sábado, 13 de fevereiro de 2016

07.06.1975 - Nossos Artistas Plásticos e a Pinacoteca Municipal


Nossos Artistas Plásticos e a Pinacoteca Municipal

Na quinta feira que passou foi inaugurada oficialmente a Pinacoteca Municipal, que está instalada numa das salas de exposições do Museu da cidade. A pinacoteca recebeu o nome de Aldo Locatelli, numa justificada homenagem ao artista que por bom tempo viveu aqui, nos deixando uma das mais significativas obras de arte de todo o Rio Grande do Sul: a Via Sacra da Igreja de São Pelegrino e outras pinturas, também na mesma igreja, destacando-se "A Grande Ceia", afora outros trabalhos seus encontrados hoje no Palácio Piratini, na Catedral de Santa Maria, dentre mais.

Para um pequeno conhecimento e informação dos artistas que doaram alguma obra para a Acervo da Pinacoteca e que têm se dedicado às artes na cidade é que se faz necessário apresentá-los. Vinte artistas, até o momento, doaram uma de suas obras para a Pinacoteca Vinte artistas que proporcionaram um momento de reflexão sobre artes plásticas. Um bom momento para vermos o que acontece a respeito de arte na cidade e situá-las no plano cultural da arte contemporânea.

Deparamos hoje, com novos instrumentos para fazer arte e com uma arte nova para estes mesmos instrumentos. Assim sendo, aquele que se propõe a trabalhar uma arte, não pode restringir-se ao plano da técnica e nem pode fazer de uma boa técnica, um significado para arte. Existe agora um mundo de sensações que significam, cada uma de sua maneira, a reação do artista ao social, ao fato ou a uma circunstância qualquer. É da responsabilidade do trabalhador de arte, fazer dela uma sensação, procurar uma noção nas pessoas, mas não uma definição. De que vale pintar uma paisagem da maneira que a vemos somente? De que vale pintar um rosto, simplesmente?

Talvez, o que realmente valha, é poder sentir um rosto para pintar; é poder penetrar a natureza para senti-la.

Dezoito pintores caxienses nos mostram sua arte. Vamos consumi-la, na medida em que ela nos toque.

Textos de Liliana Alberti,
Evaldo Schumacher, Juventino Dal Bó e Valdir dos Santos.           

BRUNO SEGALLA — É natural desta cidade, onde nasceu a 7 de outubro de 1922. Já expôs diversas vezes, sempre com o mesmo sucesso. Ele diz "além de minha especialização como medalhista, há mais de 25 anos dedico-me à escultura em cerâmica e metais. Exprimo em meus trabalhos o social, o humanismo e uma mensagem espiritual de paz e justiça". A obra que doou à Pinacoteca é uma escultura, "O Exilado", a qual ele define desta forma: "é a angústua do homem, longe de sua pátria; expressa uma imagem e gesto de dolorida saudade e inconformismo marcado por profunda solidão". Bruno Segalla projetou e está executando o "Monumento do Centenário".

DIONÉIA DE CARLI — Desde que começou a se dedicar às artes, preferiu a gravura e a xilogravura, tendo feito cursos de técnicas com Danúbio Gonçalves, Armando Almeida, Paulo Meuten, entre outros. É uma das figuras mais constantes em exposições de artistas caxienses pois suas gravuras são bastante significativas. Definindo o que faz, ela explica que em seus trabalhos "as formas exiladas buscam um caminho, para que fique a possibilidade de um novo incêndio purificador". A xilogravura doada é "Recomposição de Formas".

LILIANA ROSSETTI — É natural de Veneza, Itália, mas há muito tempo radicou-se aqui. Além de professora na Universidade de Caxias do Sul, Liliana tornou-se bastante conhecida pelos painéis que elaborou e estão expostos no Rincão da Lealdade. É uma das mais esforçadas artistas caxienses, pois tem procurado descobrir em técnicas e materiais diversos, o que de bom eles podem oferecer para uma composição plástica. Um exemplo disto é o trabalho que doou à Pinacoteca, "Paisagem", estilização gravada em metal, que, segundo ela, é uma "evocação dos primeiros contatos do homem com a paisagem brasileira". 

