terça-feira, 12 de julho de 2016

23.07.1958 ─ DEMITIU-SE O SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PAULISTA





DEMITIU-SE O SECRETÁRIO
DE SEGURANÇA PAULISTA

S. PAULO, 22 (Sucursal) ─ O sr. José Ataliba Leonel demitiu-se hoje do cargo de secretário da Segurança Pública. Para substituí-lo o governador Jânio Quadros nomeou o delegado Benedito Carvalho Vera, que vinha exercendo as funções de diretor do Departamento de Investigações. A posse do novo titular está marcada para as 17 horas de amanhã.

A atuação do sr. José Ataliba Leonel à frente da Secretaria de Segurança Pública para onde fôra indicado pelo PTN vinha sendo objeto de severas críticas, face a crescente onde de criminalidade que se registra nesta Capital e que culminou com a prisão, seguida de fuga espetacular, do assaltante Antônio Rossini, vulgo "Promessinha" do interior de um xadrez do Departamento de Investigações.

BUSCAS
─ A ação da polícia, para a recaptura de "Promessinha", vem se efetuando de maneira ostensiva, com grande aparato bélico. Todos os pontos de entrada e saída da cidade estão rigorosamente vigiados, com policiais portando metralhdoras leves, com ordens para recaptura o jovem deliqüente "vivo ou morto". Nas estações ferroviárias, rodoviárias e no aeroporto de Congonhas a vigilância é mantida ininterruptamente, com o objetivo de impedir, por tôdas as formas, a saída do meliante da cidade. Grupos de policiais bem armados batem todos os recantos suspeitos da cidade, noite dia, seguindo pistas ou procurando testar informações e denúncias que chegam ao seu conhecimento. O trabalho policial, aliás, vem sendo, em parte, prejudicado pela curiosidade popular, uma vez que, onde quer que apareçam, de sirenas abertas, viaturas policiais, para uma batida o número de pessoas que acorre ao local atinge, por vêzes, a centenas, dificultando o bom andamento das diligências, dado o cuidado que passa a ser exigido pelos policiais, para evitar, no caso de um encontro com o delinqüente fugitivo, que os populares seja matingidos numa eventual troca de tiros.

CONTINUA FORAGIDO
SÃO PAULO, 22. Dos prêsos que fugiram anteontem à noite do Departamento de Investigações, após uma rebelião cujo início está sendo investigado através de inquérito em que estão envolvidos dois carcereiros, apenas Antonio Rossini, o famigerado "Promessinha", continua em liberdade tendo sido recapturados todos os demais. Aliás, os fugitivos não conseguiram sequer abandonar o prédio do "Palácio da Polícia", sendo caçados em suas diferentes dependências. "Promessinha" desceu alguns pavimentos, atirando-se sôbre um prédio vizinho de onde conseguiu escapar. Durante todo o dia de ontem patrulhas militares percorreram a cidade à procura do bandido que havia sido prêso dias antes sob a acusação de uma série de roubos inclusive latrocínios.

Em alguns círculos locais informa-se que a referida fuga de prêsos provocou uma verdadeira crise nos quadros administrativos da Secretaria de Segurança Pública. Ainda ontem à noite, por determinação do governador Jânio Quadros, o sr. Gilberto de Andrade foi substituído no cargo de delegado geral da secretaria de Segurança Pública pelo delegado Nicolau Mário Centola que vinha exercendo as funções de diretor do Departamento de policiamento desta Capital. (Asp.)

Correio da Manhã, quarta-feira, 23 de julho de 1958

segunda-feira, 11 de julho de 2016

17.06.1965 ─ TRES LARAPIOS NA CADEIA E 14 MILHÕES RECUPERADOS

O TRIO de gatunos, ladeados pelos investigadores, logo depois de haver sido apreendida a mercadoria que fôra furtada


TRES LARAPIOS NA CADEIA
E 14 MILHÕES RECUPERADOS

Plantão Policial                                                                                     GARINI

CINCO dias de investigações foram suficientes para que o investigador Rener e seus companheiros, Brasileiro e Nader, do 8º Distrito da Delegacia de Roubos, recuperassem tudo que foi roubado da firma Colbate-Palmolive S.A., instalada na Rua Rio Grande, 78 - Vila Clementino.

O material ali roubado, representado por maquinas de escrever, calcular, gravadores de som e radio, estava avaliado em 14 milhões de cruzeiros. Com o exito das diligencias, foram para o carcere três perigosos marginais, todos eles ex-detentos, responsaveis pelo arrombamento e roubo daquela industria.

O Roubo
No ultimo dia 11, durante a madrugada, o ladrão Nilo Pereira da Silva (24 anos, solteiro, Avenida Aratãs, 1.672) procurou o motorista de praça Antonio Roberto Nalmes (24 anos, solteiro, Rua Consolação, 1.935), que trabalhava com o auto Aero Willys placa 50.15.13 e combinaram o roubo. Partiram dali em busca de Haroldo Ramos de Oliveira, outro gatuno de alta periculosidade, e o trio seguiu para a Rua Rio Grande. Mediante escalada e arrombamento de um vitrô, os ladrões penetraram na firma, de cujos escritorios furtaram todo aquele material.

A Queixa
No dia imediato, os diretores da "Colgate-Palmolive S.A." registraram a queixa. Em consequencia daquele roubo, o escritorio teve os seus serviços paralisados temporariamente, até que fossem providenciadas novas maquinas. O caso, entregue ao 8.o Distrito, teve sua solução em tempo recorde, sendo o trio de marginais preso rapidamente. Nas diligencias que se realizaram, o produto do furto foi praticamente apreendido, restando apenas localizar duas maquinas.

NILO Pereira da Silva
HAROLDO Ramos de Oliveira
ANTONIO Roberto Nalmes
Ribeiro da Silva

Última Hora, quinta-feira, 17 de junho de 1965

domingo, 10 de julho de 2016

27.11.1979 ─ Os meninos atacam no Jardim Europa

CRIME


Os meninos atacam no Jardim Europa

Seqüestro na porta da mansão. Uma das vítimas é diretor de banco. Carro de luxo tinha até telefone.

ANTÔNIO CARLOS FON

Luís Said foi salvo por uma falha de memória. Ele já estava na porta de casa quando alguém se lembrou de pedir-lhe um jornal. Enquanto ele voltava para apanhá-lo, os seqüestradores chegaram. Era dois rapazinhos, ambos com idade entre 16 e 17 anos, armados com um revólver calibre 38 e uma pistola Luger nove milímetros. Sob a mira dessas armas, eles tomaram o Mercedes Benz branco, 1973, chapa EX-9262, e seus passageiros ─ Ieda Said, esposa de Luís, Heloísa Abreu Pereira, Alice Loureiro, Jairo Loureiro e Luís Eduardo Pinto filho ─ como reféns. As duas horas seguintes seriam de intensa correria para os seqüestrados, seqüestradores e a polícia.

Foi o próprio Luís Said quem avisou a policia do seqüestro. Enquanto os carros do GARRA ─ Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos ─ procuravam cercar o Jardim Europa, onde aconteceu o seqüestro, na madrugada da segunda-feira, os dois seqüestradores descobriam que os ricos, os realmente ricos ─ e Luís Eduardo Pinto filho é diretor do Unibanco ─ não carregam muito dinheiro.

