Mamede, aos 59, comanda o judô
Já pôs a nocaute o pai de um dos seus alunos
Marcelo França
Você compraria briga com um sujeito de 59 anos, 1,55m, visivelmente barrigudo e avô de cinco netinhos?
O desafio continuaria de pé se este mesmo sujeito fosse ex-campeão pan-americano de halterofilismo, faixa-preta e 5° dan de judô, ainda praticante de caratê e protagonista da fratura da clavícula do netinho de três anos?
A escolha é sua, mas saiba logo que o avô barrigudo e o avô quebrador de clavícula são a mesma pessoa: Joaquim Mamede Carvalho e Silva, presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), o baixinho folgado.
Carioca da Tijuca há 59 anos, morador da Ilha do Governador, casado, pai de seis filhos e avô de cinco netos, o professor Mamede faz jus ao título há 38 anos, quando fundou sua academia, a sexta do Rio. E não seria injusto dizer que briga é uma das palavras mais constantes em sua vida.
Ele já brigou (e pôs a nocaute) com pai de aluno que o xingou, já brigou com judocas que estão agora sob seu comando e vão a Seul e diz brigar constantemente para pôr o judô em funcionamento — seja viabilizando viagens internacionais, seja arregimentando dinheiro para o Centro de Treinamento de Santa Cruz ou construindo sua carreira no judô brasileiro.
Brasileira por acusação de bebedeira —, brigou com Aurélio Miguel (talvez o melhor judoca do pais nos últimos anos) e vários outros atletas de nível, como o experiente Luís Onmura, duas Olimpíadas nas costas.
Frases como "quem manda sou eu", ou "opinião de atleta não conta" inundaram o esporte. Proibiu a entrada daqueles judocas durante um Sul-Americano no CIAGA e se julgou o presidente "mais liberal que passou pela CBJ". De quebra, dava declarações como esta:
"Invocou comigo, eu dou porrada".
Esta ameaça tem quase quatro anos. E foi refeita semana passada no Centro de Santa Cruz, na reapresentação dos olímpicos para a concentração de 58 dias. Atletas sentados na pequena arquibancada do jogo, ele foi claro:
"Tenho 59 anos e estou pronto pro pau com quem quiser", gritou, com rosto verme-lho. "E ai de quem me vencer".
Diante dele, os ex-brigados como Carmona, Miguel e Onmura.
E abaixo dos olhos, o regulamento para utilização do Centro para aquela temporada. Dentre as 27 recomendações, algumas eram pérolas do universo de Mamede:
— O trânsito no Centro deve ser feito calçado ou de camisa.
— Não é permitido mexer em qualquer árvore ou animais do Centro.
— É proibido falar alto ou falar palavrão.
Para esta última, Mamede reagiu assim:
"Nisso eu sou especialista e já basta um".
Jornal do Brasil, domingo, 17 de julho de 1988
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