domingo, 7 de fevereiro de 2016

24.04.1982 - TV GLOBO MOSTRA AMANHÃ O "COSMOS" DE CARL SAGAN

JORNAL DO BRASIL
Rio de Janeiro - Sábado, 24 de abril de 1982

TV GLOBO MOSTRA AMANHÃ O "COSMOS" DE CARL SAGAN

Os mistérios do espaço estarão a partir de amanhã nas telas de TV

A TV Globo começa a transmitir amanhã, às 23h15min, o primeiro episódio da série cientifica Cosmos, animada pelo astrônomo norte-americano Carl Sagan. A série completa tem 13 capítulos e será mostrada a cada último domingo do mês. Sagan, a bordo da "nave espacial da imaginação", discutirá a criação do universo, o aparecimento e a evolução do homem, a astronomia, a exploração do espaço e o provável aparecimento de vida em outros planetas.

Produzida durante quase três anos, filmada em um ano em 100 locações e 12 países diferentes, a série conta com efeitos especiais resultantes de técnicas cinematográficas revolucionárias, entre elas o Zoom Cósmico, criado por Jamie Shourt e Robert Blalack, da equipe que ganhou um Oscar pelos efeitos em Guerra nas Estrelas. Graças ao Zoom Cósmico, o espectador tem um senso gráfico de como a Terra é pequena em relação ao resto do Universo, e recebe o impacto da "compressão de milhões de anos de viagem à velocidade da luz em cerca de quatro minutos", diz Shourt.
Questão de tom
"A minha experiência mostra que as pessoas são mais inteligentes do que se pensa e, portanto, é só encontrar o tom certo para passar uma série de informações e fatos que podem parecer complicados, mas, na realidade, estão ao alcance de qualquer um que tenha o mínimo de interesse em compreender", diz Carl Sagan, apresentando o programa, escrito por ele, Ann Druyan e Steven Soter. A trilha sonora terá canções folclóricas, Rolling Stones, Beatles, música concreta e eletrônica e diversas obras de compositores clássicos. A produção é da KCET e Car Sagan Produções, associados à BBC e Plytel Intemational.

No primeiro episódio, A Costa do Oceano Pacífico, uma viagem ao Universo conhecido: a constelação Andrômeda, a Via Láctea, estrelas azuis, pulsars, os planetas Urano, Saturno e seus anéis, Júpiter e o vermelho Marte, os menores Mercúrio e Vênus, o Sol, e a Terra; uma descida no Egito, o farol e a biblioteca de Alexandria, a cidade onde Eratóstenes descobriu por observação que a Terra é finita e redonda. No segundo, Uma Voz na Fuga Cósmica, mostra-se a origem da vida. Sagan especula sobre a possibilidade de vida em outros mundos. Uma animação espetacular revela o processo evolutivo do organismo unicelular até o homo sapiens.

A Harmonia dos Mundos, o terceiro episódio, indaga como seria um mundo sem causa e efeito, recupera a importância da astrologia na agricultura dos povos antigos, e ensina as lições de Kepler, Tycho Brahe, Copérnico, Galileu e Newton, pais da nossa concepção atual do Universo. Céu e Inferno, quarto, mostra os processos vitais do Universo, gradualismo e catastrofismo, responsáveis pela evolução. Discutem-se a hipótese de colisão de Vénus e Terra, a origem das crateras da Lua, as falhas geológicas da Terra, entre elas a de San Andreas. Sagan pede mais carinho com o planeta.

O quinto episódio, Blues para um Planeta Vermelho, abre com a dramatização de A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, discorre sobre a lenda dos "marcianos", as idéias sobre o nosso mais próximo vizinho, e a mudança provocada pelas sondas Mariner e Viking. Contos de um Viajante, sexto, leva o espectador, em estilo cinema verité, a visitar Júpiter e seus satélites sob exploração da nave Voyager II, e a conhecer o Laboratório de Propulsão a Jato, na Califórnia. A Espinha Dorsal da Noite, sétimo episódio, para conhecer o mistério das estrelas, vai a antiga Grécia, onde sábios como Anaximandro deram respostas cientificas que assombraram o mundo. Demócrito propõe o conceito de átomo. O mundo é acessível à razão.