O primeiro telefonema dos seqüestradores, cinqüenta minutos depois, foi feito do telefone instalado no próprio Mercedes para Walter Abreu, um parente de Heloísa. Eles exigiam Cr$ 35.000,00 para soltar os reféns: "Somos menores fugitivos da FEBEM", avisaram eles, "qualquer vestígio de polícia e matamos todos eles. A lei não pode nos alcançar mesmo".

O segundo telefonema, alguns minutos mais tarde, foi atendido pelos delegados Aldemar Magalhães Lopes e Manoel Adamus Neto, do GARRA. Foram eles que combinaram o local ─ na marginal, sob a ponte da Cidade Universitária ─ onde seria pago o resgate.

Para seguir o Mercedes roubado ─ que seria encontrado depois abandonado em Santo Amaro ─ os policiais utilizaram dois automóveis. Em um deles viajava Walter Abreu, encarregado de pagar o resgate, no outro, os policiais o seguiriam.

Não chegou a haver perseguição, entretanto. Ao chegarem no local, enquanto o automóvel em que Walter Abreu se preparava para atravessar a ponte e fazer a troca dos reféns pelo dinheiro, os policiais tentavam dar a volta pela ponte do Jaguaré, para colocar-se atrás dos seqüestradores.

Em cima da ponte da Cidade Universitária, todavia, os dois rapazes interceptaram a perua Caravan de Walter Abreu. Foi tudo muito rápido, toda a operação não tomou mais que alguns segundos: enquanto um dos seqüestradores tomava o dinheiro de Walter Abreu, o outro empurrava os reféns para fora da Mercedes Benz. Na pista, do outro lado do rio Pinheiros, a polícia só pôde ver o Mercedes Benz fugir, a alta velocidade, em sentido contrário.

Jornal A República, terça-feira, 27 de novembro de 1979

sábado, 9 de julho de 2016

08.03.1970 ─ O FANTASMA DE FININHO FAZ MUITA GENTE TREMER



O FANTASMA DE FININHO
FAZ MUITA GENTE TREMER

JOSÉ Arnaldo Murinelli estava no bar no momento em que Fininho partiu sobre Mauricio Franco para matá-lo. Murinelli e Fininho eram policiais. Murinelli preferiu contar nada para não acusar o colega. Mas a Justiça marcou o interrogatorio de Murinelli, que terá de contar tudo o que viu. E ele irá mesmo ao forum, acompanhado do seu advogado: decidiu enfrentar a Policia, e não fugir, como Fininho fêz. A fuga de Fininho continuou a ocupar muitas manchetes de jornal esta semana. Fininho (o seu nome verdadeiro é Ademar Augusto de Oliveira) matou a faca um traficante de entorpecentes, Mauricio Franco, umas semanas atrás. Logo depois, o delegado Wilson Richetti, do Terceiro Distrito, ouviu-o negar que tivesse cometido o crime, mas acabou provando que ele tinha mesmo assassinado Maurício. O caso foi à Justiça, que pediu sua prisão preventiva. As quatro testemunhas que acusaram Fininho foram ameaçadas de morte por ele e pediram proteção á Polícia. Fininho fugira, todos estavam com medo. Foi preciso que as testemunhas ficassem no Distrito, para se protegerem, e depois foram abrigar-se no Degran. Um investigador chegou a sofrer um atentado a tidos e alguns reporteres que fazem a cobertura policial para seus jornais receberam ameaças de morte. O policial Murinelli, que antes não quis acusar Fininho resolveu se entregar porque ficou com medo de que Fininho se vingasse dele.

Jornal Última Hora, domingo, 8 de março de 1970

sexta-feira, 8 de julho de 2016

08.07.1970 ─ Em farras, ele gastou o dinheiro do assalto

DN ─ Quarta-feira, 8 de julho de 1970 ─ 1.º caderno


Em farras, ele gastou o dinheiro do assalto

O ultimo integrante da quadrilha que assaltou no dia 14 de junho ultimo a filial do "Supermercado Pão de Açucar", da avenida Santo Amaro, 6.842, foi preso por investigadores do 34.o Distrito Policial. É ele, Cicero Xavier de Oliveira, de 21 anos, solteiro, residente na rua Visconde de Parnaiba, 45, no bairro do Brás. Com os demais integrantes do bando, quando foram detidos, a polícia encontrou parte do produto do roubo, em poder de Cicero, nada foi encontrado. Ele gastara tudo em farras e na compra de moveis e outros utensilios para o apartamento em que estava residindo.

Quando ouvido pelo delegado Osvaldo Pereira Alexandre, do 31.o Distrito, o marginal disse que tomou parte no assalto, aceitando um convite que lhe fôra feito por Orasilia de Souza Barduzzi. Essa mulher foi presa por agentes do DEIC. Era a chefe do grupo. Além deste assalto, o marginal disse haver praticado cerca de 20 arrombamentos em moradias da Vila Prudente.

SUSPEITA
No princípio da semana passada, o investigador Guaracy quando passava proximo à rua Visconde de Parnaíba, cruzou com Cicero Xavier de Oliveira. O policial, não tinha nenhuma suspeita contra aquele rapaz. Porém, quando Cicero viu o policial, saiu em desabalada carreira, pondo-se em fuga. O agente da lei, suspeitando que aquele rapaz tivesse algo a contar, saiu no seu encalço. Entretanto, não conseguiu agarrá-lo.

Aquele fato, aguçou a curiosidade do policial, que resolveu realizar "campana" no local onde ele correu a fim de deter aquele rapaz assustado. Com o auxilio dos investigadores Flávio, Renner e Petri, o ploicial Guaracy passou a rondar a rua Visconde de Parnaiba. Falando com pessoas residentes naquela via publica e descrevendo o tipo do rapaz que procurava, os policiais souberam que ele residia no 3.o andar do predio 45 daquela rua.

FUGA
Sexta-feira, a noite, os agentes do 31.o Distrito, souberam que Cicero havia entrado no predio em que residia. Sem perda de tempo, dirigiram-se ao 3.o andar e ficaram junto à porta do apartamento numero 5, moradia dom arginal. Certificando-se de que ele ali se encontrava, os investigadores arrombaram a porta. Porém, o meliante que havia notado a presença da policia, empreendeu fuga, descendo à rua através de uma calha. Os policiais, sairam em seu encalço, mas, o marginal conseguiu fugir.

Nesta oportunidade, Cicero estava acompanhado de uma jovem, a qual também fugiu pela calha.

PRISÃO
Na manhã de sábado, os policiais descobriram que o marginal que havia lhes escapado da mãos, possuia um amigo com o qual mantinha contactos diários. Este rapaz, trabalhava numa loja, sendo que seu passado não era comprometedor. Apenas tinha um amigo fora da lei. O moço, foi encontrado e sem que soubesse, os investigadores passaram a seguir seus passos até a tarde de 2.a-feira. Durante 24 horas, ele teve um agente da lei atrás de si.

Segunda-feira, após deixar o estabelecimento em que trabalhava, o amigo de Cicero, dirigiu-se para o bar "Bandeirantes" na avenida Radial Leste. Logo atrás, caminhavam os agentes Guaracy e Petri.

O rapaz, entrou naquele estabelecimento comercial, parou à porta, ficando a espera do amigo. Ele não demorou. Mas, ao se aproximar do outro, foi agarrado pelos agentes que ali se encontravam. Tentou fugir. Lutou com os investigadores que a custo conseguiram contê-lo e algemá-lo.

