sábado, 26 de março de 2016

16.08.1990 - Inseminação ainda é polêmica

36/Quinta-feira, 16 de agosto de 1990


Inseminação ainda é polêmica

◙ Códigos penal e de ética médica
são omissos A infertilidade
causa problemas psicológicos e
a fecundação em laboratório é
uma opção, mas merece cuidados
Arquivo/ZH
Cada caso de inseminação artificial deve ser examinado detalhadamente e são inconvenientes as generalizações, defendeu, ontem, o geneticista Francisco Mauro Salzano, durante o painel "Justiça e Inseminação Artificial: a volta da questão ética", dentro do projeto Ciência às Seis e Meia, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Os vários tipos de inseminação não estão previstos no código de ética médico e do código penal, lembrou.

"É preciso iniciar a discussão", defendeu. Entre as interrogações que começam a aflorar na classe médica, está a utilização em pesquisas dos embriões congelados que não forem usados para reimplantação no útero. A Igreja considera que o direito à vida ocorre no momento da fecundação ─ mesmo que ela aconteça in vitro ─ quando o esperma e o óvulo se encontram. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que esse direito está vinculado à existência independente, quando o embrião, já com forma de feto, pode ser retirado e sobreviver.

A questão é polêmica. Nos Estados Unidos a legislação considera antiéticas pesquisas em embriões que sobraram de uma paciente fecundada. Na Austrália, é comum e legal.

INFERTILIDADE ─ No Brasil, pesquisas apontam que existem 200 mil mulheres inférteis por terem as trompas doentes ou bloqueadas. "Isso causa problemas psicológicos e a fecundação in vitro é a mais adequada", disse Salazano. Porém, o médico trouxe à tona os questionamentos que podem ser gerados nos casos de inseminação nas mães substitutas e pais biológicos. O geneticista acha que deve ser discutida a seleção de doadores (evitando doenças e muitas diferenças físicas com o pai e mãe legais), e o anonimato deles. Salzano considera antiética a comercialização de espermas e óvulos, para resolver casos de infertilidade.

Zero Hora, quinta-feira, 16 de agosto de 1990

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