quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

01.11.1992 - Petrobrás na busca de Ulysses



Petrobrás na busca de Ulysses

No dia 15 de outubro, o navio Astro Garoupa, afretado pela Petrobrás, recebeu uma tarefa completamente inesperada: ajudar a procurar o corpo do deputado Ulysses Guimarães, desaparecido desde o dia 11, quando o helicóptero em que viajava caiu no litoral de Parati. Com Ulysses estavam o ex-senador Severo Gomes, suas esposas, Mora e Henriqueta, e o piloto Jorge Comeratto, cujos corpos já foram encontrados.

A Aeronáutica e a Marinha haviam montado uma base de operações no Condomínio das Laranjeiras, a 25 quilômetros de Parati, na praia do mesmo nome. Perto dali, teria caído o helicóptero, que tinha saído do Hotel Portogalo, em Angra dos Reis, no quilômetro 71 da Estrada Rio-Santos, no dia 11, à tarde. Pescadores viram a aeronave passar na altura das enseadas de Laranjeiras e Trindade e se perder nas nuvens, que encobriam as montanhas. Do outro lado, vindo do oceano, uma chuva de granizo se aproximava do helicóptero, que ainda foi visto tentando retornar em direção a Angra dos Reis.

Da base montada no condomínio, os helicópteros decolam e aterrissam continuamente. Navios da Marinha de Guerra, da Defesa Civil do estado de São Paulo e da Petrobrás também chegam até a base. Pequenas embarcações fazem o serviço de embarque e desembarque das tripulações.

O Condomínio Laranjeiras

Construído no final dos anos 70, o condomínio surpreende pela beleza e requinte. O acesso é difícil: chega-se até ele depois de percorrer 17 quilômetros da Rio-Santos (direção Parati-Ubatuba). Daí, são mais seis quilômetros de asfalto pela montanha até a entrada do condomínio, onde uma barreira impede a entrada de estranhos. Sem identificação de proprietário ou autorização expressa pelo próprio, não adianta tentar. Após mais dois quilômetros de descida deixando para trás a mata preservada, começam a surgir as casas, áreas verdes e jardins por todas as partes. De um lado, a montanha intacta. Do outro, o mar, de um azul esverdeado, límpido e calmo. Não existem muros. Os terrenos são separados por demarcações invisíveis. Nas áreas verdes comuns, passeiam patos e aves marinhas.

Centro náutico, píer para atracação de barcos, restaurante, lago, usina de força e estação de tratamento de água dão ao condomínio um toque especial ao local.

O dia-a-dia da procura

Nem dia, nem noite, nem hora. Os técnicos trabalham sem parar com uma só determinação: encontrar os destroços do helicóptero e o corpo do doutor Ulysses. Os dias 24 e 25 de outubro são de trabalho intenso. A montagem do robô e dos equipamentos adicionais tem início no dia 23, às 20 horas, no porto de Angra dos Reis. Os trabalhos só terminam às 3 horas do dia seguinte. Às 5 horas, o navio já se dirigia para uma locação defronte à enseada das Laranjeiras, onde tinham sido detectados alguns indícios do que poderia ser o helicóptero procurado. As 11 horas, começa o trabalho de posicionamento do navio e dos equipamentos. A visibilidade no fundo do mar é péssima. Os mergulhadores da Defesa Civil e da Marinha são avisados. As 13 horas, o robô é jogado ao mar. Por volta das 18 horas, ele é retirado, sem encontrar indícios dos destroços do helicóptero. 

Os serviços prosseguem noite adentro. O Sonar – também conhecido como peixe – faz uma varredura da região próxima ao local. No dia 25, pela manhã, o robô é lançado num ponto de interesse situado a cerca de quatro quilômetros da costa, em frente à enseada da Trindade. Nada é encontrado. À tarde, o navio ruma em direção à ilha das Laranjeiras, perto da qual o magnetômetro (detector de metal) de uma embarcação havia localizado algo estranho.

A expectativa é grande, pois a ilha das Laranjeiras, de formação rochosa, é muito elevada, e o helicóptero poderia ter se chocado contra ela. Após o posicionamento, o robô é jogado ao mar em vários pontos do local. São encontradas formações rochosas no fundo do mar, e o robô é recolhido. Já é noite. A varredura com o Sonar vai recomeçar. Ele irá trabalhar numa área ainda maior e, quando detectar um corpo estranho, será a hora do robô.