Viagens no Espaço e Tempo, oitavo, começa com Sagan numa praia refletindo sobre o número de grãos de areia nela contidos. O número de estrelas é maior. Define-se ano-luz. Introduz-se a revolução no espaço-tempo feita por Einstein. As Vidas das Estrelas, nono episódio, esclarece o mundo subatômico, as supernovas, buracos negros. Sagan usa Alice no Pais das Maravilhas para mostrar os efeitos gravitacionais.
Ciência e religião convergem
O décimo episódio, A Margem do Para Sempre, serve para Sagan levantar a questão cosmológica: de onde viemos? Aparecem os mitos, as hipóteses científicas, a tese da Grande Explosão, a religião hinduísta com escalas de tempo correspondentes à moderna cosmologia cientifica. Na Índia, Sagan discute a convergência entre ciência e pelo menos uma religião.

A Persistência da Memória, décimo primeiro, sugere que as baleias podem ser uma espécie inteligente. São analisadas as canções das baleias, talvez um código. Sagan leva-nos a uma viagem pelo cérebro humano, ao código genético, à invenção das bibliotecas, extensões do homem. No décimo segundo, Enciclopédia Galática, Sagan busca os sinais de vida extraterrestre, discute as idéias de Erich Von Daniken, recria a decifração dos códigos desde Champollion até a comunicação interestelar. E finalmente, no décimo terceiro episódio, Quem Fala pela Terra?, Sagan resume tudo, o conhecimento do passado e as perspectivas futura. Chega-se a uma "estranha" civilização, o planeta Marduk, tecnologicamente avançado, mas que não resolveu uma questão crucial: a tecnologia rompe todos os limites morais de seus criadores e ameaça a própria sobrevivência da sociedade. É preciso vigilância, aconselha Carl Sagan, pois o conhecimento é algo frágil, ante o lado escuro do homem.
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CARL Sagan escolheu a sua profissão, astrônomo, quando tinha apenas 12 anos. Graduou-se pela Universidade de Chicago e depois estudou genética com o Prêmio Nobel Hermann Müller. Ensinou em várias escolas superiores e chegou a chefe do Departamento de Astronomia e Vida Extraterrestre da Universidade de Cornell. Como exobiologista (estudioso de vida fora da Terra), trabalhou para a NASA, principalmente em dois projetos. Foi sua a idéia de colocar na nave Pioneer 10 uma placa com informações gráficas sobre a posição da Terra no sistema solar e as características dos seus habitantes, para o possível conhecimento de outra civilização. Foi um dos analistas dos dados e fotografias enviados de Marte pela Viking. Sagan, 47 anos, é autor de 14 livros, alguns dos quais já traduzidos no Brasil, entre eles Os dragões do Éden e Cosmos.
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A TERRA É A CASA DO HOMEM;
O UNIVERSO É O SEU PAÍS

Mario Pontes

QUANDO desligar o seu aparelho, após a emissão do último dos 13 capítulos da série Cosmos, o telespectador que houver acompanhado atentamente o programa estará concluindo algo como um curso de nível universitário. Mas um curso que universidade nenhuma tem para oferecer. Pois nesta época de compartimentação da ciência, Cari Sagan, com a ambição de um sábio renascentista, tenta abarcar as diversas áreas essenciais do conhecimento e transmitir um saber quanto possível totalizante.

Sob esse aspecto, Cosmos vai muito além de outras séries culturais de televisão realizadas nos últimos anos, das quais apenas uma foi exibida no Brasil, A Era da Incerteza, de John K. Galbraith. Os objetivos de Galbraith, como se viu, eram limitados. Ele quis apenas mostrar como se instalou o capitalismo, de que maneira cresceu, a quem beneficiou, a quem prejudicou, e finalmente como a sua contestação pôs o nosso mundo no fio de uma navalha. 

