sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

31.07.2001 - Não era bicho, era homem



Não era bicho, era homem
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MARIA FLAVIA WERLANG

"Vi ontem um bicho, na imundície do pátio, catando comida entre os detritos (...) O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem." O poema "O bicho", de Manuel Bandeira, foi escrito há 54 anos. A cena que descreve repetiu-se ontem em Irajá, Zona Norte do Rio. Umas 1.000 pessoas cavavam com mãos e pás os escombros do incêndio que, no último dia 21, destruiu o pavilhão 41 da Ceasa. Para pegar sacos de arroz e latas de óleo muitos atravessaram um pirão de lama que as chuvas do fim de semana deixaram no lugar, rasgaram as roupas, deixaram sapatos no caminho. Na corrida pela comida, teve até quem se machucasse. "O importante é que amanhã o arranhão vai estar sequinho e eu vou ter arroz e feijão na panela", disse Cristiane Nascimento, de 28 anos, desempregada, moradora de Acari. Cristiane ficou feliz com o que conseguiu pegar, o suficiente para alimentar a ela e a filha, Pamela, de 10 anos: "Esta comida dá para um ano. Tem até Leite Moça, vai dar para fazer pudim." Sob o olhar indulgente de policiais, moradores de favelas próximas recolhiam alimentos que a Vigilância Sanitária já decretou que estão impróprios para o consumo pelo tempo que ficaram expostos, sem conservação. (Continua na pág. 20) 

Câmara vai apurar farra de deputados 
Corregedor quer saber se houve fraude 

A Câmara dos Deputados vai investigar as notas fiscais apresentadas por parlamentares para justificar despesas extras de até R$ 7.000. O corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB-GO), pedirá que sejam investigados gastos com aluguéis de imóveis de parentes e transporte de eleitores, alguns dos abusos revelados por reportagem do Jornal do Brasil no domingo. Se ficar comprovada fraude nas notas, o parlamentar terá de devolver o dinheiro e a punição pode chegar à cassação do mandato. Os deputados têm direito a apresentar notas de até R$ 7.000 para justificar gastos com manutenção de escritórios em seus estados e transporte. A verba extra, uma promessa de campanha do deputado Aécio Neves, vai ser discutida pela Mesa Diretora da Câmara na próxima reunião. Já o vice-líder do PFL na Câmara, Pauderney Avelino, prefere liberar o uso da verba: "Isso ainda vai dar muito problema. Temos de assumir logo que é salário e pronto", disse. (Pág. 4) 

RICARDO BOECHAT 
INFORME JB 

Ex-sogro é fogo

Pode não ser fritura. Mas tem toda a pinta. A Polícia Federal removeu a equipe que dava segurança a David Zylbersztajn, diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo. O carro que ele mandou blindar para seu uso no Rio também foi retirado de serviço. Se o Planalto não der uma demonstração pública de que Zylbersztajn continua prestigiado, seus amigos apostam que ele se demitirá bem antes do fim do ano, quando pretendia voltar à iniciativa privada. (Página 6) 

JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro, terça-feira, 31 de julho de 2001

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