quarta-feira, 8 de junho de 2016

10.08.1960 ─ Um jovem cantor de 'rock' n' roll"

ESQUINA SONORA
Foto autografada para os nossos leitores 
JOHNNY RESTIVO
Um jovem cantor de 'rock' n' roll"

A emissora de TV insistia em anunciar a apresentação, naquela noite, de um dos preferidos dos "teen-agers" norte-americanos: Johnny Restivo. Por fim apareceu. Cantou 5 canções, três das quais desconhecidas entre nós. Microfone de mão, orquestra mal ensaiada, sonoridade reduzida (no auditório da emissora, inexistente), e desorganização foram os fatôres que influíram na discreta apresentação do criador de "I like girls" segunda-feira última no "Noite de Gala".

Franciosa é seu parente

Em matéria de música popular, gosta de Frank Sinatra, Bobby Darin, Elvis Presley, Jo Stafford, Connie Francis, Jo Ann Cambel e Brenda Lee (uma canção, de nome "That's all you've got do" é a sua favorita) são os seus preferidos. No cinema gosta de Anthony Franciosa, aliás, seu primo e Elizabeth Taylor. Tem desejo de entrar para o cinema; não crê que tenha dificuldade nisso, tanto que já está tratando o caso. Não tem interêsse de fazer teatro. Pretende fazer filmes dramáticos e se puder, até um curso no "Actor's Studio".

Chegou ao Brasil dia 5. Veio para uma temporada na Record, mas primeiro veio ao Rio, onde já atuou (discretamente) no programa "Noite de Gala" (na TV) e atuará hoje (na Rádio Nacional), num programa do mesmo nome. Amanhã vai a Pernambuco, onde aparecerá numa estação de TV, do Recife. Regressará domingo a São Paulo, iniciando sua temporada no Teatro Record, na segunda-feira. Seu retôrno aos EUA está marcado para a próxima semana.

Começou há dois anos

Johnny, que na realidade se chama John Carles Restivo, começou há pouco mais de dois anos sua carreira artística. Era modêlo de fotografias para modas juvenis. Um agente da RCA ofereceu-lhe oportunidade para gravar um disco-teste naquela emprêsa. A direção artística gostou da interpretação do rapaz e ofereceu-lhe o primeiro contrato. Gravou, então um "avulso" contendo as composições "The shape I'm" e "Ya, ya" que, só nos EUA, vendeu mais de 250 mil cópias, permanecendo nas "paradas de sucesso" durante 1 mês. Êsse mesmo disco vendeu na Europa cerca de 1 milhão de cópias e na Austrália, mais de 50 mil. A seguir gravou o seu grande sucesso no Brasil, "I like girls", acoplado de "Dear someone" e o álbum "Oh Johnny!", já comentado nesta seção.

Fêz questão de frisar que seu repertório não se restringe apenas ao "rock'n' roll". Canta, também, baladas e músicas de tom mais romântico, embora ache que o "rock" não vai morrer, mas apenas ter maior difusão do que atualmente.

Entrevista

No dia seguinte fomos ao apartamento do jovem cantor, no Flórida Hotel. Moreno, magro, simples, trajando camisa de mangas compridas, arregaçadas, do padrão estampado, calças de zuarte cáqui e sapatos pretos (com fivela grande) e meias azuis, Restivo recebeu-nos (a mim, nosso fotógrafo Gilberto Ganez e um colega de redação ─ Eduardo Vivacqua ─ que serviu de intérprete, pois de inglês não entendemos "bulufas"), fumando constantemente inúmeros cigarros de marca nacional.

Ficamos sabendo, então que êle é neto de italianos. Jack e Jeanette Restivo são os seus pais. Nasceu no dia 13 de setembro de 1943 (não tem, ainda, 17 anos) e atualmente está cursando psicologia, após haver concluído o curso de colégio.

Sôbre o Brasil

O Brasil é o terceiro país que conhece. Anteriormente visitou a Austrália e o Canadá, além do Havaí, hoje considerado membro da federação norte-americana.

Acha maravilhosa a nossa terra. Perguntado se moraria em nossa pátria respondeu sorrindo, "se as circunstâncias assim o exigissem, como não?"

O que mais o impressionou no Rio foi o Cristo Redentor. Disse que as nossa garôtas são "do barulho" e que não vai embora antes de tomar um banho de mar (em Copacabana). Antes achava que o Brasil era apenas plantações, e inúmeras fazendas. Ficou maravilhado quando viu. Não conhece Brasília (nem vai conhecer desta vez). As poucas palavras que sabe em português são: "Obrigado", "Bidu", "Bossa Nova", aliás diz que gosta imensamente dessa modalidade de samba; admirou, sobretudo "O pato", criação de João Gilberto. Conhece (e admira muito, a ponto de querer comprar um LP para levar como lembrança) o Trio Marayá. Também já falou com Carlos Gonzaga, Ângela Maria e Francisco Carlos. Pedimos-lhe que nos desse uma cópia da letra de "Last night on the back porch", um de seus mais bonitos números. Disse que era impossível, pois não sabia de cor.

Vitória de Kennedy

Quando chegar a Nova York (onde, recentemente adquiriu uma casa), vai comprar um carro.

Toca um pouco de guitarra (violão elétrico), mas pretende aperfeiçoar-se. Não toma bebidas alcoólicas, mas gosta de refrescos de frutas. Tem certeza que Kennedy ganha as eleições presidenciais, no seu país, embora não seja eleitor, por ser menor de idade. E´ profundamente católico. Vai a missa todos os domingos.

Johnny viaja sozinho, sem músicos, sem empresário, sem nada. Só, com a cara e a coragem.

Voou de Nova York a São Paulo, com uma só escala: Caracas. Depois pretende conhecer a Europa.

Sua estréia em São Paulo está marcada para o próximo dia 15, no Teatro Record, abrindo a "Quinzena do "Rock'n' roll", promovida pelas Emissoras Unidas.

(R. P.)

─ "Não volto para casa antes de tomar
um banho de mar, em Copacabana!"

Correio da Manhã, quarta-feira, 10 de agosto de 1960

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