longe aproxima-se, vindo rio abaixo, um ponto negro que tende as águas como a quilha de um barco invisível. Bastaria esse alvo ao caçador. Mas, antes de poder ele disparar o tiro, a ariranha some de todo nas profundezas e quando, algum tempo depois, reaparece, por um instante apenas para respirar rapidamente, ainda uma vez o tiro resvala na água.

Fotógrafos escolhem miss no dia 6

O Concurso de Miss Objetiva Brasília 77, que elegerá uma representante do Distrito Federal ao Concurso de Miss Objetiva Internacional, realizado anualmente pela Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinegrafistas Cinematográficos do Estado de São Paulo está iniciando os preparativos para festa do dia 6 de setembro às 21 horas no Salão Nobre do Eron Brasília Hotel.

Os ensaios estão sendo realizados aos sábados e domingo a partir das quinze horas e tem contado com a dedicação dos convidados inscritos sob a direção de Sílvia Silva supervisionada pela coordenação do concurso que vem dando todo apoio às concorrentes, seus fotógrafos patrocinadores e a todos aqueles que procuram de uma maneira ou de outra colaborar com a primeira promoção desta natureza a ser realizada em Brasília.

JÚRI

A escolha da primeira Miss Objetiva será feita através de um júri composto por quinze figuras de destaque da sociedade brasiliense, incluindo-se jornalistas, cronistas sociais, modelos fotográficos, cirurgião plástico e representantes das artes fotográficas de Brasília, Rio e São Paulo, cujos membros estão sendo cuidadosamente escolhidos pela Coordenação do Concurso.

Para festa que escolherá a primeira Miss Objetiva de Brasília está previsto um público reduzidíssimo em face do local não comportar mais de quatrocentas pessoas. Destarte, solicitamos a máxima urgência daqueles que queiram reservar as sessenta mesas existentes no Salão Nobre do Eron Brasília Hotel. As pessoas interessadas poderão telefonar para 725 7080 - Reservas.

A Coordenação do I Concurso de Miss Objetiva Brasília 77 está convidando as candidatas inscritas e seus representantes um rápido ensaio na próxima sexta feira às 20 horas. Na oportunidade as concorrentes farão uma ligeira demonstração do que será a festa do dia 6 de setembro. Essa demonstração será para a Imprensa local.

Correio Braziliense, terça-feira, 30 de agosto de 1977

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

23.11.1989 ─ Lilian acaba com domínio dos chileno no pentatlo



Lilian acaba com domínio dos chilenos no pentatlo

Geraldo Bezerra de Menezes

Lilian Cristina não se considera excelente, mas se diz "razoavelmente boa em tudo, em todos os esportes que formam o pentatlo moderno: a esgrima, a natação, o tiro ao alvo, a corrida cross-country e a equitação". Duas vezes campeã sul-americana, em 86 e 88, ela repetiu a façanha no Circuito Sul-Americano de Pentatlo Moderno, em três etapas, em outubro e novembro, nas cidades de Porto Alegre, Montevidéu e Santiago. Mais do que isso, a sua grande vitória pessoal foi ter conseguido formar uma equipe brasileira com as irmãs Jânia e Tânia Bezerra. É uma equipe vencedora, quebrando a hegemonia do Chile.

─ Nas duas vezes em que venci o Sul-Americano, não me conformei com a superioridade das chilenas, sempre vencendo por equipe, em cinco competições, de 83 a 88. Chamei muita gente para treinar comigo, a fim de formar uma equipe vencedora, até encontrar Jânia e Tânia. Depois de um ano de treinamento, vencemos ─ diz a pentacampeã brasileira de pentatlo moderno, de 23 anos.

Lilian mora em Realengo; as irmãs Bezerra ─ Tânia, 23 anos, Jânia, 22 ─ em Duque de Caxias. Determinadas, só fazem treinar, cinco horas por dia, em locais os mais distantes, locomovendo-se de ônibus. Toda semana, a mesma rotina: equitação, na Escola de Equitação do Exército, em Realengo (três vezes); natação e tiro ao alvo, no Fluminense (quatro e duas vezes); corrida e esgrima, na Escola de Educação Física do Exército, na Urca (seis e três vezes).