Agora, na presença das autoridades do 31.o Distrito Policial, Cicero Xavier de Oliveira, que estava sendo procurado pela policia, acusa seus companheiros de crime. Diz que foi Orasilia quem o levou para assaltar. Mas, mesmo acusando seus companheiros, ele mesmo diz que já praticou vários arrombamentos.

Dessa "gang" fazia parte Cicero Xavier de Oliveira

MOTORISTA DE PRAÇA
FUZILOU ASSALTANTE

O verdadeiro autor da morte do ladrão Antonio Marcos de Almeida, vulgo "Mineirinho", de 22 anos, solteiro, sem moradia certa, é um motorista de praça, alto, forte e mulato e não, como se acreditou de início, ser o próprio comparsa do morto, o larápio Aluísio de Oliveira, de 20 anos, solteiro, morador em Ribeirão Pires e parceiro de crimes também do gatuno Getulio da Silveira, de 18 anos, solteiro, residente naquele municipio.

Essa foi a conclusão a que chegaram, ontem a tarde, o delegado José Mario de Avila e os agentes Luis Olivares, Asprino e Morais, da equipe "B" da Divisão de Crimes Contra a Pessoa que, desde a madrugada do dia 31 de maio último, investigaram a ocorrencia. O confronto das armas usadas pelos ladrões, naquela madrugada, e também pela conclusão ontem do exame necroscópico realizado no cadáver de "Mineirinho", levaram as autoridades a encontrar o verdadeiro criminoso.

Diário de Notícias, quarta-feira, 8 de julho de 1970

quinta-feira, 7 de julho de 2016

30.09.1996 ─ Matou ex-patrões e enfrentou polícia a tiros



Matou ex-patrões e enfrentou polícia a tiros

A partir da informação do investigador de polícia Romão, da Equipe B-Leste da Divisão de Homicídios do DHPP, de que o vigilante Alexandre Carlos Berenguell, responsável pela segurança particular de algumas ruas do bairro Batistini, em São Bernardo do Campo, o havia procurado para informar que dois marginais da região, conhecidos como Fantomas e Márcio, eram os autores do latrocínio que vitimou os irmãos Hélio Norione Nishizawa e Ildefonso Minoru Nishizawa, proprietários do Supermercado Bela Vista, no Jardim da Represa, em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo, o delegado titular da Equipe Especial da Divisão de Homicídios do DHPP, Wagner Giudice, avocou o inquérito que tramitava no 3º DP de São Bernardo desde a época dos fatos, em 17 de maio deste ano.

Após inteirar-se do caso, a autoridade designou os investigadores Malacrida, Gerson, Antonio Carlos, Desgualdo e Reginaldo, os quais contaram com o auxílio do investigador Ronaldo, da chefia da Divisão de Homicídios, e do próprio Romão, da Equipe B-Leste, o qual não teve dificuldades em localizar a casa de Fantomas, pelo fato de também residir em São Bernardo há vários anos. Pelas informações que possuía, Fantomas era visto com frequência no bairro do Jardim da Represa, dirigindo um Passat vermelho.

Com todos os dados levantados, inclusive o endereço de Fantomas, na Rua Fernando Pessoa, 155, no Jardim da REpresa, no dia 30 de julho, por volta das 17h00, os policiais marcaram encontro num posto de gasolina nas proximidades e depois do investigador Romão passar em frente a casa de Fantomas e constatar que o Passat vermelho estava na garagem, os demais policiais se aproximaram e cercaram a residência.

Troca de tiros
Após anunciarem que "era a polícia" e pedirem para o marginal se entregar, a resposta veio com uma saraivada de balas. Fantomas gritava que só se entregaria morto.

Na troca de tiros, o investigador Gerson foi ferido no braço e no revide seus companheiros conseguiram acerta Fantomas com um tiro de raspão na cabeça.

Dominado, o marginal identificado como José Everaldo da Silva foi conduzido ao PS Central de São Bernardo, onde foi medicado e liberado para ser conduzido ap 3º DP (São Bernardo), onde foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio contra o policial Gerson, que também foi atendido no mesmo PS.

Removido para a Equipe Especial de Homicídio, Fantomas informou o paradeiro do seu comparsa Márcio de Oliveira, de 19 anos, e na sequência, ambos confessaram o crime contra os irmãos Nishizawa.

Para o delegado Wagner Giudice, Fantomas contou que conhecia bem os hábitos dos irmãos, pelo fato de haver trabalhado como segurança no Supermercado durante um certo tempo. Na data dos fatos, ele sabia que os comerciantes deveriam transportar uma boa quantidade em dinheiro para casa. Portanto, em companhia de Márcio, ficou aguardando até o fechamento do Supermercado, quando os irmãos saíram numa das peruas Kombi do estabelecimento comercial.

Os marginais que estavam num Opala preto seguiram as vítimas até um local ermo, conhecido como Estrada Galvão Bueno, fecharam a Kombi dos comerciantes e anunciaram o assalto. Pela versão dos bandidos, os irmãos teriam ficado muito assustados e o motorista tentado fugir dando marcha-a-ré no carro, ocasião em que Fantomas deu o primeiro tiro. Em seguida, fizeram os comerciantes saírem do carro e depois de obrigá-los a deitarem-se no chão, atiraram em suas costas, quatro tiros ao todo. Na sequência, quando já pretendiam deixar o local com a Kombi das vítimas, ouviram gemidos e perceberam que um dos irmãos ainda estava vivo. Fantomas não teve dúvidas, voltou e atirou na cabeça da vítima.

Diante da brutalidade do crime, o delegado Giudice solicitou a prisão preventiva dos ladrões assassinos, os quais foram recolhidos à prisão, onde deverão permanecer até o julgamento.
Fotos Fábio Prado
José Everaldo da Silva, o Fantomas, planejou o assalto contra os ex-patrões
Márcio de Oliveira disse que só atirou porque o comparsa mandou
Integrantes da equipe que trabalharam no caso
O delegado Wagner Giudice solicitou a prisão preventiva dos ladrões assassinos

