segunda-feira, 6 de junho de 2016

18.09.1913 ─ O assassinato do sargento Lobo

Manáos, Quinta-feira, 18 de Setembro de 1913          JORNAL DO COMMERCIO




OS CRIMES NO INTERIOR
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A policia do 1º districto toma conhecimento de um barbaro homicidio praticado num seringal do rio Purús
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Depoimentos da viuva da victima e de duas testemunhas
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A policia do primeiro districto teve hontem conhecimento de um homicidio perpetrado fria e cruelmente no interior do Estado.

São quasi sempre assim, desse jaez, os crimes praticados por essas brenhas infinitas da região amazonica. O criminoso conta sempre com a impunidade, crê-se com razão immune de todos os castigos que a lei prescreve, acredita-se justamente inatingivel pela justiça vingadora. E' um incentivo; e elle, o delinquente, não trepida em commetter attentado sobre attentado, depredação sobre depredação, porque tem a certeza de que, satisfeitas as exigencias e as tendencias do seu instincto, tem segura a sua liberdade para o goso de sua vida e para satisfação de seus desejos.

O que hontem teve registro no cadastro policial foi alli relatado pela propria viuva da victima e confirmado por diversas testemunhas.

Occorreu no rio Purus, no seringal Caçaduá, e foi assim narrado por Antonia Miguel Vieira, mulher do assassinado.

A's nove horas da noite do dia onze de agosto do corrente anno, estava seu marido Agostinho Gomes de Oliveira em seu barracão, quando lhe appareceu o individuo Francisco Alves da Costa, que lhe pediu um pouco de aguardente. Como lhe fosse negada a bebida, Francisco Alves exasperou-se e estebeleceu discussão com Agostinho, sobre o qual, no auge da indignação, disparou quatro tiros de revolver que o prostraram, morto, no chão.

Depuzeram no inquerito aberto na primeira delegacia as testemunhas Herminio dos Santos Ferreira e Octavio dos Santos Cardoso, hospedes do hotel Vasco da Gama, desta cidade.

O primeiro disse que estando, no dia onze de agosto, no interior do barracão Caçaduá, ouviu para o lado do terreiro do estabelecimento um grande alarido, gritos de matei-te! e denotações de tiros. Accorrendo ao local, encontrou morto Agostinho Gomes de Oliveira e já preso o assassino Francisco Alves da Costa. Não sabe ao certo a causa do crime; ouviu entretanto dizer ter sido provocado por motivos frivolos.

A outra testemunha, Octavio dos Santos Cardoso, declarou saber o facto por ouvil-o contar. Não assistiu o seu desenlace, affirmando entretando que o assassinado era um homem morigerado e trabalhador, e o assassino sobrinho de Trajano Alves da Costa, proprietário do Caçaduá, sendo de esperar que, si não viesse parar o caso a esta cidade, nenhuma providencia seria tomada sobre elle.

Francisco Alves da Costa acha-se naquelle seringal, não se sabe si preso ou em liberdade.

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OS EXAMES NO GYMNASIO AMAZONENSE
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Foi o seguinte o resultado dos exames realisados hontem no Gymnasio Amazonense :

─ Geographia, primeiro anno, Dejanira Affonso Rebello, approvada plenamente, gráo oito; Armando Amorim e Eloisa Braga, idem, gráo sete; Arthur Ferreira Uchôa, Margarida Castro, José Garcia de Vasconcellos e Norma Lima, idem, gráo seis; Raymunda Neves, approvada simplesmente, gráo cinco; Lafayette Ribeiro, Heralia Siqueira, Rosalia Corrêa, Ildefonso Corrêa, Theodoro Gonçalves Netto, Ormuz Miranda, Elviro Dantas Braga e Achilles Cabral, idem, gráo quatro; Eutichio Guimarães, Antonio Rebello, Adrião Ribeiro Filho, Tiburcio Vieira Dias, David Paiva, Raymundo Menezes, José Frasão Ribeiro, Ethelberto Versari, José Caetano de Lemos e Paulo Barrero, idem, gráo tres; Aluisio Ramos, Alexandre Guimarães, João Falcão, Paulo Nascimento Filho, Antonina Vieira, Walter Véras Pedro Soriano de Mello e Antonio Zuany da Silva, idem, gráo dois; Antonio Meninéa, Raymundo Sandoval Costa e Francisco Rodrigues de Mello, idem gráo um.

