segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

13.10.1977 - Geisel demite Frota; Bethlem, é o ministro



Geisel demite Frota; Bethlem, é o ministro 


O presidente Ernesto Geisel exonerou ontem das funções de ministro do Exército o general Sylvio Frota, nomeando para o cargo o general Fernando Belfort Bethlem, que vinha comandando o III Exército, sediado em Porto Alegre. A medida de Geisel foi anunciada às 12 e 30 pelo chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, general Hugo de Abreu, que leu aos jornalistas credenciados no Palácio do Planalto uma nota oficial de cerca de 100 palavras, na qual o governo procura caracterizar a demissão de Frota como "uma decisão de caráter pessoal, sem qualquer vinculação como problema político da sucessão presidencial". A nota diz: "No sentido de evitar explorações e malentendidos, o presidente da República manda reafirmar a informação já fornecida, mais de uma vez, de que nunca autorizou qualquer gestão focalizando nomes de futuros candidatos. Considera as especulações que, se fazem sobre o assunto prejudiciais aos interesses do País, pretendendo tratar do problema somente a partir de janeiro de 1978".
O general Fernando Belfort Bethlem tomou posse no cargo de ministro do Exército às 16 horas, em solenidade no Palácio do Planalto, e às 19 e 30, no Quartel-General do Exército, recebeu o cargo de Sylvio Frota. Todos os generais-comandantes de Exército estiveram durante o dia de ontem em Brasília.

A nota de despedida, longa e contundente

Uma hora antes que o Palácio do Planalto anunciasse oficialmente a exoneração do general Sylvio Frota, o Ministério do Exército divulgava uma longa (3.700 palavras) e contundente "nota à imprensa"; na qual o ex-ministro faz graves acusações ao governo federal, afirmando, entre outras coisas, que o regime está hoje "muito debilitado pela acomodada tolerância com os grupos reacionários e subversivos". O ex-ministro vai além, dizendo que "a deformação e o abandono dos objetivos da revolução tornaram-se patentes" e cita posições diplomáticas e políticas que interpreta como "desajustadas da conduta revolucionária". Sylvio Frota acusou ainda o governo de manter 97 comunistas militantes "nos escalões de assessoramento e de direção" e fez um relato do diálogo que manteve pela manhã com o presidente Ernesto Geisel.

Gen. Bethlem defende a vigilância constante

O novo ministro do Exército, general Fernando Belfort Bethlem, tem 63 anos de idade e, antes de assumir o comando do III Exército em Porto Alegre, foi comandante do Comando Militar da Amazônia e da 12ª Região Militar. Suas posições políticas podem ser definidas por algumas afirmações feitas por ele, como em janeiro deste ano, em Curitiba, quando disse que "a situação no Sul é muito calma, o que não significa que o Exército tenha deixado de ser vigilante, pois os partidos comunistas estão agindo em todo o mundo e não posso afirmar que não estejam no Brasil".

Surpresa e silêncio marcam as reações

Surpresos e em silêncio: foi assim que reagiram praticamente todos os setores nacionais à notícia da demissão, ontem, do general Sylvio Preta. Tanto os parlamentares arenistas como os emedebistas insistiam em interpretar a substituição ministerial como um ato de competência exclusiva do presidente da República, embora alguns oposicionistas definissem o lato como "um dado novo a demonstrar que o presidente Geisel tem força", segundo declarou o presidente do MDB no Rio Grande do Sul, deputado Pedro Simon. O deputado Marcelo Linhares renunciou ontem ao posto de vice-líder do governo: na última sexta-feira, Linhares acusou a cúpula da Arena de tentar minimizar a influência do Alto Comando das Forças Armadas no processo sucessório. 
Páginas 3 a 14 

Mata-se em. Cuba filha de Allende 

HAVANA — Beatriz Allende, filha do ex-presidente chileno Salvador Allende, matou-se na madrugada de terça-feira, em sua residência na capital cubana, informou ontem um comunicado do governo de Havana. A nota oficial diz que Beatriz "se privou da vida com arma de fogo".

