domingo, 10 de julho de 2016

27.11.1979 ─ Os meninos atacam no Jardim Europa

CRIME


Os meninos atacam no Jardim Europa

Seqüestro na porta da mansão. Uma das vítimas é diretor de banco. Carro de luxo tinha até telefone.

ANTÔNIO CARLOS FON

Luís Said foi salvo por uma falha de memória. Ele já estava na porta de casa quando alguém se lembrou de pedir-lhe um jornal. Enquanto ele voltava para apanhá-lo, os seqüestradores chegaram. Era dois rapazinhos, ambos com idade entre 16 e 17 anos, armados com um revólver calibre 38 e uma pistola Luger nove milímetros. Sob a mira dessas armas, eles tomaram o Mercedes Benz branco, 1973, chapa EX-9262, e seus passageiros ─ Ieda Said, esposa de Luís, Heloísa Abreu Pereira, Alice Loureiro, Jairo Loureiro e Luís Eduardo Pinto filho ─ como reféns. As duas horas seguintes seriam de intensa correria para os seqüestrados, seqüestradores e a polícia.

Foi o próprio Luís Said quem avisou a policia do seqüestro. Enquanto os carros do GARRA ─ Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos ─ procuravam cercar o Jardim Europa, onde aconteceu o seqüestro, na madrugada da segunda-feira, os dois seqüestradores descobriam que os ricos, os realmente ricos ─ e Luís Eduardo Pinto filho é diretor do Unibanco ─ não carregam muito dinheiro.

O primeiro telefonema dos seqüestradores, cinqüenta minutos depois, foi feito do telefone instalado no próprio Mercedes para Walter Abreu, um parente de Heloísa. Eles exigiam Cr$ 35.000,00 para soltar os reféns: "Somos menores fugitivos da FEBEM", avisaram eles, "qualquer vestígio de polícia e matamos todos eles. A lei não pode nos alcançar mesmo".

O segundo telefonema, alguns minutos mais tarde, foi atendido pelos delegados Aldemar Magalhães Lopes e Manoel Adamus Neto, do GARRA. Foram eles que combinaram o local ─ na marginal, sob a ponte da Cidade Universitária ─ onde seria pago o resgate.

Para seguir o Mercedes roubado ─ que seria encontrado depois abandonado em Santo Amaro ─ os policiais utilizaram dois automóveis. Em um deles viajava Walter Abreu, encarregado de pagar o resgate, no outro, os policiais o seguiriam.

Não chegou a haver perseguição, entretanto. Ao chegarem no local, enquanto o automóvel em que Walter Abreu se preparava para atravessar a ponte e fazer a troca dos reféns pelo dinheiro, os policiais tentavam dar a volta pela ponte do Jaguaré, para colocar-se atrás dos seqüestradores.

Em cima da ponte da Cidade Universitária, todavia, os dois rapazes interceptaram a perua Caravan de Walter Abreu. Foi tudo muito rápido, toda a operação não tomou mais que alguns segundos: enquanto um dos seqüestradores tomava o dinheiro de Walter Abreu, o outro empurrava os reféns para fora da Mercedes Benz. Na pista, do outro lado do rio Pinheiros, a polícia só pôde ver o Mercedes Benz fugir, a alta velocidade, em sentido contrário.

Jornal A República, terça-feira, 27 de novembro de 1979

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