─ O desafio da gente ─ explica Lilian ─, que nos distingue dos outros atletas, é que procuramos desenvolver a técnica de todos esses esportes a um só tempo. Por isso, a cabeça da gente é mais aberta, mais maleável. "É a consagração do atleta completo", teria dito o Barão de Coubertin, o idealizador dos Jogos Olímpicos da era moderna, ao bolar o pentatlo moderno.

Felizes com o título sul-americano, Lilian, Tânia e Jânia sonham com as próximas competições: o Meeting Internacional dos Estados Unidos, em março; o Campeonato Aberto Europeu, em maio, e o Mundial da Suécia, em agosto de 90. Mas, de onde tirar dinheiro? A 30 cartas que enviaram para empresas, pedindo patrocínio, mereceram resposta idêntica: "Não temos verba." E daí? Elas são perseverantes mesmo. Continuam a treinar, apostam na boa estrela que possuem e, acima de tudo, gostam do que fazem: competir pelo prazer de competir. "Elas são atletas completas", diria, com certeza, o Barão de Coubertin.

O DIA, Rio de Janeiro, quinta-feira, 23 de novembro de 1989

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

10.05.1962 ─ 24 MORTOS NO DESASTRE AVIATORIO QUE ONTEM ENLUTOU TODO O ESTADO



24 MORTOS NO DESASTRE AVIATORIO
QUE ONTEM ENLUTOU TODO O ESTADO

Nada menos de 24 pessoas, entre passageiros e tripulantes, pereceram carbonizados no pavoroso desastre que ontem (precisamente às 19h35m) enlutou todo o Estado do Espírito Santo, como o mais grave já ocorrido em nosso território.

Depois de fornecer tôdas as coordenadas da aterrissagem e de receber ordem de descer na pista do aeroporto Salgado Filho, a tripulação do "Convair" ─ 240 (PP-CEZ) da Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que pernoitara nesta Capital, a tripulação da aeronave encerrou seus contatos com a tôrre de contrôle do aeroporto.

ESTRONDO

Alguns instantes depois, um forte estrondo foi ouvido pelas imediações. Um militar da DAC, que se encontrava na pista para receber a aeronave, viu perfeitamente quando esta aterrou precipitadamente a cêrca de 1.500 metros, incendiando-se parcialmente.

Imediatamente acorreram ao local as autoridades responsáveis pela base aérea. Pedidos de socorro foram imediatamente endereçados à Polícia, ao Corpo de Bombeiros, ao HPS e ao SAMDU.

OS MORTOS

Entre os mortos figuravam pessoas de real destaque na vida espírito-santense. Os serviços de salvamento quase que foram totalmente inúteis, ante a precipitação dos acontecimentos.

Dois passageiros deixaram, providencialmente de viajar no PP-CEZ, à última hora, resolvendo permanecer no Estado da Guanabara. Inúmeras observações foram feitas pela reportagem de A GAZETA e vão contadas, minuciosamente, na quinta página da presente edição.


Precisamente às 19h35m de ontem, depois de ter seu comando dado tôdas as coordenadas de aterrissagem para
...
vários daquela repartição chegavam ao local do desastre. Suas informações à reportagem deixam claro da
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depois violentas labaredas elevam-se para o céu.

Já o passageiro Francisco Lopes Filho, que milagrosa-
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INCRÍVEL

Num raio de mais de 500 metros foram recolhidos pelas autoridades policiais pedaços do avião, jogados àquela incrível distância pela violência da explosão.

Um dos motores, alada fumegante, foi encontrado completamente divorciado dos outros destroços, a distância considerável, enquanto um pedaço da asa direita à qual pertencia o motor estava a mais de cem metros.

ESPETÁCULO DOLOROSO

Centenas de pessoas, tão logo tomaram conhecimento do desastre, acorreram ao local, sendo testemunhas mudas de um dos mais dolorosos, senão o mais doloroso, de Vitória. Corpos e mais corpos, irreconhecíveis e incompletos, eram enfileirados na rasa vegetação, também chamuscada.

Bombeiros e policiais ajudados por alguns funcionários do Aeroporto de Goiabeiras e empregados da Cruzeiro do Sul, conseguiram retirar pedaços de corpos e corpos inteiros, uns com as feições completamente deformadas.