Revista "O Tira", terça-feira, 30 de setembro de 1996

quarta-feira, 6 de julho de 2016

24.10.1921 ─ Uma homenagem aos índios caingangs



Uma homenagem aos índios caingangs

Para assignalar uma passagem historica da construcção da Noroeste do Brasil
~~~~~~~~~~X~~~~~~~~~~
A estação Heitor Legru passou a denominar-se "Promissão"

A' medida que se exclue a truculencia dos processos da catechese leiga, novas tribus, conquistadas pela doçura e pela bondade dos modernos desbravadores da mattas virgens emergem do seio virginal das grandes selvas e começam a incorporar-se á civilisação, iniciando-se no que ella tem de rudimentar. Tribus que recebiam a flexadas os missionarios do progresso, acabam por acolhel-os como amigos e por seguil-os para novos aldeamentos erguidos sob a protecção da lei, á sombra da bandeira que desdobra a sua ondulação como um abrigo de que não são excluidos mesmo os que nunca a viram, ou não a conhecem, nem amam, como os nossos irmãos selvagens. Entre os indios que, de inimigos, transformaram-se em amigos dos novos bandeirantes, contam-se os caingangs, ainda ha pouco anthropophagos e hoje mansos, aos quaes o governo, celebrando a sua incorporação á sociedade juridica, prestou, agora, uma homenagem.

Realmente, com taes intuitos, o Sr. ministro da Viação mudou o nome da estação "Hector Legru", da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, para "Promissão". E' possivel  que aquelle engenheiro; um dos constructores da estrada, não merecesse o olvido a que foi condemnado o seu nome e talvez os caingangs não saibam o que é "Promissão", mas isso, não obstante o inferno estar calçado de boas intenções, não diminue a excellencia da intenção ministerial, nem apaga a recordação dos acontecimentos que, o ministro, com essa mudança de nomes, quiz fixar, dando-lhe, o encanto de uma esperança a illuminar o futuro.

Ao tempo da construcção da estrada de ferro, quando se assentaram os trilhos naquelle logar, então denominado Hecror Legru e agora chamado Promissão, que está situado em pleno sertão paulista e era habitado pelos indigenas, houve um verdadeiro combate dos trabalhadores e os technicos constructores com os caingangs, sacrificando-se, de ambos os lados, numerosas vidas. Estes nossos irmãos selvagens não poderiam adivinhar que os nossos engenheiros e seus auxiliares, abrindo uma nova via de communicação com o Estado de Matto Grosso, estavam libertando o nosso transporte, sujeito a licenças do Uruguay, do Paraguay e da Argentina, e, naturalmente, recebiam os desbravadores do sertão como conquistadores de suas terras, praticavam contra elles, toda a sorte de represalias e vinganças. Se um trabalhador lhes caia nas mãos, era decapitado, sendo, depois, comido pelos anthropophagos. Nessas condições, os portadores do facho da civilisação tinham sempre o espírito ensombrado pelo receio de serem churrasqueados pelos caingangs.

Mas um dia, um caingang caiu prisioneiro dos trabalhadores. Era o inicio da paz. O caingang foi scientificado, precisamente, das intenções da engenharia brasileira e das razões de ser dos silvos agudos da locomotiva brasileira e voltando á tribu, explicou-as melhor aos seus irmãos. A luta serenou. Roupas, iguarias nossas, nossos costumes, emfim, foram introduzidos no meio selvagem, e a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil venceu essa etapa no seu martyrologio de vidas, porque a maleita, as febres perniciosas victimavam dezenas e dezenas de operarios diariamente. Os indios foram domesticados, ha pouco. Ali mesmo, em Hector Legru, elles se estabeleceram como brasileiros civilisados, trajando regularmente como qualquer de nós.

Convertidos em bons lavradores, o caingangs vivem hoje em plena felicidade em "Hector Legru", ou "Promissão", a 632 kilometros de S. Paulo e 1.130 do Rio.

Conhecemos de longa data, posterior, felizmente, á sua ferocidade, os caingangs, pois, quando A NOITE, ha annos, emprehendeu uma excursão de conhecimento ás longinguas paragens de Matto Grosso, servida po via-ferrea e a seis dias do Rio de Janeiro ali mesmo um representante noso teve ensejo de falar aos caingangs, através de um interprete, que lhes ensinou o que é um jornal, ensinando-lhes tambem a pronunciar o nome da A NOITE, repetido por muitos delles. Por essa occasião, tiramos a photographia com que illustramos hoje a nossa reportagem.

A obra de catechese, posterior aos serviços da Estrada, por isso que a Paz com os indios não se faz para longe das margens da via-ferrea, foi ainda obra de patriotismo, a cuja frente esteve, segundo estamos informados, o Dr. Horta Barbosa.

A A NOITE e seu representante entre os caingangs, na plataforma da antiga estação Heitor Legru, hoje "Promissão"

A NOITE, segunda-feira, 24 de outubro de 1921

terça-feira, 5 de julho de 2016

27.12.1974 ─ Explosão mata 11 crianças

28 ─ O ESTADO DE S. PAULO


Explosão mata 11 crianças
Do correspondente em
JOÃO PESSOA
Onze crianças morreram e oitenta pessoas, entre crianças e adultos, ficaram feridas na explosão de um tubo de oxigênio. Os mortos tinham em média se seis a doze anos de idade. O acidente ocorreu durante a festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Campina Grande, uma tradição de 200 anos e que este ano se realizou na rua Campos Sales, no bairro José Pinheiro, um dos mais populosos da cidade.

Das oitenta pessoas internadas em três hospitais, cerca de 20 estão em estado grave, com queimaduras e alguns membros decepados. A explosão atirou fragmentos num raio de vinte metros, causando estragos em várias barracas e até mesmo nas paredes externas e das casas próximas ao local.

A causa da explosão foi uma faísca que atingiu a válvula de escape do tubo de oxigênio, com o qual um vendedor enchia balões coloridos. Ele havia adaptado o tubo com uma válvula precária e colocado nitrogênio, conseguido com uma mistura de carbureto e água. Como a válvula estava deixando escapar o gás, o vendedor apanhou um paralelepípedo e começou a martelar a torneira, para impedir o vazamento. O contato entre a pedra e o ferro provocou a faísca que causou a explosão.

A festa de Nossa Senhora da Conceição é uma tradição que Campina Grande mantém há mais de 200 anos. Até o ano passado, era realizada no centro da cidade. Com o crescimento urbano e o desenvolvimento do tráfego, a festa foi transferida, este ano, para o bairro de José Pinheiro, o mais populoso da cidade.

O governador Ernani Satyro colocou à disposição todos os hospitais campinenses que mantêm convênio com o Estado para atender os feridos.

O Estado de São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1974

segunda-feira, 4 de julho de 2016

28.02.1995 ─ Policiais da DIG em poucas horas Descobrem homicídio ocorrido há um mês e prendem autor

BRAGANÇA - JORNAL
ANO LXVIII • Bragança Paulista, Terça-feira, 28 de Fevereiro de 1995 • N.º 8.466
Foto: Marcos R.O.
Na foto o autor, Daniel Alves da Cruz e o co-autor,
Nilson Acedo Souza Araújo, do homicídio da
rua São Marcos, no Cruzeiro.


Policiais da DIG em poucas horas