BEATRIZ BALEN — Natural de Caxias do Sul, sendo formada em Artes Plásticas pela Universidade de Passo Fundo. Dentre outros prêmios, recebeu o "Prêmio Pintura 71-Curso Internacional de Férias, Teresópolis, RJ". Prefere à pintura a óleo, que lhe tem possibilitado um trabalho de constante criação, quer seja de telas com figuras humanas, nas mais variadas expressões do dia-a-dia, ou de retratos, bastante coloridos, onde os rostos como que sobressaem da tela, transfigurados por uma certa nostalgia Obra doada: "O Velho".

MARISA SARETTA — Natural desta cidade, onde formou-se em Belas Artes, tendo mais tarde concluído licenciatura pela PUC-PA. A qualidade de seus trabalhos tem surpreendido, pois, como se sabe, a pintura com aquarela (sua técnica preferida) é das mais difíceis. Tem participado de diversas exposições e um de seus trabalhos mais característicos está exposto na Pinacoteca: "Estudo Roxo nº 2", que é uma estudo de monocromia, procurando exalar atmosfera e perspectiva. Através da delicadez a suavidade das cores e da elegância das linhas, representa, subjetivamente, o âmago de emoções e a essência da beleza do orbe.

ROBINSON SOBRERA — Natural do Uruguai, onde expôs em várias galerias e aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, chegou a esta cidade e conseguiu se impôr com retratista e ótimo pintor. Suas telas são apreciadas e sua técnica é mais sofisticada, o que já lhe marcou bastante e possibilitou, além disto, um reconhecimento e admiração. Doou a obra: "Caxias Antiga".

IRIS ABELLA — Casada com Sobrera, Iris tem procurado transmitir em suas telas, a religiosidade que vive e convive com o homem. Seus quadros são quase sempre procissões, como o que doou à Pinacoteca, "Procissão" — onde vultos curvados sugerem uma meditação profunda e verdadeira, real.

ROSEMARY SPINATO SCOTTI — Licenciada em Desenho pela UCS, Rosemary também participou de outros cursos em São Paulo e em Porto Alegre. Tem exposto poucas vezes, mas conseguiu impor-se dentro de um estilo muito pessoal e criativo. Suas esculturas são frágeis e leves, com pequenos detalhes de grande efeito e beleza, como, por exemplo, dedos de mãos e roupas com dobras e textura delicadíssimos, podendo ser observada na "Madona", que doou à Pinacoteca. Ela explica que "procura alcancar novas formas e sintetizar em suas obras a beleza, o movimento, as cores".

NAYR MENEGOTTO HOFFMANN — Formada pela primeira turma da Escola Municipal de Belas Artes, estudou com Aldo Locatelli, Vasco Prado, Kotz, entre outros. Sua pintura é acadêmica, quase sempre paisagens evocativas ou de significado regional como é o caso do quadro doado à Pinacoteca, "Colônia de São Romédio".

PEDRO SARETTA — Conhecido industrial, Pedro Saretta é autodidata. Personal em seus trabalhos, o mesmo faz com gravuras e esculturas em argila, com a mesma força criativa que aparece em suas telas. Doou para a Pinacoteca Aldo Locatelli, a escultura "O Frade", que para ele "representa a crise atual da religião, a tortura das dúvidas". É natural desta cidade.

ROJANE LOPES — Natural de P. Alegre, mas reside aqui há muito tempo. Desenha especialmente rostos, procurando dar-lhes imagem dos sentimentos que povoam a mente do homem: "nascimento e alegria e tristeza e amor e solidão e tédio e lucidez e angústia e desespero e morte e paz. Procuro abrir a porta dos cárceres cotidianos, sem pretensões de indicar caminhos". Na Pinacoteca poderão ser vistos três de seus desenhos: "Paz", "Decepção" e "Vida". Alguns acreditam que seus desenhos chegam ao surrealismo, pelos efeitos e relações que estabelecem entre imagem e sentido.

MARIA SOLEDAD DAMIANI — Dotada de grande senso crítico e profunda conhecedora de artes em geral, Maria da Soledad diz que "desde cedo manifestou interesse pelo desenho e pintura. Pintava por absoluta necessidade de expressão, sempre que lhe vinham à mente, imagens e figuras difusas". Recentemente, participou de um curso ministrado por Iberê Camargo. Para cada obra, elabora um poema correspondente. Os que mais a conhecem dizem que está sempre criando algo novo e procurando incentivar as pessoas ao gosto artísticos, sugerindo estudos e soluções. Obra doada. "Nascimento".