Segundo o comunicado, Beatriz foi levada ao suicídio "pelas feridas psicológicas que recebeu no dia II de setembro de 1973", quando foi derrubado o regime de Allende. "Desde a morte do presidente constitucional chileno — acrescenta —, Beatriz achava-se em estado de depressão e mostrou profundo pesar por não ter caído em Combate no Palácio de la Moneda, onde morreu Allende."

Carter faz elogio a israelenses 

WASHINGTON — O presidente Jimmy Carter elogiou ontem a decisão do governo israelense de aprovar a proposta norte-americana para a reconvocação da Conferência de Genebra sobre o Oriente Médio, mas salientou que não se trata de "uma decisão final". E explicou: "Não é uma decisão final, porque ainda não conhecemos as preocupações particulares dos israelenses e também porque devemos manter consultas constantes com os árabes". Carter disse ainda que o Líbano será convidado a participar das negociações de Paz. O porta-voz do Departamento de Estado, Hodding Carter, declarou que "muitos pormenores continuam pendentes no plano de paz, inclusive a questão da representação dos palestinos" em Genebra.
Página 20

A Nigéria apóia luta na África


WASHINGTON — No encontro que manteve ontem com o presidente Jimmy Carter, o general Olusegun Obasanjo, chefe de Estado da Nigéria, justificou a luta armada por parte da maioria negra da Africa Meridional, afirmando que os regimes minoritários brancos jamais entregaram o poder voluntariamente. Segundo Obasanjo, "em nenhum lugar do mundo a justiça e os direitos humanos fundamentais são pisoteados impudica e sistematicamente como nesta parte do continente".

O líder africano deixou claro também que negociações pacificas só podem ser realizadas em uma atmosfera de lealdade e de Confiança e que, por não inspirarem confiança, nem Vorster nem Smith podem negociar de maneira realista a liquidação do apartheid. Carter não fez nenhuma referência direta à Rodésia ou à Africa do Sul, embora não tenha poupado elogios ao visitante, chegando a chamá-lo de "conselheiro" de seu governo para alguns assuntos africanos.

Enquanto isso, em Uganda, o presidente vitalício Idi Arbin Dada lançava sua "última advertência" ao governo do Quênia: ou Jomo Kenyatta silencia os dois principais jornais de Nairóbi que fazem "propaganda maliciosa" contra Kampala ou ele, Amin, ordenará que seu Esquadrão Suicida — provido de Migs soviéticos — bombardeie e destrua as sedes de ambos os jornais. Na ameaça, o ditador ugandense incluiu também, porto queniano de Mombasa, no Oceano indico. As Forças Armadas de Uganda são integradas por 20 mil homens e dotadas de sofisticado material bélico fornecido pela União Soviética e pela Líbia. As Forças Armadas do Quênia não chegam a ter oito mil homem e seu material bélico, além de escasso, é bastante antiquado.
Página 16

Déficit com o exterior será menor este ano 
Das sucursais 

O déficit em conta corrente do Brasil (saldo do comércio exterior mais serviços) este ano foi estimado em US$ 4 bilhões por técnicos da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, resultado tido como satisfatório, se comparado com o de 1976, quando o déficit chegou a US$ 6 bilhões. Os técnicos esperam um superávit na balança comercial, mesmo que nos três últimos meses do ano venham a ocorrer pequenos déficits. Se a previsão for confirmada, será a primeira vez, em sete anos, que a balança comercial apresenta resultado positivo, porque o saldo de US$ 7 milhões obtido em 1973 não é levado em conta, por ser Inexpressivo.

Os técnicos da Secretaria de Planejamento também prevêem que a partir deste ano o comportamento da balança comercial voltará aos padrões da década de 60, com pequenos superávits e menor entrada de empréstimos em moeda para saldar compromissos da dívida externa.

