quinta-feira, 15 de setembro de 2016

13.04.1984 ─ Pena por matar Talita: 49 anos




Pena por matar Talita: 49 anos

Da sucursal do ABC

O assaltante Franklin Pedro da Silva, de 26 anos, preso em flagrante durante a invasão da agência do Banco Itaú, em São Caetano do Sul, dia 31 de outubro do ano passado, quando morreram baleadas a menina Talita Thomé Tomarevski, de sete meses, e sua mãe, Laura Thomé Tomarevski, de 23 anos, foi condenado ontem a 46 anos e seis meses de prisão, além de mais três anos como medida de segurança. O juiz Wanderley Aparecido Borges, da 2ª Vara Criminal, que proferiu a sentença, determinou, ainda, a instauração de inquérito para apurar o envolvimento da advogada Luci Muller com as atividades da quadrilha à qual Franklin pertencia. Em entrevista à imprensa após sua prisão, o marginal afirmou que do Cr$ 1,3 milhão que recebeu da parte do assalto a uma fábrica de fermento, um milhão foi destinado à advogada para libertar seu irmão da cadeia.

Seu irmão gêmeo Jefferson Pedro da Silva morreu durante a tentativa do assalto à agência do Itaú, juntamente com outros quatro integrantes da quadrilha. O sétimo elemento do grupo ─ que saiu do banco correndo com Talita no colo já baleada e a entregou a um comerciante ─ ainda está foragido, mas a polícia já descobriu sua identidade. Trata-se de Carlos Pires da Rocha, o Carlinhos, de 29 anos, que residia em Ferraz de Vasconcelos e cumpria prisão-albergue domiciliar, pois fora condenado a nove anos, por assalto, em Araraquara. O pedido de prisão preventiva de Carlinhos já se encontra no Fórum. Além de testemunhas o terem reconhecido como o sétimo elemento, a polícia de São Caetano, juntamente com o Deic, conseguiu obter fotografias que mostram Carlos Pires da Rocha, numa festa, na véspera do assalto, juntamente com os outros integrantes da quadrilha.

Além da morte de Talita e de sua mãe, a ação dos marginais também fez com que outro cliente do banco, Riquizo Sadao Ocura, 35 anos, ficasse paraplégico, por causa de um projétil calibre 45 que recebeu na espinha. As balas que atingiram Talita e Laura eram de uma arma automática calibre 45 (no Brasil, ela é privativa das Forças Armadas), até hoje não localizada.

A morte das duas abalou a opinião pública, principalmente pela frieza com que foram atingidas. Laura Tomarevski, que era professora de balé, levou sua filha até o banco para efetuar um depósito, quando os assaltantes chegaram. Em determinado momento, Talita começou a chorar e um dos bandidos gritou. "Manda essa praga calar a boca se não mato as duas" ─ o que foi feito. Com isso, iniciou-se o tiroteio com os guardas de segurança do banco e, em seguida, com policiais militares.

Embora no processo não tenha ficado claro quem atirou na menina e sua mãe, Franklin recebeu a pena como coautor do crime. O comerciante Sadao Ocura, em juízo, afirmou que, após ser atingido, viu Franklin em posição de tiro, com a arma calibre 45. O assaltante, por sua vez, afirma que seu irmão gêmeo é quem estava com a arma automática.

A sentença proferida pelo juiz Wanderley aparecido Borges ─ que está sendo promovido para a 9ª Vara Criminal da Capital ─ foi tida no próprio Fórum de São Caetano como inédita. Primeiro, no que se refere à soma de anos aplicados a um réu envolvido num único processo e pelo fato de ter determinado a instauração de inquérito envolvendo a advogada da vítima. Franklin Pedro da Silva foi enquadrado em diferentes artigos do Código Penal: formação de quadrilha armada, roubo seguido de violência (latrocínio), reincidência (na época do assalto ele se encontrava em liberdade condicional) e morte de criança. Recebeu ainda uma multa de Cr$ 33 mil.

O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 1984

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