quinta-feira, 21 de abril de 2016

09.04.1986 - É tempo de ver o cometa Halley


É tempo de ver o cometa Halley

A chuva está atrapalhando os planos daqueles que estão ansiosos para ver o cometa Halley neste período decisivo. Resta ficar na torcida para que na sexta-feira à noite possamos observar o espetáculo mais bonito de passagem deste astro luminoso errante, quando estará a 63 milhões de quilômetros da Terra. O cometa estará com seu brilho máximo e mostrará a maior extensão de sua cauda. Neste dia, um observador poderá vê-lo desde as 21 horas até o amanhecer. Por volta das duas horas da manhã, o Halley estará bem alto no céu, à esquerda e acima do Cruzeiro do Sul.

Estamos na semana decisiva para melhor observação do cometa Halley, pois ele alcança a distância mínima da Terra durante sua trajetória, ou seja, 63 milhões de quilômetros. Embora para alguns ele já seja considerado uma decepção, pois em março a sua aparição era tênue e ele mais parecia um borrão no céu ainda resta uma esperança de que a sua esplendorosa figura possa ser apreciada com ciais nitidez nos céus do dia 11 de abril, quando vôos noturnos e festas em altos edifícios já foram alvo de cuidadosos e bem bolados esquemas de marketing em todo o Brasil.

Para nós, ijuienses, a decepção será ainda maior se o tempo chuvoso persistir, determinando o céu encoberto à noite e impossibilitando a visão do Halley nesta sua 29ª aparição registrada historicamente.

MALDIÇÃO

Quando da sua última passagem em 1910, muitas histórias e crenças assustaram a população em todo o mundo. Dizia-se que a aproximação do cometa acarretaria o fim do mundo. Os cientistas tinham encontrado gases venenosos na cauda, tipo cianeto, relata Jaime Augusto Mallmann, professor da Unijuí, e previram que a cauda iria cruzar com a terra. Algumas pessoas então enriqueceram vendendo mascaras de gases e até capacetes, que preveniriam a população contra uma possível chuva de pedras também prevista, considerando que a cauda é constituída de partículas de poeira.

O cometa passou e não houve colisão, envenenamento ou qualquer desgraça. Já se sabia da densidade de matéria e gases da cauda que era incrivelmente baixa — quase um vácuo. "A História sempre colocou cometas como réus, acusando-os da responsabilidade de todos os males pelos quais a humanidade passou", refere Jaime. "O conhecimento científico representado pelo desenvolvimento da astronomia demonstrou que isso não passava de uma crença popular. Assim como os cometas não devem ser culpados por desgraças, a eles não devem ser atribuídos benefícios".

CIÊNCIA

Mallmann alerta que relacionar corpos celestes com fenômenos terrestres em relação ao homem é tarefa dos astrólogos.

A astronomia, que é uma ciência, é o estudo da natureza da origem, da formação e do movimento dos corpos celestes. A Astrologia, por sua vez, é uma criação da mente do homem e busca relacionar aspectos do seu cotidiano com relação ao movimento dos astros.

Mallmann aponta que o estudo dos cometas é apenas uma parte da Astronomia. Os cometas possuem características diferentes dos demais corpos celestes, como os planetas e estrelas, por exemplo, que apresentam forma esférica. Os cometas têm uma forma específica, com um núcleo, uma cabeleira e a cauda, que o caracteriza.

Talvez o fascínio exercido pelo cometa nos seres humanos seja justamente a sua forma inusitada, as aparições rápidas e as longas ausências.

ORIGEM

Existem duas teorias a respeito da origem dos cometas. Uma delas é a de que eles teriam surgido ao mesmo tempo da criação do sistema solar, junto com a nebulosa primordial.

Outra teoria refere que os cometas teriam origem interestelar ou seja, captadas pela atração gravitacional de Júpiter e do Sol.

Á medida que um co-meta se aproxima do Sol, sua aparência muda drasticamente e é muito difícil prevermos o seu comportamento. Um cometa típico, quando está situado a mais de 200 milhões de quilômetros do Sol tem a aparência de um objeto difuso de forma mais ou menos esférica e seu brilho provém de reflexão da luz solar na cabeleira. À medida em que esta distância diminui, o rápido aumento da radiação solar inflama o núcleo, fazendo com que a cabeleira adquira um brilho extraordinário e a cauda, antes inperceptível, assume dimensões gigantescas, chegando a dezenas de milhões de quilômetros. O processo se inverte á medida em que o cometa se afasta do Sol. 

CONSTITUIÇÃO

Um cometa é dividido em três partes: núcleo, cabeleira e cauda. Fazem parte do núcleo blocos de rocha com alguns quilômetros de extensão, cobertos por um manto de moléculas congeladas. Alguns cometas possuem mais de um núcleo e o Halley tem em torno de 30 quilômetros de diâmetro.

