terça-feira, 29 de março de 2016

15.09.1974 - E o povo só aplaudiu, como estava previsto

46 ─ O ESTADO DE S. PAULO                                                                        DOMINGO, 15 DE SETEMBRO DE 1974

E o povo só aplaudiu, como estava previsto


Tudo transcorreu como fora previsto. As bandas chegaram a tempo, as recepcionistas mantiveram o sorriso numerado, os crachás foram suficientes, o povo se aglomerava atrás dos cordões de isolamento contido por vigilantes policiais, os altifalantes funcionaram como deviam e até o locutor soube dar, à sua voz, o timbre que caracteriza os mestres de cerimônia dos grandes espetáculos circenses. À grande festa de ontem cedo, não faltou nada. Talvez o protagonista principal ─ o metrô ─ tenha perdido um pouco de importancia pelo brilhantismo dos coadjuvantes ─ as autoridades. À platéia, restou o papel de sempre: assistir. Mas isso também havia sido previsto. Afinal, o povo estava ali justamente para aplaudir. E aplaudiu obediente a cada pedido de "uma espontanea salva de palmas" do mestre de cerimônias. Na região da cidade entre Vila Mariana e Jabaquara, o grande espetáculo tomou toda a manhã. Conseguiu alguns sorrisos das crianças que ganhavam balões de gás e ofereceu a alguns candidatos uma boa oportunidade de se mostrarem às vésperas das eleições. Tudo estava previsto. Os inconvenientes ficaram apenas para aqueles que foram às estações do trecho de sete quilômetros na esperança de participarem do espetáculo, como extras talvez, mas também tiveram de se contentar com a assistência convencional. Eles estavam ali para bater palmas e manter o complemento indispensável. Afinal, o que seria da grande festa se não houvesse assistência? Para assegurá-la, existiam os folhetos promocionais, coloridos. Havia balões de gás para as crianças e a oportunidade de todos verem de perto as ilustres autoridades. Tudo como havia sido previsto. Quando a festa terminou e a platéia deixou o local do espetáculo, a ela restava apenas a esperança de amanhã, sem balões, bandas de musica, crachás, mestre de cerimônia, altifalantes, cães pastores da PM e cordões de isolamento, poder passar pelas bilheterias, pagar um cruzeiro e 50 centavos e viajar de metrô.

Para o grande espetáculo do metrô, tudo foi preparado com a devida antecedência, até mesmo a "espontaneidade" das manifestações populares

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Problemas de fala: rouquidão, gaguez, voz velada, esganiçada ou estridente: falhas de articulação, pronúncia, ritmo e outras anomalias.
CULTURA GERAL ─ apreciação artística, história das artes ─ sessões integradas de música, artes visuais e literatura. Processo audio-visual e criativo.
Professora: Maria José de Carvalho, ex docente da Esc. de Comunicações e Artes da USP.
Informações ─ Tels.: 247-3157 e 63-4510
CONVITE
A nova forma de atendimento de saúde aos funcionários da Prefeitura de São Paulo e seus dependentes, que poderão escolher livremente os médicos de sua preferência, bem como outros aspectos importantes da moderna sistemática administrativa, seus objetivos e benefícios, implantados por orientação do Prefeito Miguel Colasuonno, serão abordados amplamente pelo Secretário de Higiene e Saúde, Dr. Aldo Fazzi, nesta terça-feira, às 14 horas, durante palestra que fará, como convidado especial, no anfiteatro do Hospital do Servidor Municipal.
Prefeitura do Município de São Paulo
Secretaria de Higiene e Saúde
TELESP
TELECOMUNICAÇÕES
DE SÃO PAULO S.A.
SUBSIDIÁRIO DA TELEBRÁS

COMUNICA

A TELESP comunica que continuam abertas as inscrições de novos telefones apenas para as áreas de Perdizes e Anhangabaú, ou seja, apenas para as ruas cobertas pelas estações 62, 65, 262, 227 e 228.

A DIRETORIA
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Uma festa sob encomenda na manhã tropical

Num curto trecho de pista da Domingos de Morais, em frente à estação Vila Mariana, as bandeirinhas, os balões de gãs e os chapéus de sol distribuídos por 100 recepcionistas que receberam entre 100 e 500 cruzeiros da Companhia do Metropolitano, demonstrava, logo cedo as características dadas à festa de inauguração do primeiro trecho da linha Norte-Sul.

