sexta-feira, 15 de abril de 2016

01.11.1985 - Cartas

JORNAL DO BRASIL
10 ◙ 1º caderno ◙ sexta-feira, 1º/11/85

Cartas

Bolívia

Quero referir-me ao artigo Inflação de 24.400% ao ano e corrupção Inviabilizam a Bolívia, de Ruth Aquino, publicado no dia 26/10/85, nesse jornal. Sobre o assunto, permito-me enviar-lhe meus comentários, porque, como boliviana, preocupa-me a imagem de meu país no exterior, e artigos desse tipo em nada ajudam a melhorá-la. De um modo geral a análise contida no artigo em pauta apresenta uma realidade, ainda que também contém informação distorcida e não contém nenhuma informação sobre o que se está fazendo para corrigir o desastre descrito no mesmo artigo.

A informação distorcida seria sobre a emissão de dinheiro novo: "Toneladas de cédulas são impressas para manter em funcionamento a economia deste pais...", na realidade não foi emitido dinheiro novo após 6 de agosto. Em relação à inflação, o artigo indica também que "Após a eleição de Victor Paz Estenssoro, em agosto, quando a inflação ainda era calculada em (apenas) 9.000%..., esse dado não reflete a realidade e depende de quais índices foram tomados em conta, já que, na época, a Confederação de Empresários Privados da Bolívia publicava o índice de 45.000% de inflação ao ano."

O artigo não menciona a Nova Política Econômica que dispõe sobre a descentralização das empresas estatais, a ampla liberdade de comércio, o livre fluxo dos preços, a flutuação do peso em relação ao dólar, congelamento de salários, etc. e que apesar de ser um pacote de medidas que exigem um sacrifício da população a curto prazo, os primeiros resultados a serem obtidos são otimistas e alentadores. Por outro lado, não menciona que o novo governo está dedicando seus esforços para devolver ao povo boliviano tranqüilidade para trabalhar e meios para viver melhor, assim como devolver ao Estado Nacional o respeito e a dignidade que havia perdido durante os últimos anos. Moira Paz Estenssorro — Rio de Janeiro.

Cemitério

Ao inicio do ano em curso, em visita ao Cemitério do Catumbi, onde estão sepultados os meus trisavós, o Visconde e a Viscondessa de Souto, e onde estão os túmulos originais de meus tios-trisavós, o Duque e a Duquesa de Caxias (exumados em 1949 para o Panteão Nacional), fiquei chocado com o estado de abandono e deterioração do histórico e precioso cemitério, onde repousam os restos mortais dos grandes vultos históricos do II Império, e que representava um conjunto arquitetônico de rara beleza, sem similar no Brasil, todo em mármores importados de Carrara, delicadamente esculpidos. Encontrei esses mármores das campas, lápides e capelas fragmentados, perdidos num matagal de quase dois metros de altura, em meio a cacos de garrafas, fezes humanas e até ossadas expostas. E é lá que estão sepultados o Marquês de Olinda, o Conde de Ipanema, Theóphilo Otoni, Barão de Maruim — e todos aqueles que construíram a nossa História. Uma favela avançara sobre o cemitério, e o túmulo do próprio Theóphilo Otoni estava desaparecendo sob um barraco.
(...)
O JORNAL DO BRASIL foi o primeiro a apoiar a minha denúncia, mobilizando uma equipe de repórteres para constatar, in loco a situação da antiga necrópole e publicando grande reportagem sobre o assunto, em sua edição de 7/4/1985. Seguiram-se manifestações de diversos outros órgãos de imprensa, e até no Paraná e em São Paulo a situação repercutiu, ora provocando reportagens, ora apresentando-se sob a forma de assunto para editoriais. Foram 14 as manifestações de jornais brasileiros, e todas elas encaminhei, junto à minha denúncia, ao Ministro da Cultura, à SPHAN e a outras autoridades.