IMPOSSÍVEL RECONHECER

Muitas pessoas, em intensa expectativa, aguardavam a chegada dos corpos tentando identificar um amigo ou um parente, mas a identificação era realmente impossível, tal o estado em que se achavam os corpos inicialmente encontrado à beira dos escombros.

...

to, pôde se inteirar de que, enquanto os bombeiros tentavam apagar as chamas, diversas pessoas desceram a pequena elevação, saqueando o que restava do aparêlho, com pedaços espalhados em grande área de terreno.

Só mais tarde, com a chegada das guarnições da R(...) se conseguiu evitar que os próprios mortos fôssem também saqueados pelos que acorreram ao local, poucos momentos depois que o fogo diminuíra de intensidade.

OS MORTOS

A Cruzeiro do Sul forneceu à imprensa a seguinte lista de passageiros que deixou o Rio de Janeiro no vôo 102 e que faleceram no terrível desastre:

Gujnther Zennig; Jacy Castelo Leite; Tyrocinsky (procedente de São Paulo); Fábio Ruschí; Ari Moura; Luiz Gusman; Agliberto Moreira Sales; Gusmo Ricci; José Rebouças Filho; Ariosto dos Santos; Maria José Fundão; José Borrego; Gerardi Buss; Guilhermino Marangoni; Aldemar Lopes; Maria L Garcia; Artur Fonseca; Alcides Gerard e João Souza Maia e a tripulação constituída do Comandante Ciro França, piloto Continentino, rádio-telegrafista François e comissárias Vieira e Vânia.

...

ga aeronaves da "ITAU").

Estiveram no local, imediatamente após os pedidos de socorro, guarnições do Corpo de Bombeiros que permaneceram junto aos escombros na tarefa de reconhecimento dos corpos do Hospital do Pronto Socorro, da Polícia e do SAMDU, prestando todos os serviços que se fizeram necessários e que foram possíveis.

ESCAPARAM

Os Srs. Edgard Rocha e Olívar Rangel Barata escaparam milagrosamente do desastre, pois, encontrando-se no Rio de Janeiro ─ já no aeroporto Santos Dumont ─ desistiram de voar no PP-CEZ.

O primeiro (proprietário de cinemas nesta Capital), segundo fomos informados, transferiu sua viagem de regresso para que pudesse assistir, no Estádio Maracanã, à peleja realizada ontem à noite entre as seleções de futebol do Brasil e de Portugal, enquanto o segundo (Administrados da DAC em Vitória) deixou de voar, para regressar amanhã, no primeiro vôo do Lóide Aéreo.

COOPERARAM COM O JORNAL

Não será por demais endereçarmos, ao final desta reportagem, os agradecimentos de A GAZETA ao pessoal da DAC, da Serviços Aéreos Cruzeiro do(...)

A Gazeta, Vitória, quinta, feira, 10 de maio de 1962

domingo, 2 de outubro de 2016

23.06.1958 ─ Antes de ser morto o engenheiro travou discussão com o advogado



ANTES DE SER MORTO O ENGENHEIRO
TRAVOU DISCUSSÃO COM O ADVOGADO

População paraense acompanha tôdas as providências
policiais no sentido de bem esclarecer os motivos que
levaram advogado a assassinar o engenheiro do DEER

BELÉM, 21 (Meridional) ─ Pelo telefone ─ Repercute, ainda, o crime no qual perdeu a vida, abatido por tês tiros de revolver, disparados pelo seu antigo amigo e advogado, Carlos Lima, o engenheiro Belisario Dias, do quadro de engenheiros do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem.

Preso horas depois, o advogado Carlos Lima foi conduzido para a Central de Policia, onde ficou em sala especial. Depois de prestar declarações, o criminoso foi conduzido ao Presídio São José, onde se encontra detido em prisão especial, dada a sua condição de bacharel.

Hoje prestaram depoimento, sigilosamente, a esposa da vítima, e a costureira em casa de quem se encontrava, horas antes do crime, a esposa do engenheiro Belisário Dias.

Por ocasião do levantamento do cadáver, a Polícia encontrou nos bolsos da vítima, a importancia de 18 cruzeiros e um salvo-conduto expedido em julho de 1956, pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará, e que havia sido requerido, exatamente, pelo advogado autor do crime.

