sábado, 23 de abril de 2016

02.07.1972 - Avião de guerra peruano cai no Sul mas tripulação se salva de pára-quedas


Avião de guerra peruano cai no Sul mas
tripulação se salva de pára-quedas

Porto Alegre (Sucursal) Já foram recolhidos, boas condições físicas, dois dos três ocupantes do avião Camberra, da Força Aérea Peruana, que caiu sexta-feira no Município de Alegrete, a 598 quilômetros distante de Porto Alegre.

Os três tripulantes, que se dirigiam de Lima a Buenos Aires, saltaram de pára-quedas depois que o avião, devido ao mau tempo, se desviou de sua rota e esgotou o combustível. São eles do comandante Pablo Varella, o major Oscar Carrera ─ que estão no Hospital Militar de Alegrete ─ e o capitão Victor Cevallos, cujo pára-quedas já foi encontrado.

BUSCAS

As buscas foram realizadas por terra, devido ao mau tempo. Um pelotão do 12º Batalhão de Engenharia de Combate encontrou os destroços do Camberra na localidade de Jataquá, a 20 quilômetros de Alegrete. O comandante Pablo Varella estava em boas condições físicas ao lado dos destroços do seu avião.

Contou ele que ordenou que os seus dois companheiros saltassem, a fil de tentar uma aterrissagem, pois a região é muito plana. Quando o combustível acabou, no entanto, teve de acionar o botão do assento-ejetor.

O primeiro a ser encontrado, com uma perna fraturada, foi o major Oscar Carrera, imediatamente internado no Hospital Militar de Alegrete. Depois, os soldados encontraram o comandante Pablo Varella e logo a seguir o pára-quedas utilizador pelo capitão Victor Cevallos, que deve estar vivo.

As buscas continuarão até que se esclareça o paradeiro do capitão Cevallos.

ASSISTÊNCIA

O adido aeronáutico junto à Embaixada do Peru no Brasil, coronel Jorge Barbosa Falconi, chegou às 11 horas de ontem a Alegrete, a fim de prestar assistência aos seus colegas de armas e providenciar junto às autoridades militares brasileiras a sua remoção para Lima.

O oficial peruano não quis prestar declarações. Do Aeroporto do Alegrete dirigiu-se diretamente para o quartel do 12º Batalhão de Engenharia de Combate, a fim de conferenciar com seu comandante, coronel Edu de Sousa.

Segundo informações das autoridades militares brasileiras, os três aviadores peruanos se dirigiam para a Base Aérea de Palomar, nas proximidades de Buenos Aires, a fim de concluir um curso.


O comandante Pablo Varella (acima), depois de atendido, contou os problemas que houve antes do desastre. O major Oscar foi o segundo a saltar de pára-quedas.


Comandante conta história da queda

José Henrique Mitchell
Enviado especial

Alegrete ─ No Hospital da Guarnição Militar de Alegrete, o comandante do avião peruano, tenente-coronel Pablo Varella contou, com certa dificuldade, alguns detalhes do acidente: "quando perdemos contato com a cidade argentina de Escobar a péssima visibilidade nos deixou praticamente perdidos. Como a gasolina estava no fim, mandei meus dois colegas saltarem numa diferença de cinco minutos entre cada um. Depois, ainda tentei realizar uma descida forçada, mas o avião se descontrolou. Não me sobrou outra alternativa senão pular, também e, quando caia, ouvi o estrondo do avião explodindo no chão."

Pablo Varella, que é o chefe do Estado-Maior do Grupo de Bombardeio Aéreo do Peru está com o olho esquerdo entumescido e com escoriações generalizadas pelo corpo. Ao seu lado, no quarto de recuperação do hospital, está o major Oscar Carreira, comandante do Esquadrão de Bombardeio, que foi o segundo a saltar e que resultou com fortes luxações no pé direito e no joelho esquerdo. Mas o major Carreira preferiu não falar sobre o acidente, a conselho do adido militar do Peru, coronel Jorge Barbosa.

CONTATOS

O coronel Jorge Barbosa, que chegou às 14 horas a Alegrete, a bordo de um Avro da Varig, proveniente do Rio de Janeiro, após visitar seus dois colegas de farda, manteve contato pelo rádio com o Ministério da Aeronáutica do Peru, informando sobre o resgate dos dois pilotos. Acrescentou que o avião ficou completamente destroçado, mas que sobre a localização do capitão Victor Cevallos "temos a esperança de localizá-lo, pois diversos moradores da região haviam visto os três pára-quedas descendo."

Jornal do Brasil, domingo, 2 de julho de 1972

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