Descobrem homicídio ocorrido há um mês e prendem autor

Na noite de sexta-feira, 24, por volta de 23 horas, em virtude de forte mau cheiro que exalava no local, moradores da rua São Marcos, nas proximidades com o cruzamento dom a rua João Franco, no bairro do Cruzeiro, acionaram a Polícia Militar que, por sua vez, acionou o Corpo de Bombeiros para verificação do fato.

Ao local compareceram os policiais militares, sds. Prado e Osmar e também a viatura AS-008 do Corpo de Bombeiros com o sgto. Padilha, cb. Átila e sd. Rogério que perceberam tratar-se de corpo em decomposição razão do mau cheiro que exalava de um poço ali existente.

Pelos integrantes do Corpo de Bombeiros foi feita a retirada do cadáver ali encontrado, em adiantado estado de decomposição, sendo o fato imediatamente levado ao conhecimento da DIG ─ Delegacia de Investigações Gerais, comparecendo ao local o seu titular delegado Paulo Roberto de Queiroz Motta, o delegado de polícia titular do 1.º DP, Marcelo Fábio Vita e o investigador Sidney, encarregado da equipe "C" de investigadores da DIG, os quais verificaram o fato. Foi determinada a remoção do cadáver para a Sala de Anatomia da USF para os exames necroscópicos, iniciando os oficiais desde logo, as averiguações.

Ouvindo testemunhas no local, chegaram aos nomes de dois suspeitos, moradores à rua São Marcos, 38, nos fundos da casa dos quais situava-se o poço onde o cadáver fora encontrado. Tratavam-se dos indivíduos Daniel Alves da Cruz, 31 anos, e Nilson Acedo Souza Araújo, 32 anos. Nos depoimentos de testemunhas foi dito que, há meses, um homem teria esfaqueado a amásia de Daniel.

Procurados pelos policiais civis, ambos foram encontrados num bar das proximidades. Levados à DIG foram interrogados e acabaram confessando o crime.

Daniel relatou que há um mês, mais precisamente, a 25 de janeiro último, à noite, ele e Nilson encontravam-se bebendo em sua casa, em companhia de suas amásias, tendo, também, a companhia de um amigo de nome Messias, quando ali chegou Manoel Messias da Silva, vulgo "Alemão", branco, 35 anos, sem residência fixa. Este, já embrigado, ao chegar agrediu Messias e o colocou para fora da casa. Isso e mais o fato de Alemão ter afirmado que tinha um caso com a amásia de Daniel, ocasionou uma breve discussão entre Daniel e Alemão, tendo o primeiro chamado Nilson e as amásias para fora de casa e mandado que as mulheres fossem lavar roupa, o que foi feito por elas, enquanto Daniel e Nilson voltaram para o interior da casa, onde se encontrava ainda Alemão, bastante embriagado. Este fora quem agredira a amásia de Daniel, comforme informações de testemunhas.

Apossando-se de um pau, de aproximadamente 48 cm de comprimento, retangular, com cabo, Daniel desferiu várias pauladas na cabeça de Alemão, prostrando-o morto. A seguir, com o auxílio de Nilson que a tudo assistira, arrastou a vítima, jogando-a no poço existente nos fundos de sua casa, cobrindo-a com entulho e lixo que também jogou a seguir. As chuvas intensas que cairam sobra a cidade nos últimos dias provavelmente causaram o deslocamento do material que cobria o cadáver e isso fez aparecer o mau cheiro no local que se expandiu pelos arredores.

Diante da confissão, os policiais civis viram coroados de êxito os esforços dispendidos por toda a madrugada com o objetivo de desvendar um crime que, embora ocorrido há um mês, só viera à tona poucas horas antes.

Foi solicitada a prisão temporária dos envolvidos os quais foram recolhidos à Cadeia Pública: Daniel como autor do delito e Nilson como co-autor na ocultação do cadáver.

Foi apreendida em auto próprio a arma do crime resgatada pelos bombeiros do interior do poço onde fora atirada.

Com a resolução do homicídio e a prisão do autor e do co-autor, mais uma vez a Polícia Civil local dá demonstração de sua eficiência e de sua capacidade de ação.

Bragança Jornal, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995

domingo, 3 de julho de 2016

03.02.1983 ─ Manaus experimenta telefonia móvel

Com o Simplifone muitos problemas poderão ser resolvidos


Manaus experimenta telefonia móvel


Numa experiência pioneira está sendo lançado em Manaus o sistema de telefonia móvel ─ o simplifone que propiciará cobertura a todos os arredores de Manaus, com uma das bases na fazenda Monterosa, no km 78 e uma outra base localizada num raio de 70 km ao redor de Manaus.

O simplifone surge como uma alternativa ao sistema de telefonia móvel e rural de baixo custo e a idealização do sistema é do Engenheiro Benvindo Tavares, com tecnologia desenvolvida pela Telepete, que funcionará em Manaus sob a interveniência da Telamazon. "A experiência atinge Manaus e se der certo, será lançada a nível nacional ─ diz o engenheiro, situando o simplifone como um sistema móvel de telefonia de baixo custo, com acesso a Rede Nacional de Telecomunicações, automático, de fácil aquisição e instalação e de uso universal".

Revelando que o sistema de comunicação brasileiro ainda é deficiente, no setor de telefonia móvel, o engenheiro garante que além de ser praticamente impossível a aquisição de um telefone móvel, por não existir no país e, ainda por se tratar de um sistema caríssimo, um telefone rural ou móvel estaria hoje custando uma faixa de 35 milhões de cruzeiros, o que limita a demanda.

O simplifone, segundo ele, tem um custo barato e pode ser utilizado pelos profissionais liberais, no seu carro; pelos proprietários rurais; pelas empresas de transporte e por uma série de usuários. Ele revelou também que foram gastos dois anos na especificação do sistema que permite ligações telefônicas automáticas via rádio, só permite originar chamadas; não exige identificação do usuário chamador; não exige controle da comercialização dos equipamentos dos usuários; permite o uso do equipamento do usuário em qualquer área onde esteja implantado o sistema de uso móvel; portátil ou fixo; compartilha o máximo o espectro de frequências e prevê canal de escuta para integração com outros sistemas (Bip, rádio táxi, etc).

Mesmo em fase de implantação o sistema já está funcionando em bases experimentais, em pequeno número de usuários como a diretoria da Telamazon e autoridades locais. O sistema, aprovado pela Telebrás, foi levado a frente pela Telepete e hoje segundo Benvindo Tavares, a Telamazon atua como interveniente na venda do equipamento. "Os 70 usuários iniciais do sistema fornecerão todas as informações básicas para o aprimoramento do sistema, cuja vantagem com relação ao sistema de telefone rural, é ser móvel, podendo se deslocar para vários locais, sem qualquer dificuldade ou perda de transmissão.

A Notícia, quinta-feira, 3 de fevereiro de 1983

sábado, 2 de julho de 2016

05.03.1972 ─ MULHER DAS MIL CARAS LEVANTOU 23 MILHÕES



MULHER DAS MIL CARAS LEVANTOU 23 MILHÕES

Suely Trondoni Siniscaco, que tambem usa os nomes de Suely Maria Soares e Marly de Oliveira, é uma professora de musica que mora em Capão Redondo, na rua Dois, 52. Mulher desquitada de muito vivida, cansou de ouvir os sons de piano, piano, resolveu usar a guitarra, que na gíria de malandro é a maquina de fazer dinheiro.

