sexta-feira, 23 de setembro de 2016

03.05.1994 ─ Para namorada, 'piloto disse ser muito forte'

Adriane Galisteu (esq.), em Sintra, Portugal, após receber a informação da morte de Senna


Para namorada, 'piloto disse ser muito forte'

Acidentes ocorridos durante os treinos deixaram o piloto brasileiro nervoso e chateado; após jantar com amigos e com o irmão, no sábado, Senna telefonou para tranquilizar Adriane

CRISTINA DURAN

LISBOA ─ O que Adriane Galisteu, namorada de Ayrton Senna, mais lembra é dele ter lhe dito, no último telefonema, sábado: "Não se preocupe comigo e, não esqueça, sou forte, muito forte." Senna disse isso para acalmá-la porque, em telefonema anterior, depois dos acidentes ocorridos durante os treinos, se mostrou nervoso e chateado, avisando que, por isso, não correria mais naquele dia. Na casa do piloto em Faro, Algarve (sul de Portugal), Adriane ficou tranqüila. No dia seguinte viu o acidente pela televisão, em pânico fretou um avião para ir a Bolonha e, minutos antes da decolagem, soube que já não adiantava. Acabou sendo levada para Sintra, na casa do banqueiro Antonio Carlos Braga, íntimo amigo de Senna, onde ele costumava se hospedar quando treinava no Autódromo de Estoril.

Calmante ─ De madrugada, ela ainda pôde rever no vídeo o acidente e só dormiu depois de tomar um calmante. Triste, contendo o choro, mas muito controlada e discreta, de tarde decidiu atender a todos os telefonemas de amigos e familiares. E ainda recebeu uma rosa vermelha de Cesar Calinas, um funcionário público de 26 anos, fã de Ayrton desde que ele começou a aparecer no Estoril. Calinas tem todos os ingressos assinados por ele e lembra de longos papos que batiam no portão da casa de Sintra. "Se não puder colocar a flor no túmulo dele, por favor, ao menos coloque-a em um vaso no quarto onde dormia", pediu Calinas em prantos.

SENNA PLANEJAVA VIAJAR PARA PORTUGAL

Adriane contou que Senna estava alterado no sábado. Ele ligou do box e disse que não correria mais no treito. Mas, à noite voltou a telefonar, mais calmo. Tinha jantado com amigos, o Braga e o irmão e me tranquilizou. "Se eu tivesse o poder de voltar atrás dois dias, tomaria alguma atitude", lamentou a namorada.

Para Adriane, um acidente fatal era coisa que nunca lhe passou pela cabeça. "Ele sabia dos riscos que corria, mas sempre foi sério e profissional", relembrou.

Os planos do casal eram de se encontrar em Portugal, onde ficariam até hoje para ir aos treinos na Inglaterra. Depois iriam para Mônaco ou voltariam para um descanso no Algarve. Agora, Adriane deve voltar hoje para São Paulo.

O Estado de S. Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994

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