A reportagem apurou que por ocasião do encontro entra a vitima e o criminoso, o engenheiro Belisário Dias acusou o advogado Carlos Lima, seu antigo amigo e patrono, de se ter apropriado da importancia de 1 milhão e 700 mil cruzeiros, que lhe foram dados a guardar, no periodo em que o engenheiro esteve fora do Estado, fugindo de uma ordem de prisão administrativa expedida pelo diretor do Departamento de Estradas de Rodagem, acusado que fôra de desviar dineiro do Departamento. Da discussão que tomara carater violento, outras acusações ainda teriam sido feitas pelo engenheiro. Como fisicamente, o criminoso era inferior, não teve outra alternativa senão alvejar o seu ex-amigo, a queima-roupa, com três tidos, que o prostraram. Levado ao Pronto Socorro, pela sua propria esposa, a vítima não resistiu aos ferimentos, falecendo quando era socorrido.

O advogado-criminoso, no encontro que tivera com o engenheiro, teria verberado o seu procedimento de ter feito as pazes com o governador do Estado, através de uma carta que escrevera ao chefe do Executivo paraense. O governador, aceitando as razões alegadas pela vítima, teria dado ordens para que a ordem de prisão fôsse relaxada, assim como o processo criminal não mais tivesse curso. Com isso, não se conformou o criminoso, que se tornara, então, inimigo do engenheiro Belisario Dias. Dias depois, quando o assunto estava completamente superado, o engenheiro Belisário Dias acusava seu advogado, sr. Carlos Lima, de se ter apropriado e desviado a importancia de 1 milhão e 700 mil cruzeiros, que lhe teriam sido entregues para guardá-los, quando a ordem era para confiscar os bens do engenheiro. Declarações públicas foram feitas pelo advogado, se defendendo da acusação, e quando o caso parecia morto, eis que um novo encontro surgiu, novas discussões se verificaram e o epilogo foi a morte trágica do engenheiro Belisário Dias, cujo enterramento foi feito ontem, na necrópole de Santa Isabel.

O Jornal, Rio de Janeiro, segunda-feira, 23 de junho de 1958

sábado, 1 de outubro de 2016

22.10.1970 ─ Bolívia prende e mata chefes daguerrilha



Bolívia prende e mata chefes da guerrilha

LA PAZ (AP-AFP-UPI-FT) ─ O chefe das guerrilhas bolivianas, Osvaldo "Chato" Peredo, foi prêso pelas fôrças armadas em uma operação na qual foram mortos o guerrilheiro brasileiro Luís Renato Pires "Eugênio" e o peruano Arturo Callepina Hurtado "Raul", anunciou ontem o comandante geral do exército Luís Reque Terán.

Acrescentou que também foi prêso o vice-presidente da Confederação Universitária Boliviana, Mario Suares, e morto outros dois guerrilheiros ainda não identificados. Isto parece ser o fim do movimento iniciado há três meses por Osvaldo "Chato" Peredo, numa seqüência da frustrada campanha de Ernesto "Che" Guevara. A 19 de julho passado, uns cem revolucionários ocuparam a cidade de Teoponte, situada a uns 200 quilômetros ao nordeste de La Paz, tomaram dois reféns alemães e obtiveram a libertação de três presos políticos, vinculados com a guerrilha de Guevara. Os integrantes da insurreição eram em sua maioria universitários democratas-cristãos.

"Chato" Perede é irmão de "Inti" e "Coco", que foram mortos em choques com o exército boliviano pouco tempo depois de terem lutado ao lado de "Che" Guevara.

A informação das fôrças armadas foi precedida por uma declaração do presidente Juan José Tôrres, no sentido de que não haveria trégua com os guerrilheiros, aos quais classificou de "subversivos". Nos últimos dias, as emissoras de rádio e jornais do país difundiram insistentes versões sôbre o aniquilamento total dos combatentes do chamado Exército de Libertação Nacional (ELN). Entretanto, nem o govêrno nem as esferas militares quiseram confirmar as versões.

Fôlha da Tarde, quinta-feira, 22 de outubro de 1970