ALY CHAVES SILVEIRA — Natural de Caçapava do Sul, participou de algumas exposições e realizou cursos de Tapeçaria, a que se dedica. Doou uma tapeçaria — "Boitatá", uma lenda conhecida entre os gaúchos.

SALLY CARDOSO DA LUZ — Natural desta cidade e formada pela Faculdade de Belas Artes local, tem realizado inúmeras exposições e obtido prêmios como a Medalha de Ouro, 1º lugar em Retrato, conferido pelo artista Aldo Locatelli, no 1º Salão Popular de Belas Artes, 1959, em nossa cidade. Desde então, tem sido uma figura conhecida no meio artístico pela sua capacidade de retratar pessoas. "Busco atingir sempre um maior aperfeiçoamento dentro da arte, procurando através dela e com ela, minha realização pessoal". Doou o quadro "La Noneta", um rosto de mulher, que é "a expressão de um povo, pela face encarquilhada de uma imigrante".

VALDIRA DANCKWARDT ─ Uma de nossas grandes personalidades artísticas, tendo participado de grande número de exposições, individuais e coletivas. Dentre outros prêmios, recebeu, em 1967, a medalha oferecida por Dom Sebastião Bággio, Núncio Apostólico do Brasil. Busca sua integração e comunicação humana por intermédio da arte, obedecendo ao apelo que sua sensibilidade natural e circunstancial lhe transmitem. Ótima desenhista, Valdira tem-se destacado por uma grande coerência. A obra que doou é um quadro, "Solidão": "um homem só, no meio do mundo em ruínas e que expressa, através da violência de cores, linhas, a angústia e o medo da solidão".

ICLÉIA CAITANI — Uma das novas artistas gaúchas, que fixa residência em Caxias, para lecionar Desenho no Atelier Livre da UCS. Participou de algumas mostras coletivas e fez cursos com Danúbio Gonçalves, Armando Almeida e no Atelier Livre de Porto Alegre. Ela diz que "há mais ou menos três anos dedico-me à pesquisa de novas formas, com base em figuras humanas e formas vegetais. É o tipo de pintura com a qual mais me identifico e me empenho em desenvolver. A obra doada, "Abstrato", é bem representativa da fase que Icléia vem pesquisando e desenvolvendo — uma simbiose de seres e formas.

ELYR RAMOS RODRIGUES — Pioneira no campo de ensino das Artes em Caxias do Sul, foi, vários anos, diretora da antiga Escola Municipal de Belas Artes, o que lhe trouxe popularidade aqui. Realizou diversas exposições e tem participado de comissões artísticas de alto nível. A preocupação que tem é mostrar, em suas obras, o que de bom a natureza humana possui, pois acredita nas possibilidades inerentes a cada pessoa, dando a seus trabalhos caráter místico e humanitário.

VERA BEATRIZ STÉDILE ZATTERA — Uma das nossas melhores artistas, mercê de seu criativo trabalho e pesquisa de materiais que se adaptem e contribuam para uma melhor exploração da Tapeçaria, sua técnica preferida. Neste sentido, suas tapeçarias quase se transformam em esculturas, como o trabalho que está na Pinacoteca: "Isolamento".

DAVID RATTI — Natural de Itália, estudou com Alfredo Ortelli e Dario Wolf. Hoje radicado em Caxias do Sul, conta com uma produção que prima pelas paisagens detalhadíssimas; raramente expõe, e a obra que doou é: "Os Pioneiros", evocando os imigrantes, que "de uma pequena semente, fizeram surgir uma grande planta; de uma pequena faísca, uma grande chama".

NELLY ZATTI JUCHEN — É natural de Caxias do Sul, mas fomou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Belas Artes de Porto Alegre. Participou de diversas exposições individuais e coletivas. É exatamente a pessoa dotada de agudo senso crítico e que fez da arte e da educação artística, o centro, o objetivo principal de sua vida. E isto ela deixou bem claro quando questionada sobre o objetivo que dava à sua obra, ela respondeu: "que posso dizer? É minha vida!... A obra que doou à Pinacoteca é uma escultura em feno "Asas do Progresso".

Jornal de Caxias, Caxias do Sul, sábado, 7 de junho de 1975.

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