O economiata Affonso Celso Pastore, coordenador de pesquisas da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, disse em São Paulo que o governo brasileiro terá de buscar alternativas para reduzir o custo das importações e mudar seu esquema de incentivo às exportações. "Isso — disse — se quiser ficar no modelo exportador. Caso contrário, fica como está." Defendeu ainda o apoio à exportação de serviços, como engenharia, porque propiciará a exportação de equipamentos.
Página 32

Contas de 75 da Vasp aprovadas por um voto

O Tribunal de Contas do Estado aprovou ontem, por três votos contra dois, as contas da Vasp relativas ao exercício de 1975. Em sessão plenária pública, que se prolongou por três horas e foi presidida pelo conselheiro Nélson Marcondes do Amaral, votaram pela aprovação os conselheiros George Nogueira, relator do processo, e Oswaldo. Muller da Silva, além do substituto do conselheiro Júlio Arantes. Os dois votos contrários foram dados por Orlando Zancaner, que funcionou como revisor, e Nicolau Tuma.

Aécio Mennucci declarou-se impedido de votar por se ter manifestado no processo como secretário diretor-geral, antes de sua nomeação para o cargo de conselheiro que hoje exerce. Nicolau Tuma propôs, como preliminar, que se encaminhassem os autos ao governador do Estado, para que este providenciasse informações destinadas a complementar a instrução do processo — que na sua opinião tem lacunas e é inconclusivo — e, se fosse o caso, a apurar responsabilidades. Por unanimidade, a proposta foi rejeitada. Se aceita, o julgamento seria adiado. Em seus votos, Zancaner e Tuma declararam-se contrários às tentativas de privatização da Vasp, defendendo sua preservação como sociedade de economia mista. O conselheiro George Nogueira implicitamente manifestou também essa posição, ao fazer o elogio da Vasp como empresa. Ainda ontem, o advogado Paulo Cardoso de Siqueira propôs ação popular contra cinco diretores da Vasp, alegando que eles lesaram o patrimônio estadual em Cr$ 24,2 milhões. 
Página 22 

Coríntians e Ponte, a decisão 

O campeão paulista de 1977 será conhecido hoje, no Morumbi, em 90 ou 120 minutos de futebol, qualquer que seja o resultado da terceira partida entre o Coríntians e a Ponte Preta e da eventual prorrogação. Desta vez, caiu o interesse de outros Estados e a vitória da Ponte Preta, no último jogo, também fez com que a torcida do Coríntians passasse a limitar a sua euforia nas ruas de São Paulo, embora a cidade volte a ter um dia todo voltado ao futebol. O Coríntians, que luta há 22 anos para conquistar um título, poderá contar com o seu jogador mais caro, Palhinha, apesar dos mistérios do técnico Osvaldo Brandão, e a Ponte Preta mostra esperança de ser campeã paulista pela primeira vez em sua história.

Nos bastidores, a luta continua bastante intensa: enquanto o presidente da Ponte Preta, Lauro Moraes Filho, visitava ontem o secretário da Segurança Pública, coronel Antônio Erasmo Dias, a fim de solicitar à polícia uma proteção especial para a torcida do seu clube, o presidente do Coríntians, Vicente Mateus, novamente pedia entusiasmo aos seus torcedores. E os dois dirigente fazem acusações mútuas, afirmando que o clube adversário possui um plano para invadir o campo ou apagar os refletores se estiver em desvantagem na partida. Entretanto, está previsto um esquema bastante rígido para o policiamento do estádio.

O time que vencer no tempo regulamentar já será campeão, mas, se houver empate nos 90 minutos, o juiz Dulcídio Vanderlei Boschilia dirigirá uma prorrogação de 30 minutos. Persistindo o empate, o Coríntians será declarado campeão, por ter obtido maior número de vitórias — 26, contra 23 da Ponte — em todo o campeonato. A Ponte, porém, alega que o regulamento é falho e que não disputará a prorrogação, apesar das ameaças da Federação Paulista de Futebol.
Páginas 28, 29 e última

O Estado de São Paulo, São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1977

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