Em manhã de sol que o incansável locutor da radio Mensagem classificava de "tipicamente paulistana" em transmissões que se estenderam por dezenas de altifalantes, as recepcionistas uniformizadas concediam à comemoração o toque mais evidente de que ela pertencia exclusivamente às autoridades: à entrada da área impedida, afixavam dezenas de crachás ─ os tipos variavam conforme o grau de importância do convidado ─ nas roupas de quem se identificasse devidamente. Fora dos cordões de isolamento, o povo esperava os colegiais que surgiam desfilando com a marcação da Banda da Polícia Militar.

De espontaneo, as pessoas que assistiam aos preparativos para a festa manifestavam apenas o descontentamento em não pode ultrapassar as cordas que as separavam da estação Vila Mariana, onde se encontrava a verdadeira e unica atração da festa.

Com sua movimentação limitada pelos cordões de isolamento, Jorge Soares Cápua Júnior, por exemplo, não soube como explicar aos três filhos que trouxe de Campinas, porque eles não iriam passear de metrô. As autoridades, que os três meninos puderam ver, chegaram às 9 e 15. Dos altifalantes, a ordem para uma espontanea salva de palmas ao prefeito e ao governador foi imediatamente atendida. Passaram os aplausos, ouviu-se nos altifalantes o elogio às "comunidades de Vila Mariana, Vila Clementino, bairros da Saudade e Ibirapuera, soberbamente representadas em sua estação". Junto às autoridades, dezenas de agentes de segurança muito mal disfarçados sob os crachás de "convidados". Entre eles, os agentes da empresa Vigilância Global, contratada pelo metrô, misturavam-se com empregados da Jaraguá Promoções, uma nova firma contratada pelo metrô para cuidar de sua festa.

Depois do hasteamento das bandeiras, o coral do Colégio Alfredo Ascar tentou cantar. Não pôde: seus integrantes calaram-se ante o aviso que surgiu nos altifalantes, de que as autoridades "estavam ansiosas para experimentar o metrô". E elas partiram para satisfazer o seu desejo, "rigorosamente dentro do horário, como aliás deve acontecer em solenidades como esta", afirmava a voz que saia dos altifalantes.

No mezanino da estação, outro coral esperou inutilmente sua vez de cantar. Dom Paulo Evaristo Arns abençoou rapidamente o local e saiu. Já na Domingos de Morais, ele pode ouvir a informação do sistema de som: "O Cardeal Arns procederá, agora, à bênção de todo o sistema metroviário". Depois, o pedido para que "sigam lentamente, com muita calma, tranquilamente para os vagões". Nas plataformas, na troca de empurrões, ministros separaram-se do prefeito, deputados não puderam acompanhar o governador.

Não muito distante dali, na estação praça da Árvore, o motorista Odilon Januário, com sua roupa de passeio ─ paletó marrom e calça verde-escuro ─ não se importava em perder algumas horas de serviço para tentar ver a inauguração. Mas demorou-se apenas cinco minutos: levando a frustração de não ter podido "andar de metrô" e a certeza de que a festa não era para o povo.

A exemplo de Odilon, muita gente acabou deixando a praça da Árvore por não poder nem mesmo entrar na estação. Mantido a distância por cordões de isolamento e um policiamento ostensivo que incluia até mesmo cães pastores, o povo acabou sendo apenas um espectador passivo de um cenario artificialmente festivo, onde as autoridade e convidados desfilavam sua vaidade.

Antes que o "trem das autoridades" partisse de Vila Mariana, a estação da praça da Árvore era apenas um imenso vazio ocupado por funcionários, pessoal da segurança e serventes que se desorientavam em apressadas ordens e contra-ordens. Mas, quando o trem começou a chegar, o supervisor da estação Jamil Nemes, deixou tudo de lado para ensaiar uma voz radiofonica e ler o texto reservado para o momento: "Bem-vindos ao metrô de São Paulo no início de sua operação remunerada...".