A tripulação não pára, pois o navio se desloca permanentemente. Os técnicos se movimentam, ora discutindo o sistema de posicionamento, ora se preparando para lançar ou içar os equipamentos, além de realizar os trabalhos de manutenção. Se os destroços do helicóptero ou o corpo do doutor Ulysses não forem encontrados, é porque o destino assim o quis. Não faltam determinação nem paciência naquelas duas dezenas de homens encarregados de achar o corpo do deputado e que parecem seguir as sábias palavras do doutor Ulysses. Afinal, foi ele quem disse: "A impaciência é uma das faces da estupidez".

Astro Garoupa - um navio de pesquisa 

O navio Astro Garoupa, construído em 1987, foi afretado pela Petrobrás em julho do ano passado, para realizar levantamento completo da fauna, flora, geologia do solo e correntes marinhas da Bacia de Campos, até a profundidade de 1.500 metros. Esse trabalho ajudará a Companhia no gerenciamento ambiental de novos empreendimentos previstos para a principal área produtora de petróleo do País.

Equipado com laboratórios, sistemas de radioposiciosamento, guinchos oceanográficos, ecossondas e outros instrumentos, o navio pode receber até 17 pessoas, além de sua tripulação normal, que é de 11 homens. O navio recebeu ainda outros equipamentos para dar início à tentativa de encontrar o corpo do deputado Ulysses Guimarães.

No começo, os técnicos introduziram a bordo o Side Scan Sonar (varredura lateral), que possui um sensor que vai sendo rebocado pelo navio. Esse sensor possui dois feixes, que, emitidos à direita e à esquerda, fazem uma varredura do fundo do oceano e geram um registro semelhante a uma fotografia.

Depois que o Sonar determina os pontos de interesse, marcam-se as coordenadas e, a partir daí, um outro equipamento entra em cena: é o ROV Achille, de fabricação francesa, montado no Brasil, que é um robô submarino operado por controle remoto. Lançado ao mar, ele segue em busca do ponto determinado pelo Sonar. A bordo, o monitor de vídeo vai registrando as imagens mandadas pela câmera de tevê do robô. O navio recebeu, também, um sistema de posicionamento por satélite, denominado GPS (Global Positioning System), que estabelece o ponto exato para posicionar a embarcação. Como o sistema apresenta certa margem de erro, optou-se por montar uma estação de 
referência em coordenadas conhecidas em terra, em Ubatuba, cujo objetivo é corrigir a margem de erro existente na estação móvel que está no navio. A estação de terra manda o sinal corrigido para o equipamento a bordo, eliminando essa distorção. Essa técnica é denominada DGPS (GPS dinâmico). 

O trabalho de cada um

Joaci Crisóstomo de Souza, técnico de geodésia do Desud, 14 anos na Companhia, é o representante da Petrobrás e supervisor dos trabalhos, que não abandonou o navio desde o primeiro dia de busca.

Além dele, o técnico de geodésia Ruy Dantas Guimarães, 14 anos de Petrobrás, acompanha e supervisiona os trabalhos, ora a bordo, ora em terra, em contato com representantes da Marinha, Defesa Civil e Aeronáutica, e coordenando as instalações da estação de referência em terra (sistema de posicionamento por satélite).

Fernando Gonçalves Ribeiro, comandante do Astro Garoupa, 23 anos no mar, já está há um ano na embarcação, desde o início do levantamento do perfil ambiental da região, tendo dez pessoas sob seu comando: um imediato, três mecânicos, três marinheiros, dois taifeiros e um cozinheiro.

Cinco outros técnicos, contratados pela Petrobrás, são responsáveis pelas operações do Sonar e pelo GPS: Fernando Albuquerque, geólogo e coordenador; Sérgio Bezerra, cartógrafo; Evandro Pereira de Oliveira, engenheiro eletrônico; Paulo Roberto Chagas, técnico em eletrônica, e Carlos Thurler, operador. Operam o robô os técnicos em eletrônica Luís Silvério Paredes Camus e Maxwel Sidnei de Souza, também contratados. 

JORNAL PETROBRÁS, outubro e novembro de 1992

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