sexta-feira, 24 de junho de 2016

11.11.1972 ─ Policial morto é sepultado e sua assassina morre em novo tiroteio

Mário Panzariello          Aurora Maria N. Furtado          Flávio Augusto N. L. de Salles


Policial morto é sepultado e sua
assassina morre em novo tiroteio

Foi sepultado na tarde de ontem o detetive Mário Domingos Panzariello, morto pela terrorista Aurora Maria Nascimento Furtado, pertencente à Aliança Libertadora Nacional. O atentado contra o policial ocorreu na quinta-feira, quando o agente interceptou a terrorista e o seu amante Flávio Augusto Neves Salles, na Av. Brasil. Este conseguiu escapar, enquanto Aurora, conhecida pelos codinomes Márcia, Patrícia, Rita e Lola, feria o policial à queima-roupa e passava a disparar seu revólver entre os automóveis que circulavam no local.

O fato ocorreu na manhã de quinta-feira e, na madrugada de ontem, ao levar uma caravana de policiais ao Méier, onde se localizava o aparelho do seu grupo, Aurora tentou fuga e aos gritos conseguiu alertar vários terroristas que se encontravam no interior de um carro. Estes abriram fogo contra a polícia e, terminado o tiroteio, a moça agonizava. Enquanto os policiais procuravam garantir-lhe socorros, os ocupantes do veículo conseguiram escapar em alta velocidade. Outro detetive, que participou da primeira diligência, saiu também ferido. Está internado em estado grave.

PRISÃO E ATENTADO

Infirme liberado ontem pelas autoridades registra que às 9h40min da última quinta-feira os integrantes de uma radiopatrulha do 2.º Setor de Vigilância Norte interceptaram um casal em atitude suspeita, na ponte de Parada de Lucas. Ao abrir sua bolsa, a pretexto da apresentação de documentos, a mulher retirou um revólver que disparou duas vezes contra o peito do detetive Mário Panzariello, atingindo também outro agente, que se encontra internado em estado grave. Em seguida, a mulher correu por entre os carros que transitavam pela Av. Brasil. De arma em punho ela disparava contra os policiais que a perseguiam.

Ao ser alcançada, resistiu e empreendeu luta corporal com os demais agentes, rolando por uma aribanceira ao lado da ponte de Parada de Lucas. Aproveitando-se do pânico estabelecido entre os populares, o seu acompanhante, mais tarde identificado como Flávio Augusto Neves de Salles ─ o "Rogério" ─, conseguiu fugir por outra direção. Entretanto, deixou cair a maleta que carregava, onde foi encontrada uma metralhadora e inúmeros documentos subversivos. A mulher identificou-se como Aurora Maria Nascimento Furtado. Seus codinomes são Márcia, Patrícia, Rita e Lola e ela confessou pertencer à facção da Aliança Libertadora Nacional.

ESCARAMUÇA

Aurora Maria Nascimento Furtado ao ser interrogada disse que o acompanhante que escapou no momento de sua prisão era seu amante e que ambos estavam encarregados da realização de vários planos terroristas na área da Guanabara. Assegurou aos policiais poder levá-los ao "aparelho" em que encontrava Rogério, na verdade Flávio Augusto Neves Salles. Na madrugada de ontem, levou os agentes ao Méier, onde, nas esquinas das Ruas Adriano com Magalhães Couto, afirmou localizar-se o esconderijo. Alegando razões de segurança, solicitou autorização para dirigir-se a pé ao "aparelho" e sozinha. Tão logo foi libertada pelos agentes, começou a correr em direção a um automóvel Volkswagem, gritando de forma insistente, para alertar os ocupantes do auto.

Estes, ao sentirem a presença da polícia, começaram a atirar. A fuzilaria foi intensa e, quando cessou, a terrorista estava atirada ao solo, ferida e agonizante. Preferindo oferecer socorro a Aurora, os policiais não puderam alcançar o veículo dos terroristas, que deixou o local em disparada. Aurora Maria Nascimento, que morreu logo depois, nasceu em São Paulo, a 17 de junho de 1946. Formou-se em Psicologia na Universidade de São Paulo, onde iniciou suas atividades políticas através do Movimento Estudantil. Dali passou a integrar o Grupo Tático Armado, da ALN de São Paulo. Até abril de 1970 ela trabalhou no Banco do Brasil, agência do Brás.

Seu grau de periculosidade pode ser analisado por diversas ações terroristas.

Jornal Correio da Manhã, sábado, 11 de novembro de 1972

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