Não que ela imprimisse notas falsas. Mas arranjou uma maquina de fazer dinheiro, sem fazer força. Como a vida andasse dura e os alunos estivessem escasseando, trocou o piano pela caneta e passou a emitir cheques para pagar suas dívidas. Só que usava talões que não lhe pertenciam, fajutando as assinaturas.

Foi assim que lesou Antonio Marques de 29 anos, casado, rua um, 16 ─ Jardim Maracanã; Oswaldo Vieira de Mello, rua Tabapuã, 1033 ─ Itaim; Panificadora e Confeitaria Elimar, av. João Dias, 2.422 e Juvenal Napoleão Figueira, avenida Santo Amaro, 2441. Varios comerciantes aceitaram sem desconfiança, os cheques roubados dessas vitimas em pagamento de mercadorias que ela levou.

QUEIXAS DE MONTE

Quando perceberam as manobras da professora, todos deram queixa nos Distritos mais proximos e ficaram aguardando uma solução. Foi assim que, da denuncia feita por Antonio Marques, os investigadores Paulo Anderaus e Luis Tanoeiro sob a orientação do encarregado Renner, sairam a campo, por determinação do delegado Roberto João Julião, para localizar Suely. As demais queixas foram então levantadas e eles notaram que a mulher agia em Santo Amaro, onde todos os Distritos (34.º, 14.º, 11.º, 15.º e 43.º) tinham queixas registradas, cujos prejuizos perfaziam total superior a 23 mil cruzeiros.

Assim passaram a procurar pela mulher que assinava diversos nomes chegando até suas vitimas, algumas das quais desconfiavam de uma pessoa, notando os investigadores que em todos os casos sua descrição invariavelmente era a mesma.

IDENTIFICADA E PRESA

Num rapido levantamento de fichas do DEIC conseguiram suas principais caracteristicas pois ela ja possuia varias passagens pela Delegacia especializada em estelionatos daquele Departamento. Uma vez de posse de todos os pormenores sobre a mulher, conseguiram localizá-la levando-a ao 11.º Distrito, onde já assinou quatro inqueritos pela pratica de estelionato.

Suely não negou que houvesse emitido os cheques que não lhe pertenciam, explicando que essa era a melhor forma de poder viver tranquilamente, ganhando dinheiro sem fazer força. Ontem mesmo, o delegado Roberto João Julião solicitou a prisão preventiva de Suely que, até lá, foi colocada à disposição da Delegacia de Estelionatos do DEIC que procederá a um levantamento geral das queixas ali existentes para ver se ela não deve mais nada à justiça.

NOSSO COMENTÁRIO

O POVO QUER VER A POLICIA NA RUA

Esse é o comentário que se ouve diariamente em todos os meios e locais de nossa Capital, com a nossa população cada vez mais intranqüila e perplexa com a falta de policiamento. A insegurança e intranqüilidade em nosso bairro tem sido das maiores, com os assaltos ocorrendo diariamente em toda região, tanto no centro como na periferia, pois o policiamento preventivo de há muito não eziste. Ultimamente os assaltos estão ocorrendo no centro de Santo Amaro, inclusive obrigando as vitimas a se transformarem em policiais, perseguindo, lutando e prendendo ladrões. Isto aconteceu recentemente na rua Manoel Preto e na rua Paulo Eiró, sendo que na rua Manoel Preto a vitima após entrar em luta corporal e amarrar o assaltante, cansado de procurar algum policial, veio nos procurar a fim de ajudá-lo se livrar do ladrão que estava amarrado em sua casa. Esse fato que à primeira vista parece pitoresco, revela a situação de abandono que se encontra a nossa população sob o aspecto de segurança policial.

Atualmente, raramente encontramos policiais nas ruas de Santo Amaro, o que tem contribuido de maneira decisiva para estimular o crescimento da criminalidade em nosso bairro, com os marginais vendo um campo livre para sua nefasta ação.

Até mesmo as escolas, próximas às vias públicas de grande movimento, como o Grupo Escolar Paulo Eiró, E. M. Lineu Prestes, Colégio Jesus Maria José, Colégio Alberto Conte, Ginásio Melvin Jones, deixaram de ter o seu policial, que sempre foi considerado um verdadeiro "Anjo da Guarda" das crianças, nas perigosas travessias diárias.

Desde logo, queremos ressaltar que nenhuma responsabilidade pode ser atribuida ao Delegado Titular de Santo Amaro, dr. Roberto Julião, pois não é de sua competência o policiamento preventivo, que cabe à Polícia Militar. A atuação do dr. Julião é no campo da investigação exercendo um papel de polícia judiciária, após o crime consumado, sendo humanamente impossível desempenhar as duas funções, isto é, também o de polícia preventiva, a não ser que os Delegados de Polícia também tivessem à sua disposição um batalhão de policiais. Com os poucos homens e parcos recursos de condução que possuem, ainda fazem um verdadeiro "milagre" na realização de "rondas", que ainda tem se constituído no pequeno e sacrificado "freio" de combate aos marginais de nossa região, cujo distrito policial abrange uma das maiores áreas da Capital. Alguma coisa de errado precisa ser consertado, pois por incrível que pareça, quando todos esperavam que com a instalação do 19.º Batalhão em Santo Amaro o nosso policiamento fosse melhorar, aconteceu exatamente o contrário. Não se compreende que contando com maior número de policiais, com uma sede localizada no centro de Santo Amaro, a nossa população continue entregue à sua própria sorte, sem qualquer garantia para si e seu próprio lar.

Temos a certeza absoluta que o exmo. sr. Secretário da Segurança Pública ao tomar conhecimento destes fatos determine as urgentes medidas, a fim de que a traqüilidade tão esperada pela nossa população se torne uma agradável realidade o mais depressa possivel. Do geito que está não pode continuar.

Gazeta de Santo Amaro, domingo, 5 de março de 1972

sexta-feira, 1 de julho de 2016

03.01.1951 ─ "E FUGIREI OUTRA VEZ!"

DEZENOVE TATUAGENS E DEZENOVE HISTÓRIAS DIFERENTES. "CARNE SÊCA" TRAZ NA EPIDERME A HISTÓRIA DE SUA VIDA


ASSIM FUGIU CARNE SECA
─ QUE E' QUE HÁ?
Do cubículo de sua céla, na Penitenciária da rua Frei Caneca, João da Costa Rezende olha o morro de S. Carlos e vai contar ao repórter como fugirá da próxima vez. Não hesita em advertir que usará arame e carretilha. Preparem-se, porque tudo será questão de oportunidade, e o rapaz, usando de franqueza, aqui deixou seu aviso prévio, pois, senhores:

"E FUGIREI OUTRA VEZ!"
DECLARA O CONHECIDO HERÓI DAS FAVELAS • A FUGA É UMA CIRCUNSTÂNCIA NA VIDA DO SENTENCIADO, PREVISTA PELO CÓDIGO PENAL • CRISTO FUGIU ÀS PERSEGUIÇÕES DOS JUDEUS • BELMIRO VALVERDE E OTÁVIO MANGABEIRA JÁ FUGIRAM UM DIA • LUÍS CARLOS PRESTES CONTINUA FUGINDO • NUM PRESÍDIO SÓ HÁ PRESOS E CARCEREIROS, INCLUSIVE O DIRETOR QUE É O CARCEREIRO-MÓR • O RETRATO DE ELVIRA PAGÃ, A HISTÓRIA DAS TATUAGENS E A VISITA DE LUZ DEL FUEGO.
Reportagem de ABDIAS RODRIGUES • Foto de WALTER MORGADO

A notícia chegou à redação dos jornais: «CARNE SÊCA» FUGIU DA PENITENCIÁRIA. Trinta minutos depois tôda a cidade tomava conhecimento do fato. As agências telegráficas noticiaram o acontecimento para o estrangeiro. E à noite, a B.B.C., de Londres, comentava a espetacular fuga de João da Costa Rezende.

