sábado, 2 de julho de 2016

05.03.1972 ─ MULHER DAS MIL CARAS LEVANTOU 23 MILHÕES



MULHER DAS MIL CARAS LEVANTOU 23 MILHÕES

Suely Trondoni Siniscaco, que tambem usa os nomes de Suely Maria Soares e Marly de Oliveira, é uma professora de musica que mora em Capão Redondo, na rua Dois, 52. Mulher desquitada de muito vivida, cansou de ouvir os sons de piano, piano, resolveu usar a guitarra, que na gíria de malandro é a maquina de fazer dinheiro.

Não que ela imprimisse notas falsas. Mas arranjou uma maquina de fazer dinheiro, sem fazer força. Como a vida andasse dura e os alunos estivessem escasseando, trocou o piano pela caneta e passou a emitir cheques para pagar suas dívidas. Só que usava talões que não lhe pertenciam, fajutando as assinaturas.

Foi assim que lesou Antonio Marques de 29 anos, casado, rua um, 16 ─ Jardim Maracanã; Oswaldo Vieira de Mello, rua Tabapuã, 1033 ─ Itaim; Panificadora e Confeitaria Elimar, av. João Dias, 2.422 e Juvenal Napoleão Figueira, avenida Santo Amaro, 2441. Varios comerciantes aceitaram sem desconfiança, os cheques roubados dessas vitimas em pagamento de mercadorias que ela levou.

QUEIXAS DE MONTE

Quando perceberam as manobras da professora, todos deram queixa nos Distritos mais proximos e ficaram aguardando uma solução. Foi assim que, da denuncia feita por Antonio Marques, os investigadores Paulo Anderaus e Luis Tanoeiro sob a orientação do encarregado Renner, sairam a campo, por determinação do delegado Roberto João Julião, para localizar Suely. As demais queixas foram então levantadas e eles notaram que a mulher agia em Santo Amaro, onde todos os Distritos (34.º, 14.º, 11.º, 15.º e 43.º) tinham queixas registradas, cujos prejuizos perfaziam total superior a 23 mil cruzeiros.

Assim passaram a procurar pela mulher que assinava diversos nomes chegando até suas vitimas, algumas das quais desconfiavam de uma pessoa, notando os investigadores que em todos os casos sua descrição invariavelmente era a mesma.

IDENTIFICADA E PRESA

Num rapido levantamento de fichas do DEIC conseguiram suas principais caracteristicas pois ela ja possuia varias passagens pela Delegacia especializada em estelionatos daquele Departamento. Uma vez de posse de todos os pormenores sobre a mulher, conseguiram localizá-la levando-a ao 11.º Distrito, onde já assinou quatro inqueritos pela pratica de estelionato.

Suely não negou que houvesse emitido os cheques que não lhe pertenciam, explicando que essa era a melhor forma de poder viver tranquilamente, ganhando dinheiro sem fazer força. Ontem mesmo, o delegado Roberto João Julião solicitou a prisão preventiva de Suely que, até lá, foi colocada à disposição da Delegacia de Estelionatos do DEIC que procederá a um levantamento geral das queixas ali existentes para ver se ela não deve mais nada à justiça.

NOSSO COMENTÁRIO

O POVO QUER VER A POLICIA NA RUA

Esse é o comentário que se ouve diariamente em todos os meios e locais de nossa Capital, com a nossa população cada vez mais intranqüila e perplexa com a falta de policiamento. A insegurança e intranqüilidade em nosso bairro tem sido das maiores, com os assaltos ocorrendo diariamente em toda região, tanto no centro como na periferia, pois o policiamento preventivo de há muito não eziste. Ultimamente os assaltos estão ocorrendo no centro de Santo Amaro, inclusive obrigando as vitimas a se transformarem em policiais, perseguindo, lutando e prendendo ladrões. Isto aconteceu recentemente na rua Manoel Preto e na rua Paulo Eiró, sendo que na rua Manoel Preto a vitima após entrar em luta corporal e amarrar o assaltante, cansado de procurar algum policial, veio nos procurar a fim de ajudá-lo se livrar do ladrão que estava amarrado em sua casa. Esse fato que à primeira vista parece pitoresco, revela a situação de abandono que se encontra a nossa população sob o aspecto de segurança policial.

Atualmente, raramente encontramos policiais nas ruas de Santo Amaro, o que tem contribuido de maneira decisiva para estimular o crescimento da criminalidade em nosso bairro, com os marginais vendo um campo livre para sua nefasta ação.

Até mesmo as escolas, próximas às vias públicas de grande movimento, como o Grupo Escolar Paulo Eiró, E. M. Lineu Prestes, Colégio Jesus Maria José, Colégio Alberto Conte, Ginásio Melvin Jones, deixaram de ter o seu policial, que sempre foi considerado um verdadeiro "Anjo da Guarda" das crianças, nas perigosas travessias diárias.

Desde logo, queremos ressaltar que nenhuma responsabilidade pode ser atribuida ao Delegado Titular de Santo Amaro, dr. Roberto Julião, pois não é de sua competência o policiamento preventivo, que cabe à Polícia Militar. A atuação do dr. Julião é no campo da investigação exercendo um papel de polícia judiciária, após o crime consumado, sendo humanamente impossível desempenhar as duas funções, isto é, também o de polícia preventiva, a não ser que os Delegados de Polícia também tivessem à sua disposição um batalhão de policiais. Com os poucos homens e parcos recursos de condução que possuem, ainda fazem um verdadeiro "milagre" na realização de "rondas", que ainda tem se constituído no pequeno e sacrificado "freio" de combate aos marginais de nossa região, cujo distrito policial abrange uma das maiores áreas da Capital. Alguma coisa de errado precisa ser consertado, pois por incrível que pareça, quando todos esperavam que com a instalação do 19.º Batalhão em Santo Amaro o nosso policiamento fosse melhorar, aconteceu exatamente o contrário. Não se compreende que contando com maior número de policiais, com uma sede localizada no centro de Santo Amaro, a nossa população continue entregue à sua própria sorte, sem qualquer garantia para si e seu próprio lar.

Temos a certeza absoluta que o exmo. sr. Secretário da Segurança Pública ao tomar conhecimento destes fatos determine as urgentes medidas, a fim de que a traqüilidade tão esperada pela nossa população se torne uma agradável realidade o mais depressa possivel. Do geito que está não pode continuar.

Gazeta de Santo Amaro, domingo, 5 de março de 1972

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