segunda-feira, 4 de abril de 2016

18.04.1970 - Polícia mostra 3 dos 4 que tentaram seqüestrar cônsul

JORNAL DO BRASIL  ◙ Sábado, 18/4/70 ◙ 1.º Caderno

Polícia mostra 3 dos 4 que
tentaram seqüestrar cônsul

Pôrto Alegre (Sucursal) ─ Três dos quatro homens que tentaram sequestrar o cônsul Curtos Cutter foram apresentados ontem à imprensa pelo Secretário de Segurança, coronel Jaime Mariath. São êles Félix Silveira Rosa Neto, Fernando da Mata Pimentel e Irgeu João Menegon.

Em entrevista de 40 minutos, o coronel Mariath revelou que a intenção dos terroristas era trocar o diplomata norte-americano por 50 subversivos presos, que seriam enviados à Argélia. O atentado foi atribuído à vanguarda Popular Revolucionária.

COMO TENTARAM

Félix Silveira Rosa Neto, funcionário do Banco do Brasil em Pôrto Alegre há sete anos e chefe da VPR no estado, Fernando da Mata Pimentel, ex-funcionário do Departamento de Águas e Esgôto da Prefeitura de Pôrto Alegre, o estudante Irgeu João Menegon e um quarto homem não nomeado e ainda foragido participaram da tentativa de sequestro do dia 5.

Durante um mês êles seguiram o cônsul Curtis Cutter a fim de se familiarizarem com seus hábitos. A primeira tentativa de sequestro, na véspera, não chegou a se realizar porque o trânsito era intenso. Só na noite seguinte apresentou-se nova oportunidade, quando o cônsul vinha do teatro com a espôsa e um amigo.

Segundo revelou o coronel Mariath, Félix Silveira Rosa Neto, o Frank, tentou suicidar-se na prisão rasgando uma veia do braço com a barbatana da camisa. Foi encontrado na cela do DOPS já desfalecido, mas recuperou-se logo. Só então confessou sua participação no atentado ao cônsul norte-americano, que era desconhecida pela polícia quando o prendeu como elemento envolvido na subversão.

VEEMÊNCIA

O Secretário de Segurança negou com veemência que prisioneiros tenham sofrido torturas no DOPS, conforme denunciavam panfletos distribuídos pela cidade e nas universidades:

─ Tôdas as confissões foram obtidas sem violência ─ afirmou.

Acrescentou que Edmur Péricles de Camargo, o Gauchão, outro subversivo prêso, tem colaborado com a polícia, confessando sua participação em assaltos bancários e recomendando aos cúmplices que façam o mesmo, nas acareações.

O coronel Jaime Mariath enumerou as organizações subversivas que agem no Rio Grande do Sul, afirmando que a mais perigosa é a Vanguarda Popular Revolucionária. Enquanto falava, mostrava o material apreendido em 15 aparelhos da VAR-Palmares e cinco da VPR que foram desbaratados, incluindo armas, fardamentos militares, estopins de dinamite e literatura.

ASSALTOS

A VAR-Palmares e a M3G (Marx, Mao, Marighella e Guevara) foram responsabilizadas pela maioria dos assaltos a bancos em Pôrto Alegre, sob a chefia do Gauchão. A maior parte de seus integrantes está prêsa e os assaltos devidamente esclarecidos.

Segundo o Secretário de Segurança, a VPR realizou apenas um assalto, contra o carro-pagador do Banco Brasileiro de Descontos, roubando NCr$ 60 mil.

O Serviço de Relações Públicas da Secretaria distribuiu uma pasta com sete folhas mimeografadas, dando conta de como o dinheiro dos assaltos era distribuído: a maior parte ficava mesmo com os ladrões. Entre os beneficiados aparecem o ex-vereador Índio Vargas, o Dr. Marcelo; Miguel Marques, o Feio; Jorge Fischer Nunes; Djalma de Oliveira; e Edmur Péricles de Camargo, o Gauchão. O M3G e o Partido Operário Comunista também receberam parte do dinheiro. Dois terroristas conseguiram fugir para o exterior, levando um NCr$ 180 mil e outro NCr$ 30 mil. Ainda assim as autoridades conseguiram recuperar NCr$ 30 mil.

APRESENTAÇÃO

Só depois de falar 40 minutos e responder perguntas por outros 10 minutos o Secretário de Segurança iniciou a apresentação dos subversivos presos.

Primeiro, entraram Inês Maria Serpa de Oliveira, a Martinha, Edmur Péricles de Camargo e Gustavo Buarque Schiller. Os três foram conduzidos pelo braço por soldados da Brigada Militar até o palco do auditório da Secretaria de Segurança, ficando perfilados diante de painéis brancos numerados. Só a mulher demonstrava nervosismo, torcendo os dedos. Tanto ao subirem quanto ao descerem apresentavam certo atordoamento. Não foram permitidas perguntas aos presos.

Em seguida entraram os três que tentaram sequestrar o cônsul Curtis Cutter. Félix Silveira Rosa Neto estava com a barba por fazer e com aspecto macilento; ao seu lado ficaram Fernando da Mata Pimentel, o Jorge, e Irgeu João Menegon, o Zé.

REORGANIZAÇÃO

O coronel Jaime Mariath afirmou que, apesar do êxito no desbaratamento das organizações terroristas, "a subversão ainda não está destruída." É provável que ainda haja militantes soltos, que tentarão se reagrupar ou usar a "tática do deslocamento", passando a atuar em outros Estados.

Tôda a profundidade do esquema subversivo ainda não é conhecida. As salas do DOPS estão abarrotadas de documentos a analisar. Um dos documentos, entretanto, foi um dos mais importantes, pois possibilitou o desbarateamento de aparelhos até no Rio e em São Paulo.

Revelou também que as organizações subversivas iam partir para o sequestro de autoridades brasileiras e que o cônsul norte-americano só seria resgatado por 50 presos terroristas.

Jornal do Brasil, sábado, 18 de abril de 1970

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