segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

24.12.1998 - 'Eu demito', diz FHC sobre aliado que votar contra




'Eu demito', diz FHC sobre aliado que votar contra

da sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso reafirmou ontem, de forma mais clara, a disposição de demitir ministros cujos partidos votem contra o governo em "matérias fundamentais para o Brasil", como o ajuste fiscal. "Claro que eu demito".


Antes, FHC chegou a dizer que o país estava cansado de "um certo estilo" de relacionamento entre o governo e o Congresso - o que ele exercitou nos quatro anos do seu primeiro mandato. "Eu também cansei", disse, enquanto explicava que insistirá na aprovação da medida que eleva as contribuições previdenciárias de ativos, inativos e pensionistas da União.


"Que não se espere que exista no Palácio do Planalto a disposição de fazer nomeações ou isto ou aquilo para que se vote. Nomeações serão feitas e levarão em consideração o conjunto das políticas e as necessidades do país, mas acho que o Brasil cansou de um certo estilo, eu também cansei."


As declarações foram feitas na entrevista na qual FHC anunciou o ministério de seu segundo mandato. Em diferentes momentos, o presidente jogou para os partidos a responsabilidade pela volta do crescimento da economia. "Quem não estiver a favor do ajuste fiscal está dificultando a baixa dos juros e o desenvolvimento do Brasil. O ajuste fiscal é um compromisso fundamental, não há objeção de consciência nessa matéria."

Para o presidente, é uma consequência natural demitir ministros de partidos que não deem os votos necessários. "Espero que os partidos que têm ministros, e também os que não têm, votem pelo Brasil, mas os que têm ministros com mais forte razão, não há o que explique não ter voto estando no governo, então, claro que demito."


FHC também assumiu a responsabilidade pela equipe que está nomeando para o segundo mandato.


"Há ministros que são diretamente ligados a partidos políticos, outros que são técnicos, uns que são de escolha diretamente minha. Todos são referendados por mim, ninguém foi indicado diretamente por um partido sem que eu tivesse pedido alternativas e analisado, são pessoas da minha confiança", disse FHC.


Trabalho solitário

Ao se referir às discussões e lutas pelo poder, disse que trabalhou solitariamente na escolha da equipe, "quase no isolamento". FHC foi explícito ao dizer que caberá aos ministros a tarefa de fazer as articulações para que as medidas propostas pelo Planalto sejam aprovadas pelos parlamentares.

"Espero que os partidos que realmente apoiam o governo apoiem. E o modo de apoiar é votar no Congresso, além de trabalhar no governo. Então é óbvio que os ministros dos partidos são ministros responsáveis pelos resultados do governo no Congresso. O Brasil não espera que o presidente da República, nessa nova etapa, tenha de se ocupar tanto das relações com os partidos e das relações com o Congresso."


Mais tarde, quando falava sobre a necessidade das medidas relativas às contribuições previdenciárias, ele voltou ao tema.

"O mandato que o povo me conferiu foi para eu trabalhar na transformação do país, não foi para ocupar demasiado meu tempo para convencer as pessoas daquilo que é óbvio que elas já devem estar convencidas."

Em outro momento, afirmou: "Fui incansável na busca dessa compreensão, e as coisas avançaram, acho que hoje já não é necessário tanta pregação da minha parte, e os ministros podem diretamente fazê-lo."

O presidente defendeu também rapidez na aprovação das medidas e disse que os regimentos internos do Legislativos eram "morosos".

Folha de São Paulo, São Paulo, quinta-feira, 24 de dezembro de 1998

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