quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

05.04.1988 - Confronto entre os bicheiros e a Polícia Civil



Confronto entre os bicheiros e a Polícia Civil

Os bicheiros acusam o delegado Clóvis Martins de estar brigando com o governador, por causa de salários, e fazem a advertência: "Ele (Clóvis Martins) é o que menos deveria falar, porque recebe dinheiro mensalmente dos bicheiros". O delegado também adverte: "Nós vamos prender quem for apanhado em flagrante".

Bicheiros não temem prisão, garante Pinho.

A informação de que a Polícia Civil iria dar início a uma campanha de repressão ao jogo do bicho fez com que os maiores bicheiros de Belém se reunissem, ontem, para tomar um posicionamento. A repressão ao jogo, de acordo com os bicheiros, será uma atitude isolada do delegado Clóvis Martins, "que comunicou pessoalmente a intenção de nos prender". Segundo João Bosco Moysés, da banca JB, a repressão aos banqueiros do bicho (que mantêm um acordo com o Governo do Estado) é uma "maneira de protestar contra o governo", por questões salariais. Bosco Moysés informou que a paralisação do jogo do bicho poderá deixar cerca de 50 mil pessoas desempregadas e vai representar, também, o fim da contribuição de Cz$ 1 milhão e 600 mil mensais ao governo, que são repassados para instituições filantrópicas, creches e asilos.

A reunião teve início às 17 horas e contou com a presença de João Bosco Moysés (JB), Miguel Pinho e José Alencar (Estrela do Norte), Mário Couto (A Favorita), Waldemar Soares (A Preferida), Francisco Euclides (Bonanza), José Natanael Macedo (Grupo de Ouro), Pedro Biriba (Marajó) e Doriberto (Águia da Sorte). Miguel Pinho disse que os bicheiros têm organizado reuniões há uma semana, desde que o delegado Clóvis Martins comunicou a intenção de reprimir o jogo. "Ele avisou a cada um dos bicheiros, anunciando para hoje (ontem) o estouro das fortalezas, onde se faz a apuração da renda", disse Pinho.

Ontem, segundo Pinho, metade das atividades do bicho estiveram paradas, em função das ameaças de repressão, representando prejuízo de cerca de Cz$ 4 milhões. Muitos cambistas trabalharam num clima de expectativa, temendo apreensões. "Nossa preocupação não é com prisões, porque nós não temos medo de ser presos. Nossa preocupação é com a sociedade, pois 50 mil pessoas poderão ficar sem emprego", assinalou Pinho, destacando que "o Clóvis está querendo brigar com o governador porque nós estamos autorizados a trabalhar, e nós nada temos contra os delegado".

Os banqueiros do bicho chegaram a pensar em impetrar um habeas corpus preventivo, mas acabaram decidindo apenas pela contratação de um advogado para defender seus interesses. "O delegado Clóvis é o que menos deveria falar, porque recebe dinheiro mensalmente dos bicheiros", disse Bosco, apoiado por todos os banqueiros do bicho. Bosco destacou, ainda, que os bicheiros esperam que um deputado solicite a instalação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para "apurar o relacionamento do delegado Clóvis Martins com os bicheiros".

O LIBERAL, Belém, terça-feira, 5 de abril de 1988

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