terça-feira, 31 de maio de 2016

10.07.1982 - Arnaldo na final

ZERO HORA ─ Sábado, 10.07.82 ─ PÁGINA 40
ESPECIAL
zero
hora
ESPAÑA 82


Tem brasileiro na decisão,
sim, mas é um árbitro
Arnaldo:
estilo
brasileiro
na final
européia

Arnaldo na final

A comissão de arbitragem da FIFA indicou, ontem no início da tarde espanhola, o árbitro brasileiro Arnaldo César Coelho para dirigir a grande final de amanhã, no Santiago Bernaberu, entre Itália e Alemanha Ocidental. O israelense Klein e o theco Christov serão seus auxiliares.

O brasileiro recebeu a notícia com equilíbrio e reconheceu que já sabia, indiretamente, dessa possibilidade há mais tempo. Só não queria ficar muito confiante para não ter o risco de decepcionar-se em caso de não ver seu nome confirmado para a finalíssima:

— Quando fui escalado para Alemanha e Inglaterra, na segunda fase, uma pessoa me disse que eu apitaria ainda outro jogo nessa Copa. A partir da escala das semifinais, com o Brasil desclassificado e eu fora, senti que poderia estar na final. Mas fiquei firme.

E, de repente, naquele hall do hotel da Estação de Chamartin, Arnaldo lembrou-se da primeira semana na Espanha, quando estava cotado para apitar só a primeira fase, ante a perspectiva da Seleção Brasileira chegar à final, e depois levou um susto ao ficar fora da escala nos 36 primeiros jogos:

— Lembra que você colocava a questão de torcer ou não para a nossa Seleção na relação inversa de poder ir ou não mais longe nessa Copa? Pois é, as coisas acontecem e fim. Nós todos sentimos a eliminação até certo ponto injusta do Brasil mas agora tive a oportunidade de representar o futebol brasileiro nessa festa final de uma Copa do Mundo.

Dirigir Itália e Alemanha Ocidental, dois times europeus, não preocupa o juiz brasileiro:

— São simplesmente dois times, um contra o outro. E fim. Um de branco, outro de azul. É só aplicar a regra e tudo bem. O que a gente não pode admitir é o que tem acontecido com alguns árbitros, que chegam numa Copa do Mundo e não mantêm o mesmo comportamento que os levaram até ali. Aí, é que acontecem certas coisas...

Depois do susto na primeira escala, Arnaldo teve a primeira de muitas surpresas agradáveis ao ser incluído entre os cinco melhores do mundo. E agora, mesmo como juiz da final, não se considera o melhor de todos:

— Seria um absurdo dizer que sou o melhor juiz do mundo. Acho que estou entre os melhores, realmente, prova disso é que estou nessas condições aqui, mas apito a final pela circunstância de não ter nenhum time sul-americano envolvido, principalmente o Brasil, que era considerado grande candidato até a semana passada.

Garantindo que a proibição da FIFA para que os árbitros dêem entrevistas durante a Copa do Mundo refere-se apenas ao "aspecto técnico da competição", mandando um abraço especial para seus amigos juízes da Federação Gaúcha de Futebol e admitindo que uma boa atuação nessa decisão de Copa do Mundo poderá ser muito importante para seu futuro como juiz de futebol, Arnaldo César Coelho despediu-se tranqüilamente dos repórteres, ontem à tarde, como se fosse dirigir uma simples pelada amanhã, num subúrbio do Rio de Janeiro.

Zero Hora, sábado, 10 de julho de 1982

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