terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

29.01.1987 - Morte leva "Teixeirão" após longa enfermidade

"Teixeirão" ex-prefeito de Manaus e governador de Rondônia

EX-PREFEITO DE MANAUS

Morte leva "Teixeirão" após longa enfermidade 

Morreu o Teixeirão. Deixou um grande legado ao povo amazonense. Antes de ser governador de Rondônia, o coronel reformado do Exército, foi prefeito de Manaus, nomeado pelo então presidente Ernesto Geisel. Sua marca registrada era trabalho. Quebrou uma máxima de que o povo tinha medo de militar. Ao contrário, Teixeira tornou-se muito popular, várias vezes, aonde chegava, nos bairros, era obrigado a parar para cumprimentar as pessoas.

Avesso à politica, Jorge Teixeira sempre afirmava que disputar cargo eletivo não fazia o seu gênero. Para alguns amigos, como o jornalista Flaviano Limongi, "não era medo de enfrentar as urnas. Era o seu temperamento. Gaucho, Teixeirão deixou grandes obras em Manaus, mas o seu grande sonho não se realizou: ser governador do Estado. Ele chegou a ser cogitado, ainda, antes da eleição do ano passado para ser candidato do PDS ao Governo. Alem de doente, quando encerrou seu mandato de Governador de Roraima, Jorge Teixeira guardava ainda ressentimentos.

Teixeira foi prefeito de Manaus no período de 75 a 79, no governo do ministro Henock Bezerra. Ele antes de entrar para a politica, foi major do Grupamento Especial de Fronteira, de onde saiu, para vice-presidente da Federação Amazonense de Futebol. Sua primeira grande obra: a construção do Colégio Militar de Manaus. Foi fundador também do Cigs. Soldado fiel aos princípios militares, Jorge Teixeira sempre exigiu a disciplina dos seus comandatos.

Campeão brasileiro de basquete — chegou a jogar com o ex-capitão da Capitania dos Portos, Almirante Hermes da Fonseca —, o coronel Teixeirão marcou a sua administração na Prefeitura de Manaus iniciando o Sistema Viário de Manaus, a construção de 200 Km de novas vias; implantou a Usina de Lixo, da Compensa. Homem polêmico: não costumava dar importância para as críticas de políticos até do seu próprio partido — o PDS — Jorge Teixeira implantou o corredor exclusivo de ônibus e os primeiros calçadões do centro de Manaus foram construídos na sua gestão.

Reconhecido como um militar muito humano, o ex-prefeito de Manaus até hoje é lembrado pelas garis. Ninguém esquece a sua generosidade. "Era homem bom de coração; não maltratava ninguém; falava com todo mundo", afirmou a servente Sebastiana Alves de Souza, 47 anos — 9 de Prefeitura de Manaus. Ela afirmou que já marcou para o próximo domingo uma missa em homenagem póstuma ao falecimento do coronel Teixeira.

Pedro Feitosa de Souza, 61 anos, segurança do garajão, conta que Jorge Teixeira foi um dos poucos prefeitos que costumara visitar o garajão. "Lembro muito bem que, ele passava de manhã nas frentes de obras e à tarde voltava para constatar como estavam os trabalhos", disse.

A última vez que Jorge Teixeira esteve visitando o Garajão da Prefeitura de Manaus, foi em 1985. "Ele veio para pegar uma medicação dos galpões a fim de levar para Rondônia. Recordo muito bem, após nos cumprimentar, que ficou até um pouco triste quando viu algumas telhas soltas dos barracões que ele construiu para guardarem as máquinas pesadas, frisou Jones Wanderley, ex-motorista da administração do Teixeirão, atualmente diretor de terraplanagem. 

Jorge da Silva Luzana, um encarregado de trecho da Prefeitura, reviveu os bons momentos quando o coronel Jorge Teixeira visitava as frentes de obras. "Essa garagem era o orgulho dele. Teixeira pagava merenda do bolso muitas vezes para gente. E antigamente, na sua administração tínhamos fardas. A Prefeitura dava calças e camisas para a gente," explicou.

No Colégio Militar ninguém quis falar. O coronel Giorge, único remanescente da época do coronel Jorge Teixeira quando foi diretor do colégio, não foi encontrado. Estava participando de uma reunião no CMA. Mesmo assim, muitos oficiais já sabiam ontem que o fundador do CMM havia falecido no Rio de Janeiro em decorrência de um enfarto, aos 65 anos. 

1º GOVERNADOR

RIO, (AJB) — Criado em dezembro de 1981, o Estado de Rondônia teve como seu primeiro governador o coronel pára-quedista do Exército, especializado em combate nas selvas, Jorge Teixeira de Oliveira, nascido no Rio Grande do Sul em 1924.

Em 4 de janeiro de 1982 o coronel Teixeira assumiu o governo do 23º. Estado na Federação, depois de ter seu nome sido aprovado pelo Congresso Nacional, fator que motivou um verdadeiro carnaval em Porto Velho, a capital do novo Estado, quando a população saiu às ruas para comemorar.

Rondônia, cujo território é, em extensão, quase do tamanho de São Paulo, viveu momentos de grande euforia, embora todos soubessem dos problemas que deveriam ser enfrentados após sua autonomia, com a perda de verbas federais para seu sustento. Sua população, de cerca de 800 mil habitantes, é em sua maioria formada de lavradores paranaenses, gaúchos, paulistas e nordestinos, que foram para lá abrir a última fronteira agrícola do Pais.

O novo Estado foi um território criado em 1943 pelo então presidente Getúlio Vargas, reuniundo partes do Amazonas e de Mato Grosso, em torno da estrada de ferro Madeira-Mamoré, batizado na época com o nome de Guaporé. Seu nome foi uma homenagem ao marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, considerado o maior militar brasileiro deste século.

Dezoito meses depois de sua criação, o Estado de Rondônia completou o ciclo de sua implantação, no momento em que os três poderes entraram em funcionamento. À frente do executivo, o governador Jorge Teixeira passou a desenvolver um esforço de modernização, criando as condições para o seu desenvolvimento econômico e social. No legislativo, os 24 deputados-constituintes eleitos em novembro de 82 apresentaram a proposta de constituição do Estado, elaborada durante três meses. Por poder judiciário, por sua vez, já inteiramente implantado, dotou o novo Estado de uma justiça ágil e adequada as características geográficas e sociais.

Teixeira foi o primeiro governador do novo Estado e o 26º. desde que foi criada aquela unidade da federação. Ele apenas foi confirmado no cargo, pois já vinha exercendo as funções de governador na unidade como território. Era, como ele afirmava, uma fase (pré-Estado), onde se fazia um campo experimental do País para a criação do Estado, o coronel Teixeira afirmava estar baseando a economia de Rondônia em cima da agricultura, com o pequeno produtor, o que representava 70 por cento da arrecadação. O restante provinha do minério.

O governador Jorge Teixeira, ao cumprir os quatro anos de seu mandato, considerou ter sido urna jornada "muito difícil porém muito honrosa", porque atingiu, como coroamento, a sua meta principal de transformar o então território, no Estado em que é hoje.

Jorge Teixeira, que o povo de Rondônia acostumou-se a chamar de "Teixeirão", afirmava:

— Hoje, depois de quatro anos de trabalho, posso com orgulho olhar o que foi feito e dizer que não passei por Rondônia em vão. Tenho certeza de que não decepcionei. Em abril de 1979, quando assumi o governo, tinha em mente um só objetivo: trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Jornal A Crítica, Manaus, quinta-feira, 29 de janeiro de 1987

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