Fora, o diretor do Colégio Bilac, Amaro de Abreu, não conseguia conter o seu entusiasmo: ele era o responsável pela coordenação das "manifestações espontâneas" na praça da Arvora. A frente de um grupo de "lideres da comunidade", o professor gritava e gesticulava as providencias para que nada saisse errado. A ele caberia "saudar o governador e o prefeito" quando estes descessem do trem e subissem ao mezanino. Não deu certo: a aglomeração que se formou logo após a chegada do "trem das autoridades", abafando a mensagem de Jamil Nemes, não permitiu que o professor deixasse o seu anonimato. Depois de vencer a barreira de agentes de segurança, funcionários do metrô e convidados, ele chegou perto do governador e do prefeito. Mas com tempo apenas para um aperto de mão. Quando esboçou a ensaiada saudação, foi afastado pela segurança.

À custa do sacrificio das crianças e jovens que ficaram sob o sol por muito tempo, o programa de homenagens na terceira escala da festiva rota do metrô pôde ser cumprido normalmente. Com discursos, entregas de flores e apresentações de fanfarras que incluiram o "Parabéns a Você", aproveitando a "coincidencia" da data de aniversário do governador.

Mas os insistentes apelos do mestre de cerimonia não foram correspondidos desta vez: os poucos aplausos demonstraram que o publico não estava sintonizado com a euforia oficial. Os populares dispensaram-se rapidamente logo depois que as autoridades deixaram a praça, embora os altifalantes anunciassem repetidamente "novas atrações".

E o "trem das autoridades" prosseguiu na sua viagem.

Quando a voz empolgada do locutor da radio Mensagem substituiu o som estridente de uma orquestra norte-americana nos altifalantes da estação Santa Cruz, na rua Domingos de Moraes, ainda havia algumas pessoas perto do palanque instalado na frente do Colégio Arquidiocesano. Mas a ordem dada pelos organizadores da festa encarregou-se de acabar com a ultima possibilidade de o povo participar da segunda fase da maratona inaugural: os cordões de isolamento foram reforçados, guardas da Policia Militar colocaram-se estrategicamente nas esquinas do quarteirão, com cães ameaçadores. E o povo, naturalmente, sumiu atrás das bandeiras e fanfarras infantis.

Por isso, quando o governador Laudo Natel e seu sequito chegaram, encontraram apenas um pequeno grupo de politicos profissionais e alguns jornalistas. O presidente da Assembléia, Salvador Julianelli, estava ali porque se atrasou na saida da estação Vila Mariana. O deputado Rui Codo juntou-se a ele: assim, puderam disputar com mais chances o privilegio de uma foto junto às autoridades que inauguravam o trecho de sete quilometros.

O ar sombrio da cinzenta estação Santa Cruz ganhou logo animação quando os convidados oficiais começaram a descer do trem para a rua. E quando o governador Laudo Natel, praticamente arrastado por seus homens de segurança, conseguiu chegar ao palanque azul, os discursos, entregas de placas e agradecimentos oficiais recomeçaram. Só que, desta vez, entre disfarces e barulhos esporadicos de alguns "traques" colocados por um convidado bem humorado.

Apesar dos esforços dos rapazes da "Jaraguá Promoções" em distribuir bandeirinhas, balões e chapéus, o que chamou mesmo a atenção foram as enormes faixas da Associação Comercial, saudando o "arrojo" dos construtores do metrô e o volume da vitrola do Colégio Arquidiocesano, onde girava um disco da Aquarela do Brasil na versão alemã de Fischer Chôre.

É claro que o séquito do governador não passou despercebido: um ritmo desenfreado de baterias encarregou de anunciar que as ilustres autoridades estavam chegando. Depois que o locutor da rádio Mensagem recorreu "às crianças do Brasil" para saudá-las, os organizadores da festa conseguiram encontrar as flores que tinham desaparecido e finalmente entregá-las aos principais homens da comitiva.

Nessa hora, o fotógrafo ambulante Adalberto Jacob viveu um dos seus momentos de maior glória: confundido com um dos representantes da imprensa, ele nunca foi tão requisitado para registrar mostras de congratulações. E pode até fazer o que seria considerado, por alguns jornais, "um furo de reportagem": fotografou, o quanto quis, o novo tom castanho dos cabelos de um velho político, antes grisalho, dedicado agora à difícil tarefa de renovação de sua imagem conservadora. Calmo, político, o homem não se importunou.

Por um instante, de repente, tudo parou. Um som estranho de buzinas invadiu a rua em meio à apoteótica manifestação "espontânea" de agradecimento que caía das sacadas do Arquediocesano sob forma de confetes, arroz e serpentina. Na frente do palanque surgiam, ao mesmo tempo, bandeiras de todos os países do mundo que possuem metrô. E, para compensar a ausência do símbolo do metropolitano de Moscou, os organizadores da festa lançaram à frente de uma fileira de colegiais fantasiados, três pequenos meninos que poderiam lembrar cossacos.