A cabeleira é uma região extensa, de até 200 mil quilômetros de diâmetro que envolve o núcleo, composta de gases e poeira. A cauda é uma faixa brilhante formada por partículas de pó, pequenos fragmentos de rocha e gases. No caso do Halley, a cauda pode chegar a 200 milhões de quilômetros.

O núcleo, com o calor, forma gases e partículas de pó, originando a cabeleira. A cauda se origina pela ação do vento solar (partículas emitidas pelo sol) sobre a cabeleira.

PERIODICIDADE

Existem cometas periódicos, com órbitas irregulares em torno do sol. Os aperiódicos não possuem órbitas em torno do Sol, passando somente uma vez perto do Sol.

Jaime Mallmann relata que existem cometas de curto, médio e longo período. O Halley é considerado de longo período, uma vez que sua trajetória dura 76 anos. Alguns podem cumprir sua órbita em até menos de um ano.

Existem mais de dois mil cometas periódicos catalogados pelos astrônomos. O Halley é apenas um deles e não é o maior e nem o mais brilhante. Mas é o mais conhecido, o mais famoso e o mais estudado, pois existe o registro de sua passagem há mais de dois mil anos.

TRAJETÓRIA

O Halley se aproxima desde os confins do sistema solar, onde sua velocidade é de cerca de 20 mil quilômetros horários. Ao chegar perto do periélio (ponto de mínima distância do Sol) atinge sua velocidade máxima, ou sela 200 mil quilômetros horários.

Na atual passagem, o Halley aproxima-se do periélio no dia 9 de fevereiro. A partir daí, durante cerca de duas semanas, ele ficou invisível para nós, pois estava atrás do Sol.

Continuando sua viagem, o Halley apareceu novamente nos últimos dias de fevereiro e agora ele é mais visível no hemisfério sul. Nesta sexta-feira, dia 11 de abril, atingirá a sua máxima aproximação com a Terra, ou seja, ele estará a 63 milhões de quilômetros. Nesta data, o cometa Halley será visível das 21 horas até o amanhecer.

No final de abril, observa Jaime, já estará tão distante da terra que não será mais visível a olho nu. O Halley já terá partido, seguindo sua rota normal novamente, em busca dos confins do sistema solar, para retornar novamente no ano 2.062.

OBSERVAÇÃO

Para uma boa visibilidade do cometa até o dia 16 de abril, destaca Jaime, será importante procurar áreas escuras livres de poluição de luz artificial. Você poderá observar o cometa tanto a olho nu, como com binóculo ou com um pequeno telescópio. Qualquer que seja a técnica utilizada, sempre que você sair de um ambiente iluminado, espere 5 a 10 minutos para que seus olhos se acomodem à escuridão.

Você deve procurar o cometa sempre na direção leste-oeste. A cada dia que passa ele estará um pouco mais cedo no horizonte leste e será melhor visível quando estiver perto do  zênite (ponto acima da cabeça).

A técnica menos sofisticada e mais barata é a olho nu, diz Jaime. "Mas não será a melhor maneira de observar o cometa, que está inclusive surpreendendo os astrônomos por sua pouca atividade interna, ou seja, mostrando cabeleira e cauda muito pouco brilhantes".

A observação pode ser melhorada sobremaneira com a utilização de um binóculo 7x35 e 7x50, cujo campo de visão cobre de 5 a 8 graus. Segundo Jaime, a utilização de um telecópio está bastante prejudicada pela fraca luminosidade.

Para tirar fotos, são indicadas câmaras que permitam deixar o diafragma aberto. Fixe o tripé rígido e use filmes sensíveis (400 a mil Asa). O cometa aparecerá bem como exposições acima de 10 segundos.

INFORMAÇÃO

Mesmo que não ofereça a visão esperada, o Halley vai proporcionar a oportunidade de coleta de dados científicos aguardados com ansiedade por cientistas do mundo inteiro. Em 1979, foi estabelecida uma cooperativa conhecida como Vigilância Internacional do Cometa Halley, a partir de uma iniciativa do Jet Propulsion Laboratory, dos Estados Unidos. Desde 1982, quando foi avistado na trajetória de volta de sua passagem pelo Sol, o Halley vem sendo acompanhado atentamente pelos cientistas, que buscam dados para aferir sua órbita.

A partir especialmente das cinco sondas lançadas para estudá-lo (duas russas, duas japonesas e uma européia) mais de perto, teremos uma quantidade incrível de informações para o conhecimento da origem dos cometas e em especial do sistema solar. 

Jornal da Manhã, quarta-feira, 9 de abril de 1986

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