terça-feira, 10 de maio de 2016

A Ferrari, empurrada até o box, nem largou
Na largada, quem saiu na frente foi Emerson. Depois, Wilson dominou. 


Os irmãos Fittipaldi dominam a Copa

Os irmãos Fittipaldi, Wilson e Emerson, foram os Grandes vencedores da segunda corrida da Copa Brasil de Automobilismo Internacional. Ocuparam as duas primeiras posições desde o inicio, não deram chance de aproximação a nenhum adversado o no fim das 21 voltas foram entusiasticamente aplaudidos pelo grande publico que foi a Interlagos ontem à tarde.

Surpreendendo a todos, pois sua Lola T-70 apresentava varios problemas na vespera da prova, Wilson venceu com a media horada de 160,303 — batendo o recorde de Interlagos na terceira volta com 2m54s8 10. Menos de cinco metros atrás chegou Emerson, na Lola T-210, depor de manter a segunda posição desde o inicio sem conseguir passar pelo irmão.

Os espanhóis que foram os lideres da primeira prova, tiveram que se conformar com o terceiro e quarto lugares: o principe Jorge de Bragation tombem completou as 21 voltas no seu Porsche 908 mas muito longe de Wilson e Emerson. Alex Soler, no Porsche 907, ficou em quarto completando apenas 20 voltas sem nunca ameaçar os três primeiros colocados.

Na frente, os dois irmãos 

Wilson Fittipaldi começou a mostrar que poderia vencer durante a prova de classificação realizada ao meio-dia (adiada no sabado por causa das chuvas). Conseguiu o terceiro melhor tempo, ficando atrás apenas da Ferrari 512/S do Italiano Gian Piero Moretti e da Lola T-210 de Emerson Fittipaldi. O quarto tempo foi do espanhol Jorge de Bragation.

Mesmo assim, poucos acreditavam na vitoria do Wilson. Até seu pai havia pedido que desistisse da prova, dizendo que ele havia passado a noite em claro resolvendo os problemas da Lola T-70 e que era multo arriscado correr tão cansado. Além disso, um dos problemas não havia sido solucionado: a quinta marcha não engatava e Wilson seria obrigado a correr segurando a alavanca do cambio.

Wilson acabou convencendo o pai de que podia correr e que depois de duas semanas cercado pelo azar sentia poder lutar pela vitoria. E antes da corrida começar, ele já se livrava de um adversario muito forte: a Ferrari 512 S apresentava problemas na manga do eixo, tentou largar e não conseguiu.

Na largada, Emerson saiu na frente, com Wilson atrás e Jorge de Bragation em terceiro. A liderança de Emerson, entretanto, não chegou a durar uma volta: ultrapassado na Curva da Ferradura pelo irmão, viu-se obrigado a correr em segundo até o final. Correndo a alguns metros atrás de Wilson, varias vezes tentou ultrapassá-lo, mas apesar de todos os esforços não conseguiu.

A partir da sexta volta, a luta pelo primeiro lugar restringiu-se apenas aos dois irmãos, que aumentavam gradativamente suas vantagens sobre os espanhóis. Muito distanciados dos quatro, correram o português Ernesto Neves (Lotus-47) e o argentino Jorge Ternengo (prototipo Tornado).

Na ultima volta, com o publico de pé e vibrando, as Lolas correram praticamente Juntas, com Wilson mantendo uma diferença minima sobre Emerson ao receber a bandeirada final, dada pelo governador eleito Laudo Natel. Quando desceu do carro, completamente molhado pelo suor e sem esconder o cansaço, Wilson ergueu os braços e sorriu para o pai.

Para Wilson, a vitoria foi a maior recompensa pelo trabalho dos ultimos dias: noites em claro com os mecanicos tentando solucionar os pequenos problemas do carro, o aborrecimento durante os treinos quando os problemas insistiam em voltar e a preocupação que dizia sentir pelo "azar que começou a me perseguir". 

Ao receber a coroa de louros do vencedor, abraçado por Emerson e por Jorge de Bragation, as palavras de Wilson foram simples e humildes:

"A sorte hoje me ajudou um pouco".

Emerson dizia que o resultado final foi justo "tenho que ficar contente com o segundo lugar, pois fiz tudo e não consegui passar por Wilson" e o principe Jorge de Bragation mostrava-se conformado: embora saiba que será muito dificil vencer os irmãos Fittipaldi nas ultimas duas corridas, ainda é o líder, por pontos, da Copa Brasil.

CLASSIFICAÇÃO GERAL

1.o) Wilson Fittipaldi (2) — Lola T-70 — 21 voltas em 1h2m14s1/10. Media horaria: 160,303
2.o) Emerson Fittipaldi (1) — Lola T-210 — 21 voltas
3.o) Jorge de Bagration (10) — Porsche 908 — 21 voltas
4.o) Alex Soler Roig (6) — Porsche 907 — 20 voltas
5.o) Ernesto Neves (9) — Lotus 47 — 19 voltas
6.o) Jorge Ternengo (8) — Prot. Tornado — 19 voltas
7.o) Jaime Silva (26) — Prot. Furia F.N.M. — 19 voltas
8.o) Camilo Cristofaro (18) — Chevrolet Corvette — 18 voltas
9.o) Salvatore Amato (3) — Prot. Amato-Ford — 18 voltas
10.o) Sergio Louzada (35) — Puma 2.000 cc. — 18 voltas
11.o) Silvio Montenegro (5) — Prot. Volks — 17 voltas
12.o) José P. Chateaubriand (73) — Puma — 17 voltas
13.o) Elvio Divani (4) ─ MC-Porsche — 17 voltas
14.o) Graziela Ferrnandes (32) — Alfa GTA ─ 17 voltas
15.o) Aldo Pugliesi (72) — Puma — 16 voltas
16.o) Jan Allan Samuel (15) ─ Volkswagen ─ 16 voltas
17.o) Luís Gama Cruz (63) — Puma — 16 voltas
18.o) Ricardo Di Loreto (24) - Volkswagen — 16 voltas 

Eduardo Celidonio o (Prototipo Snob's Corvair) e Olavn Pires (Prototipo AC) não completaram dois terços da prova, em virtude de problemas mecanicos nos seus carros.

LAFER, O MELHOR DOS NOVATOS

Na prova de estreantes, e novatos, em 10 voltas, o vencedor foi Miguel Lafes, numa Puma 1.600 cc. Edson Yoshikuma, Volkswagen; Jacob Kourouzan, Lorena; Fausto Berti, Volkswagen e Roberto Di Loreto, tambem Volkswagen, chegaram a seguir.

O resultado oficial, entretanto, não foi divulgado, em virtude de uma reclamação do quarto colocado. Fausto Berti, de que a potencia dos três primeiros carros era superior a permitida pelo regulamento. Apenas depois de um exame nos motores desses carros, será divulgado o resultado oficial 
Na primeira volta Wilson passou primeiro pelo principe e depois por Emerson. Até o final, ninguem conseguiu alcançá-lo.

Folha de São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 1970

Nenhum comentário:

Postar um comentário