Depois que a ruidosa comitiva viu tudo isso e partiu tão confusamente como tinha chegado, os moradores dos quarteirões próximos puderam ver de perto das bandas das 13 escolas que participaram da festa. E, como que para provar a "espontaneidade" da manifestação, a perua da firma de promoções contratada pelo metrô passava pela rua, lotada de rapazes que levavam ─ para quem quisesse ver ─, os buquês de flores padronizados, preparados para os colegiais entregarem ao governador se ele não estivesse com tanta pressa.

Quando a festa terminou, centenas de operários da empreiteiras responsáveis pela construção do "mais moderno sistema de transporte urbano" tiveram de tomar a sua condução habitual: sobre as caçambas metálicas dos caminhões basculantes, eles se espremiam e não demonstravam nenhuma preocupação pela iminência de qualquer acidente. Apesar de não ser permitido esse tipo de transporte, nenhum policial de transito tomou qualquer providência, preferindo o tratamento pouco delicado aos motoristas que procuravam orientação sobre os caminhos a seguir.

Antes do meio-dia, toda a grande festa já havia terminado. O cenário montado para o espetáculo já não se justificava. Era apenas um conjunto de palanques, recepcionistas já sem sorriso e confetes e serpentinas pelas ruas. As estações fechadas, mantinham o clima escuro que permanecerá até amanhã, às nove horas, quando enfim começará realmente a "operação remunerada" no pequeno trecho de sete quilometros.

Ao fim da festa, nem a Companhia do Metropolitano de São Paulo, nem a Prefeitura do Município, informaram quanto custou o grande espetáculo.

aE
agência ESTADO

AGOSTO DE 1974
PLANO DE AUTOFINANCIAMENTO
DE VEÍCULOS
UNIÃO ECONÔMICA
83.ª ATRIBUIÇÃO DE VEÍCULOS "0 KM"

Ficam os senhores participantes do Plano de Autofinanciamento de Veículos "UNIÃO ECONÔMICA" e público em geral, devidamente informados conforme determina o artigo 11.o do seu regulamento, dos nomes contemplados no ultimo dia da Loteria Federal de 31-08-74, para receberem seus veículos "0 KM", cabendo salientar que o referido Plano de Autofinanciamento de Veículos atinge com a presente ATRIBUIÇÃO o montante de Cr$ 31.385.741,99.

N.º Privativo  Contr.        PARTICIPANTES             Veículo
de inscrição   Pagas                                    Marca
     2401       246    ADELINO RODRIGUES              VOLKS-1300
     3398       163    AMERICO FRANC. T. CONCEIÇÃO    VOLKS-1300
     1812        83    JAIME DE OLIVEIRA              FORD-F-350
     3555       170    JOSÉ MARIA REY                 VOLKS-1300
     4359       165    LAURINDO DOS SANTOS HELENO     KOMBI-ST
     1888        83    MARIA DULCE RABELLO RANGEL     VOLKS-1300
     1429        83    ROBERTO FONSECA LEAL           KOMBI-ST

Os senhores participantes acima relacionados estão nesta data sendo informados por carta de Atribuição de Veículos que lhes couberam e demais atinentes a liberação dos mesmos.
OBS: Os pagamentos para a próxima atribuição deverão ser efetuados até o dia 27-09-74.
EXECUÇÃO E ADMINISTRAÇÃO
UNIÃO DOS SERVIDORES DA CAIXA ECONÔMICA DO ESTADO DE S. PAULO
Praça Pedro Lessa, 61 ─ 11.o Andar ─ São Paulo ─ Capital.
São Paulo, 15 de setembro de 1974.

FURUKAWA INDUSTRIAL S.A. PRODUTOS ELÉTRICOS

(NOVA DENOMINAÇÃO SOCIAL DE KAISER ALUMINIO DO BRASIL S.A.
Com sede à Av. São João, 473 ─ 15.º andar, tendo transferido para outra organização, KAISER ALUMINIO COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA, seus telefones:

36-7232 ─ 35-694 ─ 32-8401

comunica que doravante, continua atendendo unicamente pelos seguintes telefones:

36-3757
32-9052
35-5547
32-6952

O Estado de São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1974

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