Cosmos vai além, igualmente, de outra brilhante série criada para a televisão inglesa e por enquanto conhecida entre nós apenas através do livro que dela resultou: A escalada do homem (Editora da Universidade de Brasília), do recém-falecido Jacob Bronowski, filósofo polonês que passou boa parte da vida na Inglaterra. Bronowski, um dos autores que melhor souberam falar de filosofia e ciência para o grande público, cingiu-se a acompanhar a evolução cultural do homem, da pré-história aos dias atuais.
Divulgar é preciso
Na comunidade científica, não falta quem torça o nariz ao ouvir o nome de Carl Sagan. Embora reconheçam nele um cientista de valor, não aprovam a sua transformação em um showman da ciência, como ele mesmo gosta de definir-se. Acham que ele é narcisista, demasiado estrela, demasiado teatral. Que vulgariza em excesso e que, muitas vezes, ultrapassa as fronteiras da objetividade, aventurando-se no perigoso terreno da especulação. Sagan, porém, já declarou que corre seus riscos conscientemente. Pior do que a possibilidade de cometer erros tentando acertar, parece-lhe o fato de que o conhecimento científico, essencial à sobrevivência da humanidade, permaneça confinado nos laboratórios, nas salas onde os cientistas discutem entre si e nas páginas de livros compreensíveis unicamente aos altamente especializados.

É um absurdo, diz Sagan, que praticamente todos os jornais tenham uma coluna diária de astrologia e contem-se nos dedos os que tenham uma de astronomia. Ou seja, que às vésperas do ano 2000 ainda se de mais espaço à superstição do que à ciência. As naves até agora enviadas ao espaço extraterrestre — acrescenta ele — devolveram aos cientistas uma formidável massa de dados novos sobre o comportamento do Sol, a constituição dos planetas, a evolução das estrelas e outros corpos celestes. Mas, até agora, só uma pequenina fração dessas novidades chegou ao homem comum através dos meios de comunicação.

Impressionado com o que considera um fosso entre o interesse popular pela astronomia (e as ciências associadas, como a exobiologia) e a exigüidade das iniciativas destinadas a satisfazer essa curiosidade, Sagan resolveu que ele próprio tinha de fazer algo. Foi então que deixou de ser um cientista de gabinete e resolveu tornar-se também um divulgador. Sua primeira idéia foi fundar uma empresa para produzir filmes científicos destinados á televisão, idéia acolhida pela Public Boadcasting Service, de Los Angeles. Foi assim que Cosmos teve origem.

A série e o livro nasceram juntos. E Sagan, mais feliz do que tantos outros autores, pôde realizá-los exatamente na medida das suas intenções. Cosmos, a série para a televisão. foi concebida antes de mais nada como um produto de impacto visual, tão atraente quanto um filme de ficção científica do tipo Guerra nas Estrelas, capaz — disse o autor — de "tocar o coração e as mentes" de uma grande audiência popular. A resposta foi compensadora. Cerca de 140 milhões de pessoas — 3% da população humana — viram o programa e, a exceção de alguns cientistas ciosos do seu saber, declararam-se encantadas. O livro, publicado em várias línguas (no Brasil foi editado pela Francisco Alves), já alcançou a casa dos milhões de leitores.
Viagem às galáxias
Ao contrário de Galbraith e Bronowski. que desenvolvem suas explanações de maneira cronológica, Sagan não segue uma trajetória linear: a grande explosão na qual teria tido origem o universo, a condensação das galáxias e, finalmente, o aparecimento da vida em pelo menos um deles, este grãozinho de poeira em que vivemos. Sagan prefere um caminho em ziguezague. O mais comum, em seu método, é partir do geral para chegar ao particular. E, como um músico, freqüentemente repete o seu tema, expondo-o primeiro de maneira breve, depois estendendo-o e aprofundando-o.

A condição do leitor ou do espectador de Cosmos, no inicio do primeiro capítulo, é a de quem olha o céu numa noite escura, pontilhada de milhares de astros. De repente, algo o arrebata do seu ponto de observação, levando-o a viajar pelos abismos de milhões de anos-luz que separam estrelas e galáxias. Terminada a viagem, ei-lo de volta à Terra, onde o espera o comunicativo Sagan para uma digressão histórica sobre como, ao longo de milhares de anos, o conhecimento do universo evoluiu até chegar ao nível em que hoje se encontra.

