quarta-feira, 20 de abril de 2016

20.07.2000 - Vida animal em perigo


Vida animal em perigo

O contato com a mancha de óleo no Rio Iguaçu é a maior ameaça para a população ribeirinha da região e os técnicos e voluntários que trabalham no salvamento dos animais. Biólogos dizem que muitos animais atingidos pelo óleo, mesmo que tenham atendimento, podem vir a morrer.

As substâncias contidas no óleo causam ardência quando expostas à luz do sol e morte com muito sofrimento em mamíferos e aves. Para os peixes, o perigo também é grande. "O contato com a massa de óleo provoca colapso respiratório e mata os peixes como se houvesse anoxia (falta de oxigênio)", disse Júlio César Garavello, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de São Carlos.

Espécies — "Os peixes ficam isolados na bacia do Paraná por causa das Cataratas do Iguaçu. Por isso, muitas das 35 espécies presentes são endêmicas — ou seja, são exclusivas do Rio Iguaçu, como grande parte dos lambaris, bagres, mandis e ossorubins", explicou Garavello.

Segundo o biólogo, o fato de ser inverno e as espécies não estarem em época de reprodução faz com que haja pouca movimentação de peixes, o que reduz os danos causados pelo óleo. Além disso, segundo Garavello, a tendência dos peixes é fugir da poluição, o que favorece sua sobrevivência. "O problema é que, na fuga, os peixes tendem a subir o rio. Se isso estiver acontecendo, a mortandade será inevitável".

Para Garavello, a recuperação de um rio como o Iguaçu, povoado por muitas espécies de peixe endêmicas, é difícil, pois o repovoamento exige um período longo. "O repovoamento com espécies de outras bacias não é recomendado nesses casos", afirmou.

Efeitos — Um acidente dessa magnitude — o maior já ocorrido em rio no Brasil — não tem conseqüências só no momento. "Os efeitos a longo prazo são o maior impacto, pois o rio perde sua função ecológica e, mesmo depois de muitos gastos com recuperação, nunca volta a ser como antes", disse José Galízia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia e especialista em recursos hídricos.

Para Tundisi, o Brasil não tem uma política de valorização dos ecossistemas. "Só avaliando economicamente os ecossistemas poderemos saber o quanto se está perdendo a cada vez que um acidente ecológico acontecer".

Integrante da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, Fernando Gabeira (PV-RJ), disse que ainda é cedo para avaliar os estragos provocados pelo vazamento de óleo. O deputado informou que já foi constatada a contaminação de garças nas margens do Iguaçu. Para Gabeira, "o que aconteceu no Paraná foi o mesmo que ocorreu na Baía de Guanabara, ou seja, uma possível falha humana sem que houvesse um sistema inteligente para deter o vazamento".

Jornal do Brasil, quinta-feira, 20 de julho de 2000

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