Eram 10 horas da manhã quando chegamos à redação. Antes, mesmo que comprimentássemos os colegas, o secretário foi logo perguntando:

─ Onde está o «Carne Sêca»?

─ Isso é o que a polícia quer saber ─ respondemos.

─ Bem. O sr. está incumbido de fazer a reconstituição da fuga de «Carne Sêca».

DESCANSAR
Um dos pátios da Penitenciária onde os detentos comportados ficam à vontade, em repouso.

LIBERDADE
Mais de mil homens vivem no edifício purgando seus crimes. Entre êles está «Carne Sêca».

FUMANDO ESPERA . . .
O cigarro é o companheiro inseparável dos detentos e mesmo aquêles que nunca tuveram êsse vício, presos, o adquirem.

LEITOR DE ZAMACOIS
A prisão é um «cemitérios dos vivos», já o disse Zamacois em «Os vivos mortos». Carne Sêca leu e vive a riscar paredes...

FUJÃO!
Enquanto os outros podem ficar nos pátios, êle vive prêso numa cela. E' o castigo a que estão sujeitos todos os fujões...

HIGIÊNE
Banho de sol e chuveiro, rosto lavado, destes escovados...

HEROI!
Que dirão os jornais hoje a meu respeito?


─ Mas se êle está foragido...

─ Não importa. Faça com outro...

Nesse mesmo dia telefonamos para o Tenente Castro Pinto ─ ex-diretor da Penitenciária. Mas não foi possível falar com o tenente. No dia seguinte, os matutinos noticiaram a prisão do foragido.

─ Hum!!! E o secretário que queria a reconstituição mesmo com outro... A essa hora deve estar esfregando as mão de contente. O azar é do «Carne Sêca». Bem. O homem está de novo nas grades. Agora não vale a pena perder tempo com telefonemas. Vamos até lá...

─ E o tenente...

─ Ah! não se preocupe... O Tte. Castro Pinto é camarada. Antes de ser diretor da Penitenciária foi jornalista militante. Daí a afinidade que há entre êle e os profissionais da pena.


ALGUM DIA O CINEMA FILMARÁ AS SUAS AVENTURAS. O TÍTULO DO FILME PODERÁ SER "UM ROMANCE EM CADA TATUAGEM"

«João da Costa Rezende nasceu a 29 de abril de 1928, num barracão do morro da Favela. E' filho de João da Cruz Rezende e dona Josefina Alves da Costa, que praticou o suicídio recentemente. Seu pai foi funcionário pa Prefeitura do Distrito Federal, onde trabalhou alguns anos, estabelecendo-se depois com uma pequena casa de secos e molhados naquele morro. Contam que o estabelecimento era freqüentado diàriamente por vários malandros ali residentes, que contavam as histórias de suas valentias. Essas narrativas exerceram sôbre a criança verdadeira sedução. Gostava de ouvi-las e repeti-las depois com os garotos de sua idade. Os filmes de mocinhos e as histórias de vilão foram outras tantas influências que o levaram ao crime mais tarde. Às vezes fazia-se de «bandido», assaltava os garotos, tomava-lhes o dinheiro das compras, punha-os a correr morro a baixo. Orgulhava-se dêsses seus feitos e se mostrava envaidecido das vitórias sôbre os outros garotos. Como era raquítico puseram-lhe o apelido de «Carne Sêca».

Chegou asim aos 11 anos. Nessa época ignorando os motivos, viu seu pai separar-se de sua mãe. Abandonada pelo marido, esta arcou com grandes dificuldades, enfrentando a miséria que lhe batia à porta».

Sentindo-se à vontade, liberto da autoridade paterna, «Carne Sêca» ficou livre também para as ações que copiava dos «valientes» da zona. Sua mãe não dispunha de energia bastante para domá-lo. Tornou-se então uma criança temida por todos e repudiada pelos outros meninos. Tal situação obrigou d. Josefina a recorrer às pessoas de suas relações para interná-lo numa instituição de menores. Foi matriculado e internado na Fundação Darcy Vargas, onde estêve 3 anos, trabalhando como pequeno jornaleiro. E foi campeão numa competição organizada pela Fundação.

Em sua infância «Carne Sêca» teve aspirações. Ora queria ser médico, ora queria ser engenheiro: mas nunca pôde nem mesmo completar o curso primário. Deixando a Fundação, arranjou um emprêgo de vidraceiro, trabalhando no ofício algum tempo. Data dessa época o seu casamento com Lêda. E' também de então o seu primeiro contacto com a polícia. Morava numa «cabeça de porco», onde travou conhecimento com um tal de Joel, que foi morto tempos depois. No quarto de Joel, um dia, a polícia apreendeu vários objetos roubados. Sua ligação com o meliante deu margem a suspeitas. Viu-se, portanto, envolvido e prêso. Embora protestasse, dizendo-se inocente, arranjaram-lhe três processos. Desde então, afirmou, «tornei-me um revoltado».

Posteriormente «Carne Sêca» foi condenado por 5 arrombamentos no 20º Distrito: 2 assaltos no 21º Distrito, além de outros crimes de tavolagem e sedução de menores. Perguntamos-lhe pelo bando que chefiava e êle, respondeu que nunca teve bando: que o bando só existe na cabeça da polícia. ─ «Sempre agi sòzinho». acentuou.

─ «Apenas uma vez fui obrigado a admitir alguns trabalhadores». Foi quando assaltei um ônibus. E foi uma das boas batidas que fizemos. Depois de virar a caixinha do coletivo tomamos as carteiras dos homens e as jóias das «donas boas».

─ Você não sente remorso do que fêz?

─ Que remorso, que nada. Firemos uma boa farra. Vendemos algumas jóias e outras as oferecemos às nossas cabrochas.

─ Se um dia você encontrar-se conosco, na rua, terá coragem de nos assaltar?

─ Por que não?! Salvo se, quando eu meter o revólver no seu peito, você disser: ─ «Que é isso «Carne Sêca», «livra minha cara», está me estranhando?»


NESSA SEQÜÊNCIA de fotografias o leitor poderá ter uma idéia de como "Carne Sêca" conseguiu fugir pela terceira vez da Penitenciária Central do Distrito Federal. Foi, sem dúvida, um feito sensacional devido às circunstâncias em que se realizou. O edifício do presídio tem quatro andares. No último achava-se João da Costa Rezende, o conhecido "Carne Sêca". Devido à sua fuga anterior, vivia sempre na cela. Sòmente à tarde descia aos pátios para tomar banho de sol, assim mesmo escoltado por dois guardas. Contudo, tôdas as precauções da direção do presídio foram inúteis. Numa noite chuvosa (escolheu de propósito uma noite chuvosa) êle pôs em prática o que pacientemente vinha ruminando. Como o leitor pode ver, da esquerda para a direita, em cima, êle aparece torcendo os lençóis que usou como corda. Em seguida, quebrou a cama patente. O estrado de molas usou-o como escado. A cabeceira serviu para quebar o vidro da clarabóia e as grades que a protegia. Subiu, e com jeito, quebrou tudo, abrindo passagem. Uma vez no sótão do edifício chegou ao terraço. Os guardas, devido ao lamaçal no pátio, estavam ausentes. Não havia o que temer. Amarrou a corda de lençóis num dos paus da cama e o introduziu no bueiro que há no terraço. Depois saltou o pequeno muro e pendurando-se nas cordas chegou ao outro muro que dá para o pátio número cinco. Aí, êle adaptou um gancho na ponta da corda de lençóis e atirou no grande muro.
OU A LIBERDADE OU A MORTE ─ teria dito "Carne Sêca" antes de tentar o sensacional salto que o libertaria finalmente, da prisão. Dentro da noite enorme, enquanto os sentinelas dormiam êle procurava a liberdade. Chegou até aqui sem maiores esforços e sem ser pressentido. Agora era o salto definitivo. Não hesitou. Agachado no muro que divide o pátio n. 5 de outro, chegou ao paredão que dá para o morro de S. Carlos. A corda havia sido lançada. O resto era fácil.


OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA
As 3 irmãs de «Carne Sêca». Duas ainda estão solteiras e são simpáticas. Ao contrário do irmão, são de boa natureza. Em baixo, «Carne Sêca» entre a mãe adotiva e a irmã caçula.

COMENDO E PENSANDO...
Tomando a ração e meditando, naturalmente, na liberdade.

IMPORTANTE!
Mostrando ao repórter uma notícia destacada sôbre a fuga.

A MÃE DE "CARNE SÊCA"
D. Josefina Alves da Costa, mãe do nosso herói, cujo suicídio ocorreu há pouco. Ela no barracão da favela onde morava.

OUTRA IRMÃ
Outra irmã de «Carne Sêca» ─ já casada ─ com seu casal de filhos. Mora com o marido, na favela, e todos ali a estimam.


João da Costa Rezende está condenado a 7 anos de prisão. Já cumpriu 2 anos e 6 meses. Durante êsse espaço de tempo fugiu 3 vêzes. Primeiro pelo esgôto, juntamente com outros presidiários. Depois quando era escoltado para o Tribunal do Juri, conseguiu burlar a vigilância dos soldados e escapou. Nessa ocasião foram mobilizados mais de 300 policiais para a sua captura. Houve batidas e cercos em todos os morros. Receioso de ser morto a qualquer momento, resolveu entregar-se ao Juiz Teles Neto, que o mandou a exame no Instituto Médico Legal a fim de ser provado que o seu corpo estava isento de equimoses. Prevenia-se assim o esperto «Carne Sêca» contra o ódio que a polícia tem pelos fujões.

Essas repetidas fugas, como é natural, têm deixado o Tenente Castro Pinto um tanto contrariado. Assim, como medida de prudência, João Rezende foi encerrado numa cela. Contudo, não lhe tem faltado nada, inclusive o necessário banho de sol. Mas, ao que tudo indica, «Carne Sêca» zomba das providências tomadas pela direção da Penitenciária. Pois, decorridos apenas 8 meses da sua segunda fuga, a cidade recebe com surprêsa a notícia de uma terceira e em circunstâncias espetaculares. Interrogado se tenciona abalar novamente, disse:

─ Assim que me der na cabeça fugirei outra vez. Podem me botar até num subterrâneo!

Perguntamos por que fugia:

─ Tenho saudades da liberdade, respondeu.

Depois de pequeno silêncio, panhou uma fôlha de papel almaço e começou a ler em voz alta o que o seu vizinho de cela ─ Macrino Barreto ─ escreveu inspirado nas suas fugas:

«Fugir é um direito que assiste a todos os perseguidos. Cristo fugiu às perseguições dos judeus. Napoleão tentou fugir de Santa Helena. Alexandre e Nero também fugiram um dia. E o grande Luís Carlos Prestes continua fugindo da sanha dos seus inimigos políticos. O Código Penal prevê a fuga no seu Art. 684, acentuando que a fuga é uma circunstância na vida do sentenciado. Num presídio só há dois tipos de gente: presos e carcereiros. Essa história de funcionários é lá fora. Aqui todos são carcereiros, inclusive o diretor que é o carcereiro-mor».


─ Da próxima vez não me agarram mais. Fui «pêgo» agora por que estava «duro», sem um tostão.

─ Estava mesmo esperando armas?

─ Estava, sim. Esperava 2 «paus de fogo».

─ Só dois?

─ Para que mais! Só tenho 2 mãos!

─ E quem ia lhe arranjar essas armas?

─ Bem, isso eu não posso dizer senão vou comprometer «alguém» que é muito minha amiga.

─ Então...

─ Sim, é mulher e chama-se Maria. E' tudo o que lhe posso dizer.

─ Naturalmente um dos seus amôres, não é verdade?

─ E' uma criatura a quem eu quero muito bem e que faz tudo por mim.

─ E essas tatuagens que tem no corpo, têm alguma história?

─ Sim, cada uma lembra-me uma história de amor que vivi.

E apontando no peito: «Aqui estava o nome de Lêda, que foi o meu maior amor. Mandei riscá-lo por que ela me traiu. A loura do braço direito foi minha amante. A cruz e o coração, são um segrêdo inconfessável. O São Sebastião, tatuado nas costas, é porque eu sou devoto dêsse santo. Enfim, ao todo, são 19 tatuagens e 19 histórias.

─ Você fugiu para ir se encontrar com alguma dessas mulheres?

─ Eu fugir para ir ter com mulheres ─ disse admirado ─ nunca! Para isso não é preciso fugir. Nunca vou ao encontro das mulheres. São elas que vêm ao meu encontro.

E apanhando um retrato de Elvira Pagâ:

─ O sr. deve conhecer essa «dona boa»...

─ E' Elvira Pagã ─ respondemos.

─ Pois é minha fã. Mandou-me um retrato autografado, que aliás não chegou às minhas mãos. Sei disso por que «gente liga» que tenho aqui dentro me falou. A qualquer momento dêsses a Luz des Fuego virá me visitar, estou informado. Isso é só para falar de gente com cartaz, afora «brotinhos» e mais «brotinhos» que vivem a suspirar por «Carne Sêca». Dizendo isso deu uma gargalhada e acendeu um cigarro.

─ Você sente-se bem com a publicidade que tem?

─ Nem sempre. Às vezes fico receoso e lembro-me do «Zé da Ilha». Coitado! Era u'a moça! Foi a polícia quem o matou. Deu-lhe cartaz e depois dizia que tudo de ruim que aparecia era feito por êle. A polícia nunca me deu ordem de prisão. Quando me vê, começa logo a atirar. Felizmente eu tenho o «corpo fechado». Bala em mim não pega.

─ Dizem que você tem santo enterrado no corpo, é verdade?

─ Enterrado no corpo, não; mas trago no pescoço e sei rezas que minha mãe me ensinou.

─ Como conseguiu fugir?

─ Muito simples e muito fácil. Rasguei 4 lençóis e um cobertor. Fiz cordas. Quebrei a cama patente. Com as molas fiz um gancho. Com os pés da cama quebrei a téla de ferro que protege a clarabóia. Em seguida quebrei o vidro. A cama me serviu de escada. Subi. Saí no sótão, cheguei ao terraço. No bueiro coloquei um pé da cama e amarrei a corda de lençóis. Desci até ao muro que separa o pátio número 5 de outro pátio. Andando, escanchado, cheguei ao paredão do muro. Joguei a corda com o gancho. Subi o muro e pulei do outro lado. Estava, assim, livre. O resto todo mundo já sabe. No morro do Jacarézinho, estava no barracão esperando 2 «paus de fogo» e uma «gaita» para fazer a pista para bem longe, quando fui prêso por 2 soldados da polícia militar.

─ E os guardas não viram nada?

─ Não viram nada e não têm culpa nenhuma. Planejei tudo muito bem. Quando chove, os pátios, principalmente o número 5 cujo fundo dá para o morro de São Carlos, ficam com um metro de lama, devido às enxurradas do môrro. Sabendo disso esperei a chuva. Sabia que com a lama e o temporal os guardas não ficariam no pátio número 5. A minha fuga não foi improvisada. Foi aliás pacientemente estudada. Daí a razão do êxito. Da próxima vez, talvez eu saia daqui voando ─ disse sorrindo. Eu estou no quarto andar: lá está o morro de São Carlos, apontou. O muro não chega a ter a altura de 2 andares. Há, portanto, grande declive. Com um rôlo de arames e uma carretilha eu posso sair daqui voando e atiro o rôlo com se fosse uma respentina. Adapto a carretilha e pronto...

Assim falou «Carne Sêca». Essas são suas perspectivas da próxima fuga. Que diz a isso o diretor da penitenciária?

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Revista da Semana, quarta-feira, 3 de janeiro de 1951