Faltaram á prova escripta quatorze, á oral dois e foram reprovados cinco.

─ Portuguez, segundo anno: Leovegildo Rebelio de Soiza, approvado plenamente, gráo seis; Olica Achão, approvada simplesmente gráo cinco; Aluisio Ribeiro, Anna Moura, Antonio de Paula Avelino e Leopoldo da Silva Neves, idem gráo dois.

Foram reprovados dois e faltaram à prova oral sete.

─ Mathematica, terceiro anno : Basilio Campello, Clara Versari e Elisa Versari, approvados simplesmente, gráo cinco; Raymundo Chaves Ribeiro e Bertha Guiomar da Silva, idem, gráo quatro; Lina Cardoso, idem, gráo tres; Bernardo Cruz Netto e Debora Lins, idem, gráo um.

─ Mathematica, quarto anno : Raymundo Meninéa e Ivan Guimarães, approvados plenamente, gráo oito; Mathusio Moura, Onesina Osorio, Aida Santos, Alitta Coelho e Guiomar Menezes, idem, gráo seis; Luiz Cabral e Ignacia Teixeira, approvados simplesmente, gráo tres; Dorothéa Pires, idem, gráo dois; Adelaide Pizzorno, idem, gráo um.

─ Allemão, sexto anno: Evangelina Alves Ferreira, approvada com distincção, gráo dez; Alkendi Uchôa, Candida Frota e Schinda Uchôa, approvados plenamente, gráo oito; Theodoro Vaz e Abreu, idem, gráo seis; Confucio Pamplona, José Antonio Barroso e Octaviano Mello, approvados simplesmente, gráo quatro.

─ Mecanica e Astronomia, quinto anno: ─ faltaram todos os candidatos.

─ Realisam-se hoje, ás oito horas da manhã, os exames de inglez para o segundo anno; francez para o terceiro e quarto; e litteratura para o quinto.


O assassinato do sargento Lobo
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As providencias da policia têm sido infructiferas, quanto á prisão do criminoso
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Um officio do dr. chefe de policia ao commandante da flotilha
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Demos noticias tão detalhadas quanto nos foi possivel obtel-as, sobre o assassinato hontem ocorrido em frente ao Café Suisso.

Temos hoje a accrescentar algumas notas elucidativas, sobre as providencias dadas pela policia civil.

Infelizmente, até agora nada ficou apurado, continuando impune o assassino do mallogrado sargento Octavio Siqueira Lobo.

No inquerito, sobre o facto aberto na segunda delegacia, já depuzeram as testemunhas Raymundo de Freitas, Benedicto Moreira Sampaio e A. Chaves, proprietário do Café Suisso.

De suas declarações nada se poude apurar, que trouxesse luz sobre o caso.

A policia, entretanto, por vagas informações que possue, anda no encalço do indigitado assassino.
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O enterramento do sargento Lobo teve lugar hontem, ás quatro horas da tarde, sahindo o feretro do hospital da Santa Casa de Misericordia, com grande acompanhamento de officiaes da Flotilha, marinheiros e algumas familias, sendo o corpo sepultado no cemiterio de S. João.

Sobre a lamentavel occorrencia, dirigiu hontem o dr. chefe de policia o seguinte oficio ao capitão de fragata Affonso da Fonseca Rodrigues, commandante da Flotilha:

"Exmo. snr. capitão de fragata e da Flotilha deste Estado. Lamentando o assassinato de um inferior da Armada, pertencente a essa Flotilha, occorrido hontem, á noite, nesta cidade, comunico a v. ex.ª que, quando providenciava sobre o referido assassinato e procurava garantir a ordem publica por intermedio de uma patrulha de oito praças do batalhão de segurança do Estado, commandada por um official, alguns marinheiros dessa Flotilha aggrediram a alludida patrulha, só não tendo dado graves consequencias devido á calma e prudencia do official commandante da patrulha e de um official da Armada que se achava presente. Levando ao conhecimento de v. ex.ª o ocorrido, testemunhado igualmente por outros officiaes da Armada, á paisana, espero que sejam tomadas as necessarias providencias, afim de que não se reproduzam factos de semelhante natureza. Com este motivo reitero a v. ex. os meus protestos de estima e apreço. (a) O chefe de policia, João Lopes Pereira.

Jornal do Commercio, Manaus, quinta-feira, 18 de setembro de 1913

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