sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

24.01.1938 - O Perigo da Lepra em fortaleza



O Perigo da Lepra em fortaleza
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Estamos na mesma Situação de 1926
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Não ha mais Abrigo para os Lazaros

Antes de ser criado o Leprosario de Canafistula, Fortaleza vivia cheia de lazaros indigentes, os quais, sem tecto e sem pão, eram obrigados a permanecer nas ruas, implorando à caridade publica.

Eram doentes que, vindos de localidades do interior, onde não lhes era mais possivel viver, procuravam a capital, na esperança de um abrigo.

Com a inauguração da colonia Antonio Diogo, esse quadro mudou.

Isto é, Fortaleza ficou somente com os doentes amparados, que não precisavam asilar-se.

A situação veiu mais ou menos dessa fórma, neste decurso de doze anos. 

Agora, porém, voltámos áqueles tempos aflitios.

E' que o Leprosario Antonio Diogo, superlota tado ha cerca der um lustro, já não pode receber mais um só doente.

Mas a lepra continúa a sua falna, alastrando-se aterradoramente.

Batidos pela infelicidade, no interior do Estado, os lazaros, em longas e penosas caminhadas, rumam para Fortaleza em busca de tratamento e de hospitalização. Chegados aqui, porém, sabem da triste certeza: não ha vaga no Leprosario, nem existe, dentro ou fóra da cidade, um lugar onde se recolham. 

Ficam na rua, famintos, sem dinheiro e sem forças ou animo para nova e dolorosa caminhada de regresso, até porque, lá, de onde vieram, já atearam fogo ás choupanas ou aos casebres em que moravam.

Esses casoes se multiplicam.

Ainda na semana ultima, nossa reportagem verificou três, todos eles vindos de Paracurú, a pé, numa jornada de 17 leguas.

O primeiro aqui chegado andou por séca e méca, criando as maiores dificuldades á Saúde Publica, que são tinha para onde mandá-lo. Terminou esse infeliz por ir alojar-se no Necroterlo do S. João Batista!

Dias depois, chegaram mais dois, ambos menores de 20 anos, em estado avançadíssimo da molestia.

Novas dificuldades e novas desilusões: em Fortaleza não havia nem ha onde abriga los.

Esses dois jovens, além disso, encontravam se de tal maneira estropiados pela caminhada, que nao lhes seria mais possivel tentar a volta, ainda a pé, até Paracurú.

A situação provocou tamanha pena que um medico do Centro de Saúde não se conteve e lhes deu, da propria bolsa. 50$000 para a viagem de regresso, dada a impossibilidade em que estava de socorrê los com a hospitalização ou o recolhimento de qualquer especie.

A narrativa desses três casos basta para que os leitores d'O POVO tenham a idéa do que está a ocorrer quasi todas as semanas, sem uma providencia que minore os sofrimentos dos lazaros e — o que é mais grave — ponha a coletividade a salvo do perigoso contagio da lepra!

O Povo, Fortaleza, segunda-feira, 24 de janeiro de 1938

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