Várias vezes, na sucessão dos capítulos, Sagan voltará a relembrar a trajetória dos homens de ciência, mostrando como através da observação paciente, da imaginação e ás vezes da intuição foram formando uma imagem cada vez mais verdadeira, nítida e coerente do universo. Como, partindo da percepção de fatos que hoje nos parecem tão óbvios — a esfericidade da Terra, por exemplo —aprenderam a distinguir estrelas de planetas, a notar movimentos no que parecia estático, a medir distâncias, a construir a própria história dessa infinidade de mundos que nos cercam.

Contudo, sugere Sagan, a maior de todas as descobertas da ciência é também a aparentemente mais simples: a noção de que não somos estranhos, e sim de que fazemos parte do universo. Nem sempre foi assim. No começo da história da civilização, o universo era algo estranho para os homens que o observavam. Era algo misterioso, dotado de forças capazes de decidir sobre os nossos destinos. Na medida em que fomos compreendendo os fenômenos do cosmos, fomos também nos libertando do mistério, do terror. Há muito ainda por compreender, há coisas que, decerto, jamais compreenderemos. Mas jamais voltaremos a imaginar nosso destino regido por forças misteriosas.

Quem entender isso, terá entendido Cosmos e estará em condições de aproveitar plenamente a essência do que Sagan quis transmitir. Somos parte do universo porque nascemos do mesmo bang inicial, somos formados da mesma matéria de que são feitas as estrelas e a poeira existente, as galaxias. Portanto, tudo o que acontece no resto do universo é do nosso interesse. Inclusive pela razão prática de que um dia talvez tenhamos de abandonar a Terra em busca de outro lar, quando este aqui se tomar inabitável.

Será isso possível? A resposta depende da solução de um sem-número de enigmas que ainda não fomos capazes de resolver, mas que um dia resolveremos. Ainda não sabemos, por exemplo, se em algum lugar do universo existem planetas de características semelhantes às da Terra, em condições, portanto, de abrigar os futuros imigrantes do espaço. Não sabemos, ainda, se e quando poderemos desenvolver a nossa tecnologia ao ponto de tomar possíveis as viagens à velocidade da luz, único meio de chegar a outros mundos. Não sabemos ainda se existem civilizações estelares e se elas estariam dispostas a nos acolher.
O lar e a pátria
Sagan não tem dúvida de que um dia encontraremos respostas para as nossas grandes e fundamentais interrogações acerca do universo. Mas antes que isso ocorra, milhares de anos se passarão. Até lá — é preciso não esquecer — nossa morada será esta casquinha de noz, que viaja pelo espaço protegida por um fina película de ar e ameaçada por energias que mal começamos a conhecer e sobre as quais talvez nunca possamos exercer um verdadeiro controle.

Contudo, observa o autor, a maior ameaça ao nosso futuro parte de nós mesmos. Do mau uso que vimos fazendo da tecnologia, do descuido com que tratamos o solo, a água, o ar. Somos uma civilização emergente e já à beira da catástrofe? Como evitá-la? A resposta de Sagan é que o melhor ponto de partida para não cometermos suicídio é adquirirmos a compreensão de que se a Terra é a nossa casa, o universo é o nosso país. Sobreviver, portanto, não é um problema exclusivamente nosso. Se somos parte do universo, continuarmos vivos e desenvolver a nossa civilização é uma responsabilidade para com o nosso país, este cosmos que não cumprirá inteiramente o seu destino se a humanidade não cumprir o seu.

Esta a lição essencial do irrequieto exobiólogo americano, que depois de ter conquistado os mais altos postos na vida cientifica e universitária, não hesitou em descer do seu pedestal para falar ao público com a simplicidade de um mestre-escola e o entusiasmo de um pregador que lança uma mensagem carregada de advertência, mas apesar de tudo otimista.

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Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, Sábado, 24 de abril de 1982

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