Ao início do mês em curso, estive no Rio e fui recebido pelo arquiteto Dr. Umberto Napoli, da SPHAN, que, me exibiu a espessa pasta contendo minha denúncia, que deu início aos estudos visando ao tombamento do setor histórico do Catumbi. Já estão no papel os planos de reurbanização, restauração e até arborização da antiga necrópole; e assegurou-me o arquiteto que, num curto período de tempo, o tombamento pela SPHAN será uma realidade. Causou-me surpresa constatar que inexistia qualquer processo, na SPHAN, para o referido tombamento, e que tal processo só se iniciou à partir de minha denúncia. Na mesma ocasião, iniciei novo processo, visando à colocação de uma placa de bronze no interior da Capela Mayrink (já tombada, e enriquecida neste século por quatro painéis de Portinari), alusiva ao Visconde de Souto, que foi quem mandou construir a linda capela em 1860, na chácara de sua propriedade, no coração da Floresta da Tijuca. Tal homenagem representará, no mínimo, um desagravo de nossa imemorial Memória a um vulto histórico tão rapidamente esquecido de nossos compêndios. O apoio que recebi do seu prestigioso jornal foi fundamental para que a SPHAN se sensibilizasse com a questão e encaminhasse os estudos pró-tombamento com tanta determinação, como vem fazendo. (...) Dr. Francisco Souto Neto — Curitiba (PR).

Benefícios do mel

Além de ser alimento energético, e por isto os esportistas habitualmente o consomem, e também certos artistas, como Rita Lee e Nei Matogrosso, por exemplo, o mel contém vitaminas e sais minerais, além de uma substância de capital importância: as enzimas. Estas são secretadas pelas vesículas das abelhas operárias. Tais vesículas são uma espécie de laboratório, onde o néctar das flores é transformado em mel, e em seguida depositado pelas operárias nos alveólos (células hexagonais) dos favos. O mel legítimo, puro, é igualmente portador da inibina, substância antibiótica, bactericida.

Desde a antiguidade, o mel é usado, como eficaz remédio para diversas afecções. Sendo muitas as doenças que podem e devem ser combatidas com o usos do mel, limito-me a mencionar apenas as seguintes: gripe, duodenite, afecções cardíacas, insônia, prisão de ventre etc.

O mel contribui para o aumento dos glóbulos vermelhos do sangue. Não sendo fator de acidez, o pediatra e patologista do Hospital de Bronx, Nova Iorque, Dr. Paulo Luttinger, em 1922, já recomendava o uso de mel para bebês, cujos intestinos tinham dificuldades de assimiliação de açúcar, dissacarídio (sacarose, açúcar comum), pois o mel de néctar, puro, contém somente até 2% de sacarose. Os açúcares predominantes no mel são a glicose e levulose, monosacarídeos, que são assimilados diretamente pelo sangue. Portanto, o mel é altamente benéfico para a saúde, sendo apenas contra-indicado para diabetes malignas. João Candido Nogueira de Sá — Rio de Janeiro.

O saldo médio 

Essa Seção publicou recentemente carta de outro leitor a respeito de uma taxa debitada aos clientes pessoas físicas pelo Banco Econômico naqueles casos, em que o saldo não corresponda a um X de Obrigações Reajustáveis, aparentemente por ele arbitrado. É o antigo, famigerado e estranho "saldo médio" de que se valem os bancos para emprestarem dinheiro, ou o "me empresta que te emprestarei". Agora pelo menos o Econômico evoluiu e debita uma taxa na conta do cliente com saldo pequeno. E o somatório dos saldos pequenos no Brasil inteiro não interessa ao banco? Eles, com a sua fértil imaginação, vão criando coisas para ganhar sempre mais.

Naquela carta o leitor pedia que algum órgão do Governo ou da categoria dos banqueiros esclarecesse o assunto, sem dúvida do interesse de milhares e milhares de pessoas. Também aguardo e não vi qualquer resposta. Raul de Carvalho — Rio de Janeiro.
As cartas serão selecionados para publicação no todo ou em parte entre os que tiverem assinatura, nome completo e legível e endereço que permita confirmação prévia.

Jornal do Brasil, sexta-feira